5. O Castelo

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A maldita insônia pegou-me naquele resto de noite. Sem saída, fiquei esperando por Andrew. E durante a madrugada, ele apareceu.

Estava apenas usando uma jaqueta jeans com o que parecia ser uma regata por baixo; calça jeans escura e calçava um par de coturnos. Eu estava começando a odiar aquilo tudo e torcia para que estivesse presa em um pesadelo confuso, mas que logo acordaria.

- Que estranho. - disse como se estivesse surpreso - ainda estar acordada.

- Confesso que estava esperando por você. - respondi prontamente.

Ele me encarou por alguns segundos enquanto sentia que minhas bochechas coravam. Eu não sabia ao certo as coisas que sentia com ele perto: ódio, ânsia, medo... afeto. Só não estava mais confusa por que precisava de minha mente sã e focada em apenas algo: procurar alguma idéia para sair daquele acordo, que nem chegava a ser um acordo. Estava mais para uma intimação à escravidão. E eu não podia simplesmente calar a boca e servi-lo.

- Ótimo. Pensei que teria ter que acordá-la. Está pronta?

- Não.

- Não tenha medo, Amy. - Andrew deu um passo para frente e eu, dois para trás. Não queria chegar perto. - Então vamos! - exclamou em seguida, virando-se de costas para mim e afastando-se um pouco.

- Para onde vamos exatamente? - perguntei com receio do que poderia ser a resposta.

Andrew olhou para mim de relance e deixou um sorriso debochado escapar. Estava começando a odiar esse sorriso.

- Não é óbvio? - disse devagar - Para o inferno, garota.

Engoli em seco.

- E como você quer que eu vá? Pelo que eu saiba, não estou morta. - dei de ombros torcendo para que o demônio a minha frente desistisse da idéia absurda.

- Não está ainda. - respondeu dando ênfase na palavra "ainda", o que só fez com que os meus joelhos tremessem - se não for pedir muito, pode deitar-se na cama, por favor?

Obedeci apenas por dois motivos: estava com medo do que ele poderia fazer e por que esse foi um dos momentos mais educados de Andrew até agora, o que de fato, surpreendeu-me.

Quando já estava deitada, Andrew sentou-se na beirada da cama e sorrindo, colocou o dedo indicador sob meu peito. Minha respiração estava desregulada e meus batimentos estavam a mil por hora. Estava com medo de qualquer movimento que viesse dele.

- Eu vou matar você agora - disse ele calmamente - mas vai ficar tudo bem.

Ah, claro. Eu vou morrer, mas é óbvio que vai ficar tudo bem. Vou estar morta mesmo.

- Posso direcionar sua alma a qualquer lugar do inferno que eu queira - continuou - o preço que paguei por isso, certamente você não gostará de saber.

- Na verdade - comecei - quero muito sab...

Minhas palavras foram interrompidas por um aperto no peito. Como se duas mãos enormes estivessem me sufocando. Minha visão foi ficando cada vez mais escura enquanto lutava para encontrar o ar que estava faltando-me aos poucos. Vi um resquício de sorriso no rosto de Andrew, como se o demônio estivesse se divertindo com a minha perda de consciência. E então, eu morri.

***

A sensação que tive foi... como se um enorme fardo estivesse sendo tirado de mim. Depois, estava em uma queda que aparentava ser infinita, até ouvir um "crack!", então, acordei finalmente.

Meus braços se moviam de forma lenta, ou talvez, fosse apenas a tontura repentina que invadiu-me após minha experiência de morte que provavelmente foi bem sucedida, pois meus olhos encaravam um enorme teto com várias pinturas confusas de mulheres abraçadas a anjos. Passei minhas mãos pelo meu corpo que ainda era meu corpo. Depois, passei as mãos pela superfície macia a qual estava deitada. Era uma enorme cama com lençóis de seda. Tentei sentar-me, mas a tontura estava impedindo-me.

Meu CarmaOnde histórias criam vida. Descubra agora