28. Reencontro

218 20 6
                                    

Voamos de volta ao hotel. Minhas pernas estavam firmemente presas em volta do corpo de Andrew, juntamente com meus braços em sua nuca. Meu medo de altura martelava em cada lugar do meu corpo. Com os olhos atentos apenas para as asas de Andrew que mexiam-se, soube que estávamos indo rápido demais.

Disse baixinho para Andrew ser cuidadoso, já que suas asas eram exageradamente grandes e, não importando a altura, alguém poderia nos ver.

— Provavelmente eles iram ver. — explicou Andrew — Mas, de qualquer forma, os mortais vêem anjos o tempo inteiro, apenas não conseguem assimilar. O cérebro de vocês os confundem e os seres celestiais passam despercebidos.

Andrew explicou também que, claro, não são todos os humanos que se confundem facilmente. Mesmo assim, não haveria motivos para preocupação.

A portinha da varanda do nosso quarto estava aberta e pousamos ali mesmo. A madrugada continuava com o mesmo clima do início da noite: estupidamente agradável.

Com as tiras das sandálias ainda envoltas aos meus dedos, joguei o par em um canto qualquer, esperando pacientemente para que as asas de Andrew sumissem gradativamente. Quando olhei suas costas novamente, estavam nuas e perguntei-me onde exatamente elas escondiam-se.

— Elas ainda estão aí. — disse Andrew, parecendo adivinhar, como sempre, os meus pensamentos — Apenas não conseguimos vê-las.

Com os dedos ágeis, passei as pontas das minhas unhas — que já estavam bem grandes — lentamente por suas costas, imaginando que de alguma forma, sentiria suas asas, porém, senti apenas a pele macia de Andrew. Os pêlos  aparentemente inexistentes tornando-se eriçados à medida que o trajeto de minhas unhas ia descendo, parando exatamente no fim de suas costas.

— O que você está fazendo? — indagou Andrew, a voz soando baixa e quase entrecortada.

— Não sei. — respondi baixinho, os olhos ainda atentos em sua pele — Estava a espera de sentir suas asas.

— Agora sabe que é impossível.

Ignorando o comentário dito, continuei com o caminho em suas costas. As unhas passando cada vez mais leves e lentas sobre sua pele. A respiração de Andrew estava cada vez mais audível e pesada. Seus braços estavam começando a arrepiar-se.

— Isso é bom. — ele disse, e mesmo de costas para mim, sabia que havia sorrido.

Minhas mãos pararam com os movimentos de forma brusca, pousando nos ombros largos de Andrew, virando-o para mim no mesmo instante. A única iluminação do quarto vinha de um pequeno abajur aceso sobre a mesinha de cabeceira. Havia também as luzes da cidade ainda acordada do lado de fora. Os olhos de Andrew brilhavam devido a escassa luminosidade do cômodo.

Seu rosto carregava uma expressão estranha, como se estivesse assustado por minha ação rápida e brusca. E talvez fosse isso mesmo.

— Você não cala a boca um segundo? — indaguei, sorrindo e arqueando as sobrancelhas.

— Desculpe, é que você não está conversando comigo e...

— Não me venha com preocupações — interrompi — logo você, o Sr. Quebrador-de-regras.

— Que apelido horrível.

— Eu sei.

Envolvi novamente meus braços em sua nuca, sustentando seu olhar no meu. No momento, queria gritar o quanto ele ficava lindo daquele jeito, à meia luz.

— Não me provoque. — sussurrou.

Afastei-me um centímetro.

— O quê?

Meu CarmaOnde histórias criam vida. Descubra agora