Tragédia

331 43 12
                                    

A semana transcorreu tensa. Anabelle circulava livremente pela fazenda, olhando tudo e falando com os empregados. O que deixava César e, principalmente, Flávia furiosos. Porém, aquela farsa ainda permanecia. Os três fingiam que não sabiam de nada, mas era questão de tempo até que tudo viesse a ruir.

César foi até seus contadores e iniciou um processo de venda de bens e resgate de investimentos. No entanto, isso demoraria dias e eles não sabiam se teriam todo este tempo antes de Ana lhes atacar.

Por outro lado, Ana falava constantemente com seus advogados que garantiram que no máximo até o final da semana o oficial de justiça bateria na fazenda para expulsar a família Baleroni. Ela se sentia feliz e ansiosa pelo momento. Com certeza estaria presente, ela queria vê-los saírem totalmente humilhados, melhor seria se fossem algemados e jogados em um camburão da polícia.

O único fio solto em todo o seu plano era André. Os sentimentos de Ana eram confusos a respeito dele. Ele merecia ser destruído, mas isto não lhe trazia felicidade.

André se isolou. Não fazia as refeições com a família. Saía logo cedo para sabe se lá onde e só voltava tarde da noite. Ele fazia questão de evitar Anabelle e não trocaram mais nenhuma palavra desde o dia em que ela o expulsou do quarto.

Era uma sexta-feira, nem bem tinha amanhecido e Ana já estava cavalgando por sua fazenda. Como sentia falta de respirar aquele cheiro. Como se o cavalo tivesse vontade própria ele a guiou até a cachoeira onde compartilhou momentos inesquecíveis com André.

Ana deixou o animal ali do lado. Tirou as botas e colocou os pés na água gelada, enquanto se sentava em uma das pedras. Um barulho lhe chamou a atenção e ela virou para ver assustada. Com alívio percebeu que era André.

_ Oi! 

_ Oi! _ respondeu ele a imitando, tirou as botas e sentou ao seu lado com os pés na água.

Não havia o que falar. Cada um se trancou em seu mundo. A presença do outro era gratificante e parecia bastar por enquanto.

_ Eu vou embora hoje a tarde _ falou André por fim.

Ana sentiu uma dor tão forte no peito que parou de respirar. Ele iria embora, mas não era isso que ela tanto queria? Ver-se livre de todos ali?

_ Para onde vai? _ questionou e sua voz não passava de um sussurro.

_ Vou para a capital arranjar um emprego. Acho que esta mais do que na hora de eu me virar. Nada daqui me pertence e eu não vou brigar pelo que não é meu por direito.

André não tornava as coisas mais fáceis. Ele parecia tão honesto e sincero que Ana acreditou nele. Acreditou que não era como os outros de sua família. Sem saber que palavras usar, apenas acenou com a cabeça.

_ Você vai expulsá-los, não vai? _ perguntou a olhando, mas sua voz não tinha nenhum toque de acusação.

_ Vou! _ respondeu e sem querer continuou, o ódio transbordando em cada palavra _ assim que o juiz assinar o despejo vou mandá-los embora só com a roupa do corpo.

Agora foi a vez de André não responder. Ele não tinha como questionar o que Ana iria fazer, tampouco pedir-lhe alguma clemência pela mãe e pelo padrasto.

_ Eu queria que fosse diferente... _ falou num murmurio

_ Eu também.

Sem que fosse planejado os dois se olharam. Talvez pela primeira vez se viram de verdade. Uma força fez com que se jogassem nos braços um do outro. Os lábios de um procurando o outro como se fosse mais urgente do que respirar.

As voltas do coração [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora