Horas antes, na fazenda, André esperou os pais saírem do seu quarto para pular a janela e correr em direção ao quarto que dividiria com Ana. À medida que ouvia o desenrolar dos planos de Flávia e César, André soube que não conseguiria participar.
Ele não era um assassino, tampouco deixaria que a vida de sua mulher, a sua doce Aninha, corresse perigo. A única saída que conseguiu pensar foi fingir que compactuava com tudo e depois fugir com Ana.
Quando chegou no quarto encontrou todas as bagagens ainda intactas. Achou estranho porque Aninha era extremamente organizada e cuidadosa com tudo. Procurou no banheiro e no restante da casa e não a encontrou. Questionou os funcionários e eles também não a tinham visto.
Ao passar pelo corredor observou que a porta do antigo quarto de Ana estava entreaberta. Seu coração acelerou com a esperança de vê-la ali, deitada na cama ou sentada na janela. O quarto estava vazio.
Um princípio de pânico lhe acometeu quando pensou que os pais já tivessem dado um jeito da sua mulher desaparecer. Quando ia sair do quarto viu um caderno sobre o travesseiro. Pegou-o e o coração gelou.
André, por que você fez isto? Como pôde destruir meu coração assim? Eu confiei e me entreguei e você me traiu da pior forma. Você me matou em vida. Não quero nunca mais ver nenhum de vocês. Eu não imaginei que você pudesse me levar ao céu e me jogar no inferno. Eu odeio todos vocês, eu odeio você.
Em várias palavras, a tinta estava borrada e ele sentiu o coração doer ao perceber que as lágrimas de Ana tinham caído ali.
André colocou as mãos nos cabelos e os puxou freneticamente. Ela tinha ouvido a conversa e fora embora. Rasgou a folha e a dobrou de qualquer jeito colocando-a no bolso. Subiu para o quarto. Precisava pensar. Seu coração parecia esmagado, ele nunca sentira tanta dor assim.
Pensou no sorriso de Ana quando ele a beijou pela primeira vez no campo. Lembrou do momento em que ela caminhou pelo corredor vestida de noiva, ele nunca vira uma imagem tão linda. Na verdade, ele via momentos que pensava serem únicos o tempo todo com Ana.
O sorriso dela e o olhar confiante quando se entregou pela primeira vez. Ele se sentiu o pior dos homens. Aninha foi machucada de todas as formas imagináveis e ele tinha sido o principal responsável. Seus pais elaboraram o plano, mas foi ele quem se aproximou de Aninha e a machucou, isto porque jurara que nunca faria isto.
Levantou-se da cama e foi até a porta, trancando-a. Ele não poderia fazer nada com relação ao passado, mas pelo menos poderia atrasar a descoberta da fuga de Ana.
Os pais iriam acreditar que ela estivesse no quarto consigo. Deitou na cama e fitou o teto. Lágrimas silenciosas escorreram por seu rosto e ele não as impediu, tinha perdido o amor de sua vida. Desejava somente que ela encontrasse um pouco de alento longe dali.
Cerca de três horas depois foi despertado com batidas fortes na porta. Abriu-a e encarou os pais que tinham acabado de descobrir que Chico levara Aninha e Filomena até a rodoviária.
Eles estavam eufóricos e furiosos. André justificou que dormira e não percebera a falta da esposa. Flávia prontamente acreditou, uma vez que sabia que o filho não nutria sentimentos pela garota.
Graças a alguns amigos, César rastreou o cartão de Ana e descobriu que ela tinha comprado duas passagens, uma para o Rio de Janeiro e outra para Paris no vôo 447. Aquela não era a melhor solução, mas com a menina longe teriam total acesso a tudo o que a fazenda possuía.
Depois, com tempo poderiam contratar alguém para achá-la e fazer com que desaparecesse sem deixar rastros.
André suspirou aliviado e imaginou que algum dia poderia ir até ela e lhe implorar o perdão. Passaria o resto da vida de joelhos lhe implorando se fosse preciso.
Naquela noite enquanto jantavam sentados à mesa, o silêncio foi constrangedor. Todos os funcionários sabiam que Aninha e Filomena tinham ido embora para a França, os motivos ainda eram obscuros e dezenas de teorias pipocaram.
_ Cida, ligue a tv! _ pediu Flávia _ não aguento mais todos com cara de velório.
Assim que a tv foi ligada, observaram que notícias explodiam na tela.
_ Alguém aumenta o volume, por favor! _ André levantou-se e ele mesmo aumentou o volume na própria tv, sentindo que o coração ia explodir.
_"Na noite de hoje, o voo 447 da Air France, que seguia do Rio para Paris caiu no Oceano Atlântico, a cerca de 600 quilômetros de Fernando de Noronha, matando as 228 pessoas a bordo, entre elas, 58 brasileiros. O Airbus A330 sumiu dos radares cerca de quatro horas depois de decolar do Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio de Janeiro..."*
André não esperou a notícia terminar e correu em direção aos campos. Não parou até que suas pernas estivessem com câimbras. Pequenos filetes de sangue escorriam por seus braços e pernas quando se sentou no alto onde beijara Ana pela primeira vez.
Uma pesada chuva começou a cair e ele não se importou. Deixou que suas lágrimas se misturassem a água que caía do céu. Ali chorou como nunca tinha chorado antes, seu corpo não conseguia processar a dor e os soluços lhe impediam de respirar.
Gritou o nome de Ana até que sua voz não passasse de um sussurro rouco e desesperado. Ela estava morta, sua Aninha estava morta.
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* Notícia retirada da página http://acervo.oglobo.globo.com/fatos-historicos/aviao-da-air-france-caiu-em-maio-de-2009-matando-as-228-pessoas-bordo-11832789
Aiii gente, só eu que não estou com muita pena do André?
Será que ele merece sofrer assim? Deixem comentários e uma estrelinha caso gostarem.
Bjinhos de chuva!
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As voltas do coração [COMPLETO]
RomanceAnabelle sonha em conhecer um grande amor, se casar e viver feliz para sempre na fazenda onde nasceu. André sonha em ter vida fácil, foi muito mimado e não acredita no amor. Quando se conhecem, ela pensa ter encontrado o que sonhou e ele tem a missã...