35. Retorno

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* Andrew on *

— O quê? Isso é ridículo! Você não pode pedir isso.

— Ah, não? — arqueei uma sobrancelha, o que indicava que minha paciência começava a esvair-se — Vocês me deram direito a uma escolha, da mesma forma que me deram direito a um pedido. Eu posso sim pedir isso. Cabe a vocês decidirem: sim ou não.

— Então a resposta é não. — rebateu Gabriel, estava inquieto, assim como eu.

— Não é assim que funciona, Gabriel. — repliquei — E a votação? Nossos irmãos não estão aqui atoa.

— E desde quando importa-se com a presença dos nossos irmãos?

Estava prestes a replicar quando Hadassa levantou-se, fazendo todos pararem o que estavam fazendo e tornando a olhá-la com a total atenção.

— O que está acontecendo? — indagou ela franzindo a testa — O que defendemos há milênios aqui? — ficamos em silêncio, com receio de respondê-la — Vamos, me digam! Pelo o que eu saiba, pregamos aqui o amor; o amor acima de tudo, certo? Então, me digam, qual é o problema de vocês ao proibirem um dos nossos de sentir o amor?

— Menos. — manifestou-se Miguel — Ainda sou o líder aqui e, vamos nos acalmar. Primeiro, Hadassa, você sabe bem que não devemos deixá-lo prosseguir com tal escolha.

— Pois eu acho que deveríamos. — rebateu Hadassa — O momento de julgá-lo já passou. Também faço parte do clero e, tanto quanto vocês, também posso mandar e desmandar, escolher o certo e o errado. No momento, vejo a situação de nosso irmão como certa.

— Concordo com ela. — gritou uma voz em meio aos outros anjos aglomerados. Virei o rosto e deparei-me com Raquel de pé, uma serafim. — Hadassa está certa. Prezamos pelo o amor, qual seria o sentido privar nosso irmão de sentir tal sentimento? Basicamente, é da natureza dele construir vínculos significativos com os mortais, não podemos fazer mais nada.

Raquel virou o corpo nos calcanhares, as asas brancas estavam abertas, emanando a luz forte e natural que acompanham os serafins. Ela olhava em volta, como se procurasse por mais alguém que também concordasse com suas palavras.

— Vamos ser justos aqui. — disse Hadassa, caminhando em direção ao centro do local, próxima de mim — Quem concorda que nosso irmão Andy tenha o que pede, por favor, levante a mão.

Por um breve momento, achei que ninguém se manifestaria ao meu favor, porém, após olhar em volta, vi que todos — incluindo membros do clero — levantaram a mão. Hadassa voltou o rosto à Miguel e Gabriel, com um sorriso triunfante no rosto.

— Não tenho mais nada a dizer. — ela disse, voltando para seu antigo lugar.

— Não podemos fazer mais nada. — disse Gabriel, impassível, a expressão quase dura, totalmente irritado com o resultado da "votação" — Andrew, seu pedido será concedido. Desde que, você prometa que não suplicará aos céus para ter sua vida antiga de volta.

— Pode confiar. Se depender de mim, não saberá mais de minha existência novamente.

Gabriel não disse nada, e todos ficaram em silêncio após a saída repentina de Miguel. Em segundos, ele retornou, trazendo consigo a sua espada. Espada cuja a qual o mesmo usou em batalhas — e que usará nos últimos dias. A arma funciona também como uma "varinha de condão", pois ela realiza quaisquer desejos que Miguel tem em mente.

Aproximei-me de Miguel vagarosamente, ajoelhando-me a sua frente. Fiquei quieto, esperando pelo o toque da espada que estava prestes a vir.

— Antes — disse Gabriel — saiba que a partir do momento que a espada de Miguel tocar-lhe os ombros, descerá à Terra em forma humana. Como um mortal, sem as suas asas. Portanto, não terá tempo para desperdir-se dos seus aliados no submundo.

Meu CarmaOnde histórias criam vida. Descubra agora