4. O Clube de Teatro

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Tom

O Colégio João Baptista podia não ser a Academia Santa Rosa, mas nós tínhamos um clube de teatro também. Só que infelizmente ele era patrocinado e controlado pela Laura e as amiguinhas dela.

Pra falar a verdade, como todo bom colégio de classe média, o meu oferecia uma vasta gama de atividades extracurriculares. Do futebol ao judô, passando pelo inglês, pelo balé e pela natação. Bem, basicamente era isso, com mais alguns esportes. Mas o Clube de Teatro era o queridinho das mocinhas, e dos rapazes sensíveis – vulgo gays estilo Kurt Hummel do Glee*, não que eu tenha algo contra, é bom deixar claro.

Ele havia sido criado uns dois anos antes de eu entrar para a escola e todo ano apresentava uma peça diferente em maio. Porque a danada da peça era em maio eu não fazia ideia, só sabia que praticamente todas as garotas do Ensino Médio disputavam avidamente um papel na peça. E, infelizmente, naquele ano Sarah estaria entre elas.

– Por que raios você quer estar na peça? É sempre uma droga! E eu fui forçado a assistir pelos últimos dois anos, porque minhas namoradas insistiam em participar. – Reclamei pelo telefone, esparramado na minha cama e encarando o teto com frustração.

Ouvi o suspiro profundo que Sarah deu do outro lado da linha.

– Thomas, eu sempre estive envolvida em diversas atividades extracurriculares e não vou me privar disso justo no último ano. Caso você tenha esquecido, isso conta pontos para Harvard. E eu não vou diminuir minhas chances de entrar lá. – Ela disse isso de um jeito tão sério que me senti um idiota por implicar.

Mas a verdade verdadeira era que eu estava tentando protegê-la da Laura. Como ela se achava a atriz hollywoodiana e o pai dela patrocinava o clube, Laura se sentia mais do que presidente, se achava dona. Tudo tinha que ser do jeito dela e blá-blá-blá. Talvez fosse por isso que a peça era uma droga. E se Sarah entrasse para o elenco, iria querer expor todo o seu perfeccionismo e transformar aquilo num sucesso, só que acabaria comprando briga com Laura e quando esta encrencava com alguém, a pessoa estava lascada.

Respirei fundo, tentando pensar numa alternativa plausível. Mas eu sabia que podia oferecer mil opções e ainda assim Sarah não desistiria, então, por hora, mudei de assunto.

– Como foi o TOEFL? – Perguntei e ouvi mais uma vez o som da respiração profunda dela.

– Sei que está tentando mudar de assunto, Thomas. E saiba que não vou desistir da peça. – Ela disse. – Mas, respondendo à sua pergunta, eu fui bem nos exames. Acredito que a prova mais difícil foi a de listening, pois havia palavras e sotaques muito estranhos, mas eu andei praticando pelo Skype com os amigos nova iorquinos da Jess, então foi tranquilo.

Abri um sorriso orgulhoso. Tinha certeza de ela conseguiria, mesmo com uma forcinha da chata número um do Brasil. Opa, do Brasil não, do mundo! Tipo, será que existe alguém mais chato que a Jéssica Torres Monteiro Reis? Acredito eu que não! Eita menininha insuportável! Mas falaremos dela mais tarde, quando vocês conhecerem a figura e entenderem meu tormento.

Sarah ficou em silêncio por um tempo e eu me concentrei no som da sua respiração suave. Chegava a ser estranho que aquele som tão simples me acalmasse da maneira que me acalmava. Quando dei por mim, estava sorrindo. E era muito estúpido estar deitado na minha cama, olhando para o teto, e sorrindo da maneira que eu estava.

– Tom? – Sarah chamou, quebrando o silêncio.

– Hum?

– Você sabe que pode entrar na peça também, não sabe?

Tom & SarahOnde histórias criam vida. Descubra agora