A dor

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Do lado de fora da porta, Ana segurava a boca fortemente com a mão para impedir que seu choro fosse ouvido. Sentiu as pernas fraquejarem.

Assim que chegaram, ela deixou as malas no quarto de casal que dividiria com André. Sorriu feliz ao compreender que estava realizando o seu maior sonho, dividir a vida com um grande amor, tal como seu pai e sua mãe viveram.

Fez uma oração silenciosa de agradecimento.

Era muito cedo ainda e ela estava cansada, já ia deitar-se na cama quando viu o celular de André vibrar. Não quis olhar a tela e invadir sua privacidade, confiava no marido.

Marido, como era bom se referir a ele desta forma. Pensando que pudesse ser algo importante, tirou os sapatos que lhe machucavam os pés e foi encontrá-lo no antigo quarto, onde fora buscar alguns dvds que esquecera.

Chegou a porta e levou a mão na maçaneta para abrir. A voz de Flávia chamou-lhe a atenção. Já ia se afastar para não ouvir a conversa alheia quando ouviu seu nome ser pronunciado.

... Anabelle, casamento consumado?

Sentiu o rosto queimar ao ouvir a pergunta. Por que a tia estava perguntando algo tão íntimo? Decidiu questiona-la e no momento em que ia entrar ouviu a voz de André

_ Mãe, você só pensa nisso ! Tudo certo, consumado.

Ao ouvir a resposta de André, sentiu que o chão lhe fugia. Por que ele estava
expondo a intimidade deles enquanto casal? Tentou, em vão controlar as batidas do coração, precisava ouvir mais.

Conseguiu que ela assinasse os papéis?

A voz de César se fez ouvir e Ana ficou completamente confusa.

Não! Ela ama esta fazenda e quer geri-la sozinha agora que é maior de idade.

_ Argh!!! Que inferno de garota!

Ana se perguntou a que papeis eles se referiam. Pensava nisto quando ouviu outra vez a voz de André.

_ Não podemos obrigá-la! Já temos metade de tudo o que é dela, graças ao regime de partilha de bens do casamento. Não é o suficiente?

As peças começaram a se encaixar e ela não podia acreditar que tinham feito aquilo com ela. A usado da forma mais vil possível para terem o que o pai tinha deixado. Tapou a boca e os ouvidos na tentativa de que acordasse e descobrisse que tudo aquilo não passava de um pesadelo.

Respirou fundo para se acalmar. Ela precisa ser forte agora e tiraria forças da raiva que sentia por ter sido enganada. Colou novamente o ouvido na porta. 

_ Ela esta em nosso caminho e vamos tirá-la! Não será difícil uma garota sair sozinha e acidentalmente cair ou se afogar no rio.

Que tipo de gente era aquela, se perguntou. Sentia-se morrer um pouco cada vez que lembrava que André estava junto com eles. Ele tinha se aproximado dela desde o início com interesses escusos.

_ Vocês estão loucos? Isso não estava nos planos.

_ Mudança de planos, meu amor! Casar-se com esta caipira não será suficiente. Você precisa ficar viúvo, assim terá acesso a tudo o que foi dela.

_ Não!Não farei isso!

A voz dele trouxe um pequeno alento de esperança.

_ Não me diga que se apaixonou por esta coisinha?

Ana prendeu a respiração em expectativa. Era naquele instante que ele diria que a amava e mandaria os pais saírem da sua vida.

_ Claro que não! Até parece que vou me apaixonar por uma ignorante caipira destas. O problema é que nós seremos presos.

Ao ouvir a resposta de André, o coração de Ana se estilhaçou em milhões de pedaços. Ela percebeu que iria chorar e mordeu as costas da mão com toda força. Precisava sentir um pouco de dor física para amenizar a dor que sentia por dentro. Quando pensou que não podia piorar ouviu a voz de Flávia

_ ...basta fazermos bem feito... igual fizemos com o pai dela.

Ela não podia continuar ali, tampouco conseguia ter alguma reação e sair. Eles tinham matado seu pai. Mas como? Foi apenas um acidente de cavalo. A voz de César a tirou de seus pensamentos.

_ André, já estamos nisso e você esta conosco! Agora não tem mais volta.

Ana não sabia o que fazer. Ainda lhe restava um fio de esperança de que acordasse e descobrisse que nada daquilo era real.

A voz de André esmagou qualquer tipo de dúvidas que ela tinha.

_ Tudo bem! Só me digam o que fazer!

Que dó da Aninha! E agora, o que ela fará?

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Que dó da Aninha! E agora, o que ela fará?

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Bjinhos com gostinho de lágrimas

As voltas do coração [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora