5. Bilhetes

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Sarah

Encarei meu dever de história com frustração. Não pelo assunto, que eu adorava (Era Vargas, baby!), ou pelas questões, que eu já havia terminado. Na verdade, a razão das minhas frustrações era a peça.

Estávamos no começo de maio e eu não tinha nem metade das coisas prontas. Como eu queria ser muito fiel à maravilhosa obra de José de Alencar, fiz uma pesquisa aprofundada sobre a época e passei três dias debatendo com Melina, nossa figurinista, sobre cada roupa, principalmente o vestido de noiva. Na verdade, eu estava meio obcecada pelo vestido, queria que ele fosse simplesmente perfeito. E o figurino foi apenas uma das minhas preocupações, porque o cenário também demandava minha atenção.

Por causa disso, não consegui entregar a peça em maio, mês em que ela tradicionalmente acontecia. Acabei tendo que adiá-la para agosto, pois junho era mês de provas e julho, de férias. A parte boa era que eu teria bastante tempo para deixar tudo perfeitinho, a ruim era ter que ouvir as gracinhas de Laura.

– Se eu ainda fosse a presidente do clube, a peça seria em maio. – Ela dissera, quando apresentei a proposta para a turma, numa assembleia convocada com os formandos.

Respirei fundo para me acalmar. Eu estava me sentindo mal por não conseguir fazer a peça no prazo, estava mega estressada e de TPM, então eu não tinha a mínima paciência para lidar com uma mimadinha como ela.

– Laura, querida, se você ainda fosse a presidente, a peça seria Romeu e Julieta, a mesma do ano passado. Ou seja, você já teria o figurino, o cenário e quiçá até os atores. Eu, por outro lado, tive que começar do zero. E se você acha que é fácil adaptar o roteiro de um livro, dirigir as cenas da peça, decorar as falas da protagonista e ainda coordenar todo o espetáculo, criando figurinos fidedignos e um cenário impecável que retrate a corte fluminense do século XIX em apenas um mês, tente! – Explodi.

Cada um dos presentes me encarou boquiaberto. Eles não estavam acostumados a me ver tão estressada, nem mesmo quando eu dava broncas por causa da peça. Respirei fundo novamente, inspirando e expirando devagar. Pensei em coisas fofinhas, como o Happy de Fairy Tail*, o Honey-Kun* de Ouran High School Host Club, e o Kero* de Sakura Card Captors. Esse tipo de coisa sempre me acalmava, porque eles eram tão fofinhos que não tinha como ficar triste pensando neles.

Percebendo como eu estava perturbada, Tom se levantou e me deu um abraço de urso, daqueles que esmagam e me fazem dar uma risada. Assim, lentamente e a muito custo, consegui encontrar minha paz.

– Tá mais calma, Camille? – Ele perguntou, sorrindo.

Assenti e deu uma tapinha no ombro dele.

– Volta para o seu lugar, Roberto. – Falei, também sorrindo.

O restante do pessoal ficou nos encarando sem entender nada, o que só alargou o meu sorriso.

Aquele era dos meus lances com Tom. Sempre que ele me chamasse pelo meu segundo nome, eu o chamaria pelo dele. Na maioria das vezes, usávamos esse recurso para acalmar um ao outro, ou para brigar. Mas para brigar era bem mais útil dizer o nome completo, então, com o tempo, os segundos nomes viraram apelidos calmantes. Não sei, mas o jeito como o Tom tentava pronunciar meu nome em francês era muito engraçado, ficava parecendo o nome daquela marca de arroz "Camil".

Voltando para a assembleia, expliquei às turmas detalhadamente os próximos passos para a peça e apresentei o balanço dos nossos gastos. No final, todo mundo aprovou nosso orçamento e minhas ideias, o que me deixou bastante animada. Mas o olhar assassino de Laura meio que me incomodou.

Tom & SarahOnde histórias criam vida. Descubra agora