7. Outra nerd no pedaço

407 40 3
                                    


Sarah

Na sexta-feira, três dias após sua chegada, Jéssica decidiu que estava entediada. Disse que não queria passar mais uma manhã sozinha no apartamento, esperando por mim, então resolveu me acompanhar até a escola.

– Jess, isso é loucura! Você está de férias e férias significam não ter que ir à escola. – Zombei, quando ela comunicou sua decisão no café-da-manhã.

Ela estava completamente vestida. Os cabelos castanhos estavam presos num rabo de cavalo perfeitamente alinhado e ela usava uma calça jeans clara com uma linda blusinha azul de mangas, que, segundo ela, era a roupa mais parecida com o uniforme da escola que ela tinha. Até os charmosos óculos vermelhos ela colocou, porque disse que não dava para ir à escola usando lentes de contato, já que isso estragaria o seu visual nerd chic.

– Sim, eu estou de férias, e isso quer dizer que eu mereço mais do que ficar morrendo de tédio aqui. Tem ideia de quantos documentários eu assisti esses dias? Sabe, nem assistir a O Fabuloso Destino de Amélie Poulain* tem me animado. – Ela dramatizou. Jéssica adorava esse filme. Achava-o simples, mas de uma beleza que só o cinema francês conseguia produzir.

Papai, que já estava passando Nutella no pão freneticamente, deu uma risadinha, mostrando que mesmo no seu estado de frenesi por causa do creme de avelã ele ainda estava atento à conversa.

– Ora, Sarah, se ela quer ir à escola, então que ela vá. Não vejo nenhum problema nisso. – Disse ele, levando a fatia de pão à boca e dando um gemido de prazer quando sentiu o delicioso sabor da sua amada Nutella.

Revirei os olhos e me voltei para mamãe, em busca de apoio. Mas para a minha total decepção, ela concordou com papai.

– Tenho certeza de que basta uma ligação para a diretora, explicando a situação, que ela libera a entrada da Jéssica no colégio. Acho que vai fazer bem a ela respirar os ares de uma escola brasileira depois de tantos anos. Não é mesmo, Jéssica? – Ela disse.

Depois dessa nem me atrevi a pedir apoio a Clarinha, que apenas se limitou a dar uma risadinha baixa, demonstrando seu divertimento com a situação.

Então mais ou menos meia hora depois, lá estava eu adentrando os portões do Colégio João Baptista com Jéssica no meu encalço. Ela olhava maravilhada para os estudantes, estranhando os uniformes e as fofocas pelo caminho – porque é claro que a presença de Jéssica acabou gerando um burburinho.

Quando chegamos à sala de aula, Jéssica sentou logo atrás de mim, justo no lugar onde Tom costumava sentar. Balancei a cabeça e lhe lancei um olhar de reprovação.

– É melhor você não sentar aí. – Falei.

– E por quê? – Ela perguntou.

Abri a boca para responder, mas fui interrompida pela voz irritada de ninguém mais ninguém menos que próprio Tom.

– Porque esse aí é o meu lugar! – Ele bradou, cruzando os braços e fuzilando Jéssica com o olhar.

Ela sorriu inocentemente.

– É mesmo? Não tem o seu nome escrito. – Disse sarcasticamente.

Tom cerrou os punhos, mas antes de dizer alguma bobagem, se voltou para mim, como se buscasse apoio. Dei um longo suspiro e levantei da minha carteira, segurando o braço de Tom para demonstrar que naquela batalha eu estava ao seu lado, o que pareceu satisfazê-lo, porque ele me ofereceu um sorriso discreto que não passou despercebido aos olhos sagazes de Jéssica.

– Jess, Tom sempre senta aí desde o início do ano letivo. Não vamos começar uma briga, por favor? – Pedi.

Jéssica levou a mão à boca numa expressão muito ofendida e me encarou acusadoramente. Seus olhos alternavam entre me fuzilar e fuzilar Tom, como se ela não soubesse qual dos dois matar primeiro.

Tom & SarahOnde histórias criam vida. Descubra agora