Aqui 'com' você

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Anabelle olhou o homem que estava à sua frente. Ele tinha mudado muito. O rosto estava frio e parecia ter envelhecido muito mais do que os dez anos que os separavam.

Ela se surpreendeu porque ele deixou a barba crescer, mesmo afirmando que não gostava. Sacudiu a cabeça para espantar aqueles pensamento. Aquilo não lhe dizia respeito.

Respirou bem devagar para controlar o coração acelerado e o frio que pousou em seu estômago. Aquelas sensações, com certeza, estavam ligadas à raiva que sentia dele, pensou. Por isso, trincou o maxilar e continuou fitando-o.

André sentiu que o coração parava de bater ao ver a mulher que lhe olhara de volta quando ele a abordara há poucos segundos.

Não era possível ou real.

Ela não podia estar ali. Talvez fosse mais uma de suas infinitas miragens, uma pilhéria de sua mente atormentada.

A sua Aninha estava morta há muitos anos. Aquela parecia-se com a sua Ana, mas estava mais séria, madura, o cabelo cortado diferente e tinha um brilho que nunca vira antes nos lindos olhos verdes.

Pensou em retrucar e dizer que sim, aquela era sua casa e questioná-la sobre quem era de verdade. Aquela estranha estava a brincar consigo. Iria expulsá-la dali, se preciso a arrastaria pelos cabelos. Sem pensar, acabou escolhendo mal as palavras que proferiu.

_ Você deveria estar morta...

Ana esperava ouvir ou ver qualquer reação, mas não imaginou o que se seguiria. Quando abriu a boca para retrucar de forma mordaz, como havia ensaiado milhares de vezes, viu que André se aproximou rápido demais e a tomou em seus braços.

O cheiro de água da chuva e do suor misturado a um leve perfume amadeirado inebriou Ana. André estava maior e ela se sentiu miúda em seus braços, envolvida por várias camadas de músculos. Um leve cheiro de bebida também chegou-lhe às narinas.

André não pensou, apenas agiu e a puxou para seus braços. Assim que sentiu o frágil corpo junto de si, compreendeu que talvez não fosse sonho. Fechou os olhos e implorou para que não acordasse e sentisse a cama fria e vazia. Os cabelos de Ana ainda exalavam o mesmo cheiro de jasmim.

Por segundos ou minutos Ana não reagiu, apenas deixou-se abraçar e fechou os olhos. Ordenou que seu coração voltasse ao compasso normal. Parecia que há milhares de anos sonhava com aqueles braços a envolvê-la e, ao mesmo tempo, parecia que nunca tinha saído deles. Por um segundo permitiu-se senti-lo.

Finalmente as palavras de André a atingiram e seu cérebro lerdo conseguiu decodificá-las. Ele disse que ela deveria estar morta. Ela acreditava que nada poderia feri-la de novo, mas aquilo entrou como lâmina em seu coração. Ele a queria morta.

Lembrou-se do que ouvira há dez anos e o ódio cresceu dentro de si. Reuniu toda a sua força e espalmou com as duas mãos o peito de André, empurrando-o para longe.

Pego de surpresa, André sentiu-se jogado para trás e se afastou bruscamente do corpo de Ana.

_ Nunca mais toque em mim _ falou entredentes com o dedo em riste.

_ Você não esta morta! _ continuava repetindo aquela frase.

_ Olhe!! Parece que não estou. _ sua voz soou cínica e fria.

André se surpreendeu com aquele tom na voz de Ana, ela não era assim. Sua cabeça girava e ele ainda não tinha assimilado o fato de que a mulher que povoara seus sonhos por dez anos agora estava ali a sua frente.

_ Ainda não acredito que você esta aqui _ continuou.

_  E por quê eu não voltaria? Acha que eu seria aquela menina imbecil para sempre? Que fugiria e me esconderia de vocês por toda a vida? _ cuspiu as palavras deixando que elas exalassem todo o ódio, amargura e dor que sentia.

As voltas do coração [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora