20. Conversa

216 25 6
                                    

Eu já estava no corredor, com minha mão direita apoiada sob à parede. O quarto de Andrew estava próximo, e a única coisa que eu devia fazer era bater na porta, entrar de qualquer jeito e beijá-lo. Era fácil e simples. Um desafio bobo e sem importância.

Meus passos estavam vacilantes. Cambaleei nos meus três últimos passos antes de alcançar à porta e bater.

— Pode entrar. — gritou Andrew do outro lado.

Girei a maçaneta que estava relativamente fria e entrei. O quarto estava imerso na escuridão, exceto pela luz de um abajur ligado na mesinha de cabeceira. Meus olhos demoraram um pouco para acostumarem-se com a penumbra e avistarem Andrew.

Após alguns segundos — talvez um meio segundo — meus olhos pousaram no corpo de Andrew, que estava sentado na beirada da cama de casal, os cotovelos apoiados nos joelhos enquanto encarava a parede branca e sem graça à sua frente.

— Ah — murmurou ele — pensei que fosse Lilith.

— Claro que pensou. — murmurei em resposta, fitando em seguida meus saltos vermelhos e patéticos.

— Pensei que estivesse na ceia. — ele disse, com o olhar pesando em mim.

Tornei a olhar para ele, procurando seus olhos, mas ele desviou quase no mesmo instante, voltando a encarar a parede. Estava sem camiseta, vestido apenas na sua famosa calça jeans escura. Olhei atentamente suas inúmeras tatuagens espalhadas pelo seu corpo: pareciam tão confusas. Queria ao menos aproximar-me e tentar decifrá-las.

— Lilith apareceu e resolveu jogar verdade ou desafio. — eu disse, dando um passo à frente — aliás, estou aqui para cumprir um desafio.

Andrew levantou-se, dando um passo à frente também, mas continuávamos distantes um do outro.

— E qual seria? — Andrew perguntou, com o semblante sério, atento e a espera da resposta.

— Beijar você. — respondi convicta, percebendo tarde demais o quão ridículo havia soado. "Beijar você". Meu Deus! Alguém, por favor, me tira daqui.

Andrew ficou em silêncio. Esperei uma risada ou um mísero sorriso, mas ele continuou impassível, como sempre. Ele então aproximou-se de verdade, quebrando a curta distância antes estabelecida.

Com o rosto próximo do meu, senti a sua respiração quente bater contra minha pele, que no momento encontrava-se estranhamente fria. Seu maxilar estava contraído e quis dizer em voz alta o quanto ele ficava tão bem à meia luz. Forcei-me a permanecer com a boca calada.

— Você está bêbada. — ele disse de repente, afastando-se em seguida.

— Eu não estou bêbada! — repliquei, acordando do breve transe que havia pairado o ar.

— Consigo sentir o cheiro do álcool daqui. — retrucou, já estando novamente sentado na beirada da cama.

— Ok, mas e daí?

—  E daí que não vou beijá-la enquanto está bêbada.

— Bom, mas eu já disse que não estou bêbada. — cruzei os braços.

— Para quê fazer tanta questão só para me beijar? — ele disse, com um sorrisinho prestes a surgir.

Revirei os olhos, mesmo estando de certa forma um tanto desconcertada.

— É um desafio e estou aqui apenas para cumprir.

— E quanto as regras? — indagou, retornando os seus cotovelos sob os joelhos — acho que tinha alguma regra sobre isso, certo?

Meu CarmaOnde histórias criam vida. Descubra agora