Meu Carma

16. Crime

Quando voltei ao meu quarto, tive que ficar alguns minutos sentada na cama, respirando fundo enquanto mandava a sonolência para longe.

Após algum tempo, levantei-me e fui até à cozinha, pois sabia exatamente que Noah e Jacob estariam lá, tomando café em xícaras razoavelmente grandes, e estariam trocando olhares extremamentes cínicos.

Quando cheguei à cozinha, Noah estava sentado próximo a bancada, tomando seu café enquanto lia o jornal. Jacob estava cortando vegetais sob a pia. Ambos estavam distraídos ao ponto de nem perceberem minha chegada.

— O que vocês são e o que querem aqui? — gritei batendo a mão com força na bancada, assustando Noah, que deu um pulo ainda permanecendo sentado na cadeira alta.

— Amy?! — exclamou Jacob limpando as mãos em um pano de prato próximo. Aparentava estar surpreso ou talvez fosse apenas impressão minha — achei que sua conversa com Andrew seria demorada. Ele contou tudo a você?

Assenti.

— Como vocês sabem de todas essas coisas? — gritei mais uma vez, dessa vez não era irritação, apenas medo. Medo de saber quem realmente eram — como sabem de Andrew e de mim?

Ambos se entreolharam. Pareciam receosos, mesmo sem motivo, já que eu estava sabendo de tudo. Ou quase tudo.

— Bom... — começou Jacob, colocando alguns fios do cabelo loiro para trás da orelha — eu sou o seu anjo da guarda.

Tive que conter a vontade de bater com a mão em minha própria testa. Após a história de Andrew, estava mais do que claro, então eu poderia muito bem ter tirado minhas próprias conclusões em relação aos dois a partir daí, certo? Meu Deus, como posso ser tão burra?

— E Noah é um anjo caído — continuou Jacob apoiando os braços na bancada, com seus punhos fechados e pressionados sob a superfície de mármore. As veias de seus braços estavam tensas e saltadas. Mesmo sem qualquer intenção, meus olhos direcionaram ao seus músculos já visíveis, que  ficavam ainda mais evidentes com o contraste de sua regata branca e larga — eu sou sempre o seu anjo da guarda, Amy, em todas as suas vidas. Eu sei do amor de anos entre você e Andrew e simplesmente, resolvi ajudá-los.

— Jacob e eu sempre fomos próximos — manifestou-se Noah pela primeira vez — mesmo depois da minha queda. Afinal, continuamos sendo irmãos acima de tudo. Ele me contou os planos de descer à Terra e começar essa missão um tanto impossível. Sinceramente, torço para que você e Andrew fiquem juntos, então ofereci minha ajuda.

— Manipulamos sua irmã quando chegamos aqui — prosseguiu Jacob — estavámos agindo pelas costas de Andrew, pois não queríamos que ele soubesse. Mas agora, pelo visto, isso não vale mais. O que de certo modo é bom.

— E ruim também. — disse Noah enquanto cruzava os braços — os anjos da morte já devem estar a caminho ou não. De qualquer forma, é certo que aparecerão aqui uma hora ou outra.

— Andrew disse que ficarei no inferno com ele. Ele disse também que aparecerá daqui a uma hora. — eu disse engolindo em seco, ainda absorvendo todas as informações despejadas de uma vez só.

— Por ora, é o certo a se fazer. — disse Jacob colocando os dedos sob o queixo, como se estivesse pensando bastante sobre o assunto — de qualquer maneira, a visitaremos frequentemente para garantir sua segurança. E até, quem sabe, tirar você do submundo e arranjar um lugar realmente seguro e menos tóxico para você ficar.

— E o que ainda está fazendo aqui? — indagou Noah enquanto fitava-me atentamente, fazendo um sorriso torto surgir aos poucos em seus lábios — não tem que arrumar suas coisas?