17. Diretrizes

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— Andrew está chegando. — disse Jacob de repente.

— Como sabe? — perguntei.

— Nada especial. Apenas sei.

Jacob saiu do quarto em seguida. Antes de o seguir, Noah pegou minhas duas malas que ainda estavam no chão e sorriu para mim antes de sair. Coloquei a mochila no ombro e olhei em volta, guardando cada detalhe do meu quarto na memória. Eu só esperava voltar a vê-lo novamente.

Desci as escadas lentamente, desejando intimamente que nada disso estivesse acontecendo. Sentei no sofá ainda segurando a alça de couro da mochila com força. Olhei para o relógio na parede, velho e quebrado, onde os ponteiros estavam parados. Nem sei por que ainda tínhamos aquela coisa ali. Olhei para todos os retratos na mesa alta posta no canto da sala e uma vontade súbita de chorar me invadiu.

Eu não podia chorar. Não mesmo.

Jacob estava recostado na poltrona ao meu lado, enquanto Noah estava de pé tamborilando os dedos em um dos braços do sofá antigo e encardido. Estava tudo tão deprimente e mórbido. Me sentia esperando pelo meu momento de ser julgada para sentar na cadeira elétrica.

— E se minha mãe voltar? — perguntei baixo — ou Lucy? Como vai ser? Não vou estar aqui.

Jacob e Noah se entreolharam. Aquele olhar de que partilhavam o mesmo pensamento. Aquele olhar de como estivessem conversando entre si, e eu mais uma vez, não estava inclusa na conversa.

— Não se preocupe, Amy — respondeu Jacob mostrando um sorriso condescendente — cuidaremos de tudo.

Desviei o olhar, passando a encarar a porta agora. Respirei aliviada pela resposta, mesmo não sendo exatamente o que eu realmente queria ouvir. Talvez um "ei, calma, amanhã mesmo você estará aqui, sã e salva", seria mais reconfortante.

— Bom, não terminamos aquela conversa na cozinha. — lembrei-os.

— É — murmurou Jacob — mas não vamos falar disso agora.

Assenti, mesmo que minha vontade fosse totalmente a oposta. Olhei de relance para Noah percebendo o quanto estava em silêncio, o que era estranho.

— Está tudo bem? — perguntei hesitante.

Noah olhou para mim e depois para a porta, talvez esperando que ela fosse aberta logo, assim como eu também esperava.

— Sim, está — respondeu Noah, tentando mostrar um sorriso — só estava pensando em Logan. Realmente ele está maluco.

Suspirei frustrada.

— O clero defende ele?

— Com unhas e dentes. — resmungou Jacob.

Pensei na possibilidade de perguntar a eles sobre o suposto incêndio causado por Logan em uma escola nos Estados Unidos, mas simplesmente descartei. Não estava disposta a mais revelações bombásticas. Já tive muitas apenas para hoje. E nem é meio-dia ainda.

Já era para Andrew estar aqui, pensei. Não tinha certeza se devia ir mesmo com ele, mas se até meu anjo da guarda concordava com essa ideia maluca, quem sou eu para discordar, certo?

Talvez ficar no castelo com Andrew não seja assim tão mal, pensei. Talvez seja horrível, mas ainda é cedo demais para especular meus futuros arrependimentos.

Apoiei o cotovelo em meu joelho e em seguida, pousei entediatemente meu queixo no meio da minha mão. O polegar na linha do meu maxilar e os outros dedos enrolados, apertando um tanto minha bochecha direita. Declarei mentalmente: prefiriria ter nascido um vegetal.

Meu CarmaOnde histórias criam vida. Descubra agora