Tom & Sarah

6. Jéssica

Tom

Arregalei os olhos e encarei aquele ser minúsculo que sorria para mim de uma forma tão diabólica que se eu não estivesse tão puto, com certeza estaria com medo.

– Meu Deus, Jess! Nem acredito que você está aqui! – Disse Sarah, dando mais um abraço apertado naquela criatura das trevas.

Revirei os olhos. Eu simplesmente odiava Jéssica porque toda vez que ela aparecia monopolizava a atenção de Sarah. Quer dizer, nós estávamos prestes a começar uma discussão acalorada que terminaria com um abraço e um beijinho na testa, mas essa peste tinha que vir de Nova York e atrapalhar.

– Pode acreditar, my dear (minha querida)! Só não me belisca, porque minha pele é sensível. – Jéssica balançou a mão num gesto de desdém.

Sarah riu e eu revirei meus olhos novamente. Bufei, com raiva, chamando novamente a atenção daquela espertinha nariguda. Jéssica se voltou para mim, ainda sorrindo, e me encarou de queixo erguido. Se fosse qualquer outra pessoa, eu riria de tamanha audácia. Vê só se um smurf* consegue me encarar?! Logo eu que era praticamente um avatar*! Mas como aquela era Jéssica, limitei-me a cruzar os braços e sustentar seu olhar.

– E então, Tom, você está com ciúmes do bilhete ou não? – Ela disse, dando uma risadinha no fim, o que só me deixou ainda mais furioso.

– Eu não estou ciúmes! Deixa de ser intrometida, sua nariguda! – Mostrei a língua, me sentindo um pirralho ridículo logo em seguida.

Jéssica riu alto e se voltou para Sarah.

– E você ainda diz que ele é o seu melhor amigo. Convenhamos, Sarah, eu sou muito melhor! – Ela deu de ombros.

Cerrei os punhos e trinquei os dentes, com mais ódio ainda.

– O que você tá fazendo na minha casa, nanica? – Berrei.

Jéssica se limitou a suspirar dramaticamente e olhar para Sarah com uma carinha de cachorro sem dono, bem parecida com a que Tatiana havia feito apenas alguns minutos antes. Só que a carinha de cachorro sem dono de Tati era bem mais fofinha que a daquele hobbit.

– Eu peguei um voo de nove horas, chamei um Uber e apareci de mala e cuia na sua casa, porque eu sou uma excelente amiga e queria te surpreender. Mas quando cheguei, sua irmã me disse que você estava aqui. Como você faz uma coisa dessas comigo, Sarah Camille? – Ela apontou o dedo acusatoriamente.

Sarah estreitou os olhos e entortou os lábios, fungando de forma tão dramática quanto Jéssica. Tá, Sarah conseguia fazer isso de um jeito muito mais charmoso, encantador e fofinho que Jéssica. Essa a minha loirinha ganhava fácil. Mas eu sinceramente duvidava que Jéssica ou qualquer outra garota um dia conseguisse ser tão fofa quanto Sarah aos meus olhos.

– Desculpa, amiga! Eu não sabia que você estava chegando. – Ela choramingou.

Jéssica desfez a pose chorosa e abriu um sorrisinho arrogante. Deu outro abraço em Sarah, dessa vez um que demorou demais pro meu gosto. Odiava quando aquela smurf ficava cercando a minha amiga.

– Ah, Sarita! I missed you so much! (Senti tanta saudade!) Só queria fazer uma surpresa, desculpe. – Disse. – Agora me conta qual é o mais novo babado com esse admirador secreto, menina! Tô mega curiosa!

E com essas palavras ela iniciou uma longa e animada conversa, da qual eu fui totalmente excluído. Fiquei lá parado, encostado na parede, me sentindo um intruso dentro do meu próprio quarto. Era inacreditável que aquele ser ousasse aparecer na minha humilde residência e dominar o meu santuário, agindo como se fosse a dona do lugar. Aquela geninha metida de uma figa!