32. Futuro

255 21 6
                                    

As mãos de Andrew nas minhas costas puxando-me para perto mais uma vez despertava uma sensação até então, única. Era intenso ter seus braços ao redor do meu corpo, sempre mantendo nossos corpos juntos. Sua boca na minha acompanhava um ritmo perfeito, quase calculado.

Saímos do escritório após algum tempo, em silêncio. Se alguém aparecesse e estudasse bem os nossos rostos, saberiam exatamente os nossos planos, o que deixava tudo ainda mais divertido.

Sentia-me como uma criança prestes a ser pega após cometer uma travessura. A alegria surgia vez ou outra, juntamente com risinhos contidos, tentando ao máximo conter o segredo dos acontecimentos futuros apenas para mim. Era um segredo a ser mantido apenas entre nós durante aquela noite.

O frio na barriga era semelhante ao que ocorre quando estamos prestes a fazer algo meramente proibido. Eu tinha consciência de que o que faríamos não era algo tão proibido assim, contudo, uma parte da minha mente — mesmo que pequena — dizia que aquilo não deveria ocorrer. Havia tantos perigos envoltos ao que aconteceria e, eu sabia exatamente disso, mas não importava-me tanto. Estava pronta para correr todos os riscos, seja eles quais fossem.

Subimos os degraus da enorme escada em silêncio, mas eu sabia que assim como a minha, a cabeça de Andy estava um turbilhão. Colocamos os pés no longo corredor ainda em silêncio. Nos entreolhamos por breves segundos.

— Corre. — murmurou Andrew, virando o rosto para encarar o extenso corredor mais uma vez — Corre, corre, corre, corre.

E então corremos. Saí em disparada sentindo mais e mais o tecido macio do tapete em meus pés descalços. Andrew estava logo atrás de mim, com uma risada que acompanhava-o. Paramos ao chegarmos em certo ponto, em frente ao nossos quartos. Encarei ambas as portas, alternando o olhar, decidindo qual porta aparentava ser a mais convidativa.

— E então? — indaguei baixinho — O meu quarto ou o seu?

— O nosso. — respondeu Andy, passando o corpo pelo meu para abrir a porta do meu quarto.

Adentramos o local, nossas respirações pesadas e contínuas soando pelo quarto. Mesmo com a escassa luz do cômodo — sendo a única iluminação vinda do pequeno abajur posto na mesa de cabeceira — conseguia ver o rosto corado de Andrew provocado por nossa pequena corrida. Sabia que meu rosto, provavelmente, também evidenciava nosso pequeno alvoroço, mas não importava-me.

Aproximei-me de Andrew, envolvendo meus braços em sua nuca, sem qualquer cerimônia. O beijei em seguida, puxando levemente seu cabelo bagunçado. Não vou citar palavras horríveis e clichês a cerca do beijo, até porque, não consigo transcrevê-las, por mais que eu queira. Não consigo dizer, especificamente, os detalhes do que senti no exato momento. Apenas consigo dizer que, fora ali, nos poucos minutos antes de ter minha blusa sendo arrancada do meu corpo, que eu soube dos meus verdadeiros sentimentos nutridos por Andrew. Eu o amava.

E eu queria expelir esse sentimento de dentro de mim, não por repulsa ou coisa parecida, mas porque eu queria que ele soubesse de tudo.

Queria tanto dizer "eu te amo.", mesmo que soasse péssimo. Porém, as únicas palavras que saíram foram:

— O quão errado isso é?

Xinguei-me mentalmente, amaldiçoando o fato da minha boca sempre dizer as palavras erradas nos momentos certos.

— Errado? — indagou — O que quer dizer?

— O que está prestes a vir — respondi, prosseguindo a besteira antes feita — o fato de estarmos juntos aqui. O fato de sermos uma mortal e anjo. Ou demônio... Um anjo-demônio.

Andrew afastou-se alguns centímetros, as sobrancelhas franzidas.

— Podemos parar se quiser. — ele disse, a voz saindo firme e decidida.

Meu CarmaOnde histórias criam vida. Descubra agora