Longe

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Anabelle olhou para André a sua frente. Seu coração traiçoeiro continuava a bater descompassado, desde o instante em que entrou no quarto e o viu. Encostou a porta atrás de si e caminhou com o máximo de firmeza que conseguiu até a janela.

Quando sentiu que suas pernas e sua voz já estavam mais firmes, voltou o rosto para André.

_ O que você quer? _ questionou imprimindo frieza na voz.

André a observou. Como Ana poderia parecer tantas mulheres diferentes em tão pouco tempo? Aquela ali a sua frente em nada lhe lembrava a mulher que se entregara a ele há menos de 24h. Passou a mão nervoso pelos cabelos e depois pela barba. Ele sentia que ia enlouquecer.

_ O que eu quero, Anabelle? _ suspirou _ o que você quer?

Ana sentiu o sangue ferver. André realmente se achava no direito de questioná-la? Era evidente que ele também não caíra em sua farsa. Aliás, ela sabia que ninguém naquela casa acreditaria em sua versão fantasiosa dos fatos. Só precisava ganhar tempo e ficar de olho neles até que o juiz assinasse a papelada congelando os seus bens por direito.

_ Como ousa me fazer essa pergunta? Você sabe muito bem o que eu quero _ retrucou.

_ Eu sei, mas quero ouvir de você.

Ana suspirou. Ela não ia mentir para André, não porque lhe devia alguma consideração ou lhe tivesse o mínimo de confiança, mas apenas porque estava cansada da mentira.

_ Para começar eu quero tudo o que é meu de volta, a fazenda, as minas de esmeraldas, as propriedades, tudo _ desabafou _ e depois eu quero todos vocês fora daqui, não quero nunca mais ver a cara de nenhum. E por fim, quero que paguem por tudo o que fizeram, mas sei que a justiça brasileira não lhes dará o que merecem, então que seja o mínimo pelo menos.

André se surpreendeu. No fundo desejava, mas não esperava que Ana fosse tão sincera e direta com ele. Caminhou pesadamente e se sentou na cama. Como ele podia questioná-la sobre isso? Era o que mereciam pelo que fizeram.

_ Eu concordo com você. Não merecemos outra coisa _ falou cansado.

A gargalhada histérica de Ana o assustou.

_ Você realmente acha que vou acreditar de novo em você, André?

_ Eu já te disse que apenas me deixei guiar pelos planos de meus pais, nada foi ideia minha.

_ Não sei o que é pior, se você tivesse planejado tudo, ou o fato de você ter sido um fraco e um covarde que não mexeu um dedo para mudar as coisas.

Ela tinha razão. Ele tinha sido um fraco e um covarde, mas o que poderia fazer além de lhe pedir perdão?

_ Se quiser eu lhe peço perdão de joelhos pelo que fiz.

_ Não seja patético, André. Não se rebaixe ainda mais.

O silêncio pesou entre eles. Não havia o que dizer. Ana tentava varrer para longe a vontade imensa de perdoar André e se jogar em seus braços, esquecer tudo o que aconteceu e recomeçar uma vida nova.

Um arrepio lhe percorreu o corpo desde a nuca quando sentiu que ele estava às suas costas.

_ Eu sempre vou amar você _ sussurrou e a puxou, colando seus lábios nos dela.

Como eram macios e, dolorosamente, familiares aqueles lábios. Ana pensou que poderia se perder ali por toda a vida.

Desta vez não, ela não iria ser ingênua e cair nos braços de André de novo. Provavelmente ele já estava planejando com os tios reconquistá-la para novamente a enganarem.

As voltas do coração [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora