29. Confissões

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Minhas mãos suavam e minha boca estava seca demais, não conseguia abri-la e gritar. Provavelmente Joseph estava por perto, com certeza ele iria vir correndo. Meus olhos estavam vidrados, atentos a qualquer movimento brusco e suspeito que poderia vir de Logan.

Meus pés não saíam do lugar.

— O que foi? — Logan indagou com um sorriso cínico, enquanto tirava alguns fios de cabelo da frente dos olhos — Não está feliz em me ver?

Permaneci em silêncio, com a esperança de que ele se cansasse dessa brincadeira e fosse finalmente embora.

— Andy mexeu com a sua cabeça, não é? — riu baixo fitando os próprios dedos que ainda mexiam-se freneticamente sob a mesa — Não imaginei que chegaríamos a esse ponto.

Olhei de relance para trás, onde o caminho de cascalho parecia-me bastante convidativo. Sabia que, se eu corresse em direção aos estábulos e não caísse nenhuma vez, poderia muito bem chamar a atenção de Joseph. Porém, o receio e o medo me prendiam ali.

— De qualquer forma, está tudo bem. — continuou Logan, ignorando meu silêncio — Vou esclarecer toda a verdade a você, então poderemos sair daqui e abandonar Andrew à própria miséria.

Meus olhos continuavam atentos e cautelosos em Logan. Dei um passo para trás, preparando-me para começar a correr. Porém, com um movimento rápido, Logan agarrou meu braço, puxando-me para perto.

— Não ouse fugir. — ameaçou Logan.

Parei minha longa e dolorosa luta de tentar sair do aperto de suas mãos quando ouvi um barulho do lado de fora. Alguém estava caminhando em direção à estufa. Pelo os passos pesados e calmos, imaginei ser Charlotte ou Joseph.

Reunindo minha escassa coragem juntamente com a minha esperança, comecei a gritar por ajuda.

— Não! — gritou Logan ao meu lado, pousando a outra mão livre firmemente em minha boca, impossibilitando que meus gritos permacessem contínuos — Não dessa vez! Acho que teremos que conversar em outro lugar.

Após dito isso, uma forte luz branca invadiu a pequena estufa, fazendo-me fechar os olhos, caso contrário ficaria cega. Abaixei a cabeça, tentando impedir que a luz de alguma forma ultrapassasse minhas pálpebras.

A claridade cessou em segundos, dando lugar a uma escuridão repentina. Abri os olhos cautelosamente e, após alguns longos segundos, minha visão finalmente havia focado em uma árvore à minha frente. Depois outra e depois outra. Estávamos, aparentemente, em um bosque.

Devido a copa das árvores acima das nossas cabeças, a claridade era quase nula. Um cheiro de enxofre parecia estar impregnado em cada árvore a nossa volta, ou até mesmo, o cheiro parecia vir da brisa quente que nos rondava.

Logan soltou-me de seu aperto, fazendo-me fitar seu rosto com um movimento rápido e quase doloroso em meu pulso. Seus olhos estavam raiados em sangue e linhas profundas de expressão tomavam conta de suas feições. A cor de seu rosto havia sido drenada. Agora, Logan era uma versão fantasmagórica de si mesmo.

— Onde nós estamos? — perguntei alto demais, desejando intimamente que alguém pudesse nos ouvir.

— Continuamos no inferno — respondeu, mostrando um sorriso apavorante ao revelar dentes exageradamente amarelos — estamos na parte sombria do limbo. Ninguém vem aqui, exceto anjos caídos e demônios que atrevem-se a violentar as pobres almas condenadas a permanecerem a um dos nove círculos. Se tivermos sorte e se você continuar quietinha, não iremos presenciar cenas traumatizantes.

Afastei-me exatamente dois passos, olhando em volta, procurando alguma trilha que levaria-me à saída, mas não havia nada que pudesse me ajudar.

— Não se assuste, Amy — disse Logan com a voz manhosa e lenta, dando um passo em minha direção — sei que minha aparência no momento não é a das melhores. A culpa é desse lugar tóxico. Ele tira minha essência.

Meu CarmaOnde histórias criam vida. Descubra agora