A fazenda

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_ Aninha!!!! Aninha!!! _ Filomena gritou pela décima vez e nada _ ohhh peste de menina, Aninhaaaaaa!!!!

A fazenda era imensa e a senhora já estava cansada de procurar.

Há quase meia hora saiu da sede, passou pelo riacho e agora estava no pomar.

Filomena trabalhava na fazenda desde mocinha. Hoje contava mais de sessenta anos. Foi ela quem cuidou da menina quando a mãe faleceu com uma doença do sangue, desenvolvendo um profundo amor pela garotinha chorosa e órfã de 3 anos.

O pai, um homem simples, nunca se casou de novo. Era sabido que Mariana foi o seu único amor. Anabelle cresceu com o amor e proteção de Pedro, Filomena e todos os empregados dali.

Apesar do mimo, não era uma adolescente geniosa, apenas apaixonada pela fazenda e tudo o que tinha nela. Sua bondade era exaltada por todos que a conhecia. Ela e o pai conviviam com os funcionários como se fossem uma grande família.

Filomena estudou pouco, mal aprendera a ler e escrever, quando largou a escola para se casar. Por quarenta anos foi muito feliz com o marido até que enviuvou há 5 anos. A vida não lhe deu filhos biológicos, mas ela tinha por Pedro e Anabelle um amor maternal.

Ao contrário de Filo que nutriu por anos o sonho de estudar, Ana fugia da mesma. Depois de receberem várias notificações da escola porque .vivia pulando o muro para voltar para a fazenda, Filomena conseguiu convencer Pedro a contratar tutores para a menina fujona. Em casa também não era fácil encontrar Ana quando chegava a hora das aulas.

Pai e filha eram muito parecidos. Suas vidas se resumiam aos animais e a terra. Filomena precisou apelar para todas as chantagens emocionais para que Aninha frequentasse aulas de etiqueta e línguas estrangeiras.

_ Anabelleeeeee!!! _ Filomena já estava desistindo quando ouviu o mato se mexer.

Ana chegou correndo. Os cabelos desgrenhados estavam presos em duas longas tranças nas costas. As bochechas  avermelhadas pela corrida e com manchas amareladas. Como sempre, os olhos verdes chamavam a atenção, eram curiosos e vibrantes.

_ Calma Filozinha, to chegando _ falou sorrindo e beijando a cabeça da senhora que era bem mais baixa do que ela.

_ Você esta suada, filha e... eca... fedendo _ Filomena ralhou olhando as botas e a calça da menina sujas _ onde você estava, sua peste?

_ A Castanha teve bezerrinho ontem, eu tive que entrar no barro para ajudar ele a sair e depois ensinei o bichinho a mamar _ explicou naturalmente, esfregando as botas na grama, tentando, inutilmente, diminuir a sujeira.

_ E não tem peão aqui para fazer isso, menina? _ perguntou a senhora rindo e puxando-a para a sede da fazenda _ e estas marcas amarelas na sua cara?

_ Eu estava comendo manga _ respondeu sorrindo _ até que ouvi uma maluca me chamando parecendo que o mundo estava acabando.

_ Quem é maluca, heim? _ questionou Filomena dando beliscões em Ana _ Ande logo, peste, sua professora de francês já chegou.

Anabelle bufou, mas seguiu Filó pelo caminho, era melhor não contrariar, senão era capaz de levar uns tapas da senhorinha. Seguiram sorrindo pelo caminho e se implicando.

_ Bon soir, Mlle Anabelle. Pardon... _ começou a professora, mas foi interrompida por Filomena.

_ Professora, vou levar esta menina para um banho e já trago de volta _ Filomena falou e puxou Ana pelas tranças escada acima.

As voltas do coração [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora