15. Explicações

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Virei o corpo lentamente, lutando contra a vontade de desabar ali mesmo. Algumas imagens estranhas e distorcidas de Andrew ainda misturavam-se com a realidade.

— Por favor, me conte o que está acontecendo. — foi a única coisa que consegui dizer, já que minha voz estava embargada demais para dizer qualquer outra coisa.

Andrew assentiu e pegou em minha mão. Percebendo que a mesma estava trêmula, juntamente com minhas pernas e todo o resto do meu corpo, me pegou nos braços e fomos em direção ao seu quarto novamente.

Sentei-me na beirada da cama, com meus pés longe do chão, pois a cama de Andrew é relativamente alta. Respirei fundo algumas vezes e olhei para o rosto dele, esperando pelas devidas explicações.

— Amy, tem certeza que está bem? Eu realmente não sei...

— Apenas me diga, Andrew.

Ele estava em pé, mas logo puxou uma cadeira e sentou-se a minha frente. Estávamos próximos o bastante para ter nossos joelhos encostando-se no outro e no momento, eu precisava daquilo. Precisava de alguém por perto, certificando-me que eu estava acordada e pronta para ouvir o que ele estava disposto a dizer.

O olhar dele transmitia preocupação e hesitação, mas eu realmente não estava nem aí para o que ele estava sentindo no momento. Eu queria apenas saber a verdade. A maldita verdade.

— Eu nem sei como começar — murmurou — nunca sequer cheguei a essa parte. — pigarreou antes de prosseguir — nós nos conhecemos em 1837.

No momento, ouvia apenas o sangue pulsando violentamente em meus ouvidos. Respirei fundo, concentrando-me ao máximo em ouvir o resto da história que Andrew narrava calmamente.

— Eu era um anjo — continuou — ainda morava no céu quando vi você pela primeira vez. E eu me apaixonei, Amy. Mas esse amor era proibido, então comecei a descer à Terra em segredo, ou quase isso. Comecei observando você de longe, pois não tinha coragem de aproximar-me de verdade, já que meu medo de que alguém do clero descobrisse era maior...

— Clero? — indaguei interrompendo-o.

— Clero é uma espécie de aliança entre os arcanjos. É o segundo poder abaixo de Deus. Os arcanjos controlam tudo e a todos. Isso foi preciso desde o que ocorrera com Lúcifer, para que mais casos envolvendo traidores fossem descobertos a tempo. Enfim... — engoliu em seco — se o clero descobrisse que eu havia me apaixonado por uma humana e que, eu estava descendo à Terra sem estar em um missão, eles arrancariam minhas asas sem pestanejar. Mas fiz de tudo para ser discreto, o que durou um longo tempo. Mais tempo do que eu havia imaginado.

"Em uma dessas idas, eu encontrei Lilith e fizemos um acordo. Ela ajudaria-me em relação a você se eu desse algo em troca. Eu aceitei por quê eu não conhecia o mundo tão bem quanto conheço agora, e a ajuda dela no momento parecia ser oportuna."

— E o que você deu em troca? — ousei perguntar. Talvez eu estivesse fazendo perguntas demais, mas eu precisava saber de tudo.

Andrew pareceu desconfortável antes de responder:

— Digamos que... a minha inocência.

— Com inocência você quer dizer...

— Sim.

— É, ok.

— Então... — pigarreou mais uma vez — após o trato, Lilith me mostrou lugares que certamente anjos não deviam ir. Vou ser sincero, Amy, eu dormia com mulheres desconhecidas e acordava no outro dia mal sabendo seus nomes ou de como realmente eu devia ter parado ali. Foi assim durante semanas até eu perceber que meu foco não era mais você, e sim, a vida a qual eu estava levando. A vida que certamente não queria para mim.

Meu CarmaOnde histórias criam vida. Descubra agora