10. Sessão Profana

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- Memórias? - indaguei confusa - como assim?

- Eu não sei - respondeu Lucy dando de ombros - também achei um tanto estranho, mas realmente não sei o que significa.

Respirei fundo tentando entender. Memórias. Realmente... nada mais na minha vida faz sentido.

- Bom, tenha um belíssimo dia, Amy. - disse Lucy de repente subindo os degraus novamente, esgueirando-se no corrimão ao passar por mim.

Minha irmã é definitivamente estranha, pensei. Desci os degraus rapidamente retomando meus planos. Peguei minhas economias no bolso de minha calça jeans e recontei várias e várias vezes, certificando-me que o dinheiro dava para comprar aquilo que eu tanto queria no momento. Ainda estava bem cedo, então não preocupei-me se supostamente eu chegasse atrasada na biblioteca para ver Logan. Tinha quase certeza que o tempo estava ao meu favor.

Estava apressada e tive que tomar cuidado algumas vezes para que eu não acabasse caindo no meio da rua. Apesar do frio, minhas mãos suavam e podia sentir algumas gotículas de suor formar-se em meu corpo por baixo do casaco de lã relativamente pesado. A loja a qual procurava estava por perto, eu só podia torcer para que a mesma estivesse aberta, apesar do horário.

Respirei fundo e mordi o lábio inferior ao notar pela primeira vez a placa em néon acima da porta de vidro, indicando assim o nome do estabelecimento: acessórios witchcraft. Sei bem que pelo nome, provavelmente não venderia aquilo que eu procurava, mas Chris, meu melhor amigo, comentou certa vez que essa loja vendia de tudo. E talvez essa fosse minha única chance - e saída - de comunicar-me com Andrew.

Empurrei a porta que facilmente foi aberta e um som breve de um sino soou pelo local. Por detrás no balcão alto, surgiu uma mulher sorridente; loira e com os olhos azuis serenos e um tanto penetrantes; aparentava ter meia idade. Nos cabelos ondulados, uma fina tiara prateada encondia-se vez ou outra pelas mechas. Usava um vestido lilás, um tanto largo que cobria-lhe os pés. Em seus dedos, podia-se ver anéis de variadas pedras e cores. O rosto mostrava uma expressão cansada, mas a mesma tentava esconder - quase em vão - com um sorriso largo.

- Olá - disse ela com a voz extremamente doce - me chamo Zöe. Posso ajudá-la?

Olhei em volta enquanto mordiscava minha bochecha. Parei ao sentir o gosto metálico do sangue invadir minha boca. As prateleiras enfileiradas com vários objetos, os quais eu não sabia suas finalidades, mostravam claramente que eu não deveria estar ali.

- Bom dia, Zöe - eu disse calmamente mostrando um sorriso tímido - bom, nem sei como começar...

- Está tudo bem. - disse ela ainda com um sorriso no rosto, encorajando-me a prosseguir.

- Certo. Eu gostaria de comprar um tabuleiro ouija.

Minha cabeça girava ao perceber no que eu havia dito. Será que era mesmo isso que eu queria? Talvez eu não estivesse tão disposta assim.

O sorriso de Zöe sumiu em segundos.

- Não sei do que a senhorita está falando. Não trabalhamos com esse tipo de coisa - ela disse voltando rapidamente para trás do balcão.

Dei dois passos a frente, aproximando-me um pouco do balcão de carvalho.

- Eu sei que é estranho - eu disse tentando manter a voz firme - mas meu amigo disse que esta loja teria exatamente o que eu estou procurando e...

- Não acredito! - interrompeu-me ela - já estão comentando isso por aí?

- Eu trouxe dinheiro suficiente - menti, já que minhas economias não passavam de 30 libras - apenas me dê logo o que procuro.

Meu CarmaOnde histórias criam vida. Descubra agora