24. Hotel

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— Eu preciso ir ao banheiro.

— Agora? — Andrew indagou, ainda com os olhos focados na rua.

— Sim. Você pode parar naquele posto — apontei com o indicador para o posto do outro lado — você enche o tanque enquanto vou na loja de conveniência. Prometo não demorar.

— Tem certeza que não consegue aguentar mais um pouco?

— Bom, se você gostar do cheiro de urina nesse assento fofo...

— Tudo bem! — exclamou, manobrando o carro para finalmente estacionar.

Se não fosse o fato de que minha bexiga estava prestes a explodir, eu poderia sorrir vitoriosa.

Saí do carro apressada, quase tropeçando uma ou duas vezes em meus próprios pés.

— Nos encontramos lá dentro. — Andrew gritou às minhas costas, antes que eu finalmente alcançasse a porta de vidro da pequena loja.

Perguntei de uma moça simpática no balcão se havia algum banheiro perto. E com um sorriso, a mesma apontou para o fundo da loja. Corri até lá, adentrando o cubículo que tinha um cheiro estranho de água sanitária misto de desinfetante, daqueles que no rótulo se lê "fragrância de pinho", sendo que na verdade, não chega nem perto de se parecer com pinho.

Após terminar de usar o banheiro e lavar as mãos incontáveis vezes — fico um pouco aflita em banheiros desconhecidos — saí e encontrei Andrew na seção dos destilados, olhando atentamente tudo em volta.

— Você não vai comprar nada. — eu disse — está dirigindo.

Andrew estalou a língua. Olhei em volta também, procurando os absorventes. Sentia que algo muito ruim estava prestes a vir. Era o que indicava a forte cólica que eu estava sentindo.

— Andrew. — eu disse, segurando fortemente em seu ombro com sua inseparável jaqueta de couro — há algo de errado.

Levei minha outra mão à barriga e abaixei os olhos, respirando pesadamente. Soltei um grunhido relativamente baixo, como se eu estivesse sentindo uma dor súbita e aguda.

— O que você tem? — Andrew disse com a voz claramente carregando preocupação — o que está sentindo?

— Dor. — respondi com a voz falha. Levantei o rosto para olhá-lo. O seu semblante também carregava preocupação e quase senti pena.

Fala sério, sou uma ótima atriz.

Senti as mãos de Andrew em meu corpo, como se estivesse pronto a qualquer momento para pegar-me nos braços.

— O que você está sentindo? — ele tornou a perguntar, tentando controlar a voz já um tanto exasperada, olhando em volta, como se paramédicos fossem surgir da sessão de produtos de limpeza. — por favor, seja mais específica.

— Eu... — tossi. Uma tosse seca e claramente falsa — eu estou morrendo de dentro para fora.

Andrew estava prestes a pegar-me nos braços quando afastei-me desatando a rir. Senti seu olhar confuso pousar em mim, mas que logo foi substituído por uma carranca ocupando seu semblante.

— Não acredito que você fez isso. — ele disse seriamente.

— Me desculpe! — eu disse, ainda em meio a uma risada — Estou com um pouco de cólica — respirei fundo, tentando soar séria — sabe como é, menstruação. Sangue para todo lado. Bem chato.

— Nunca mais faça isso!

E então, ri novamente.

***

Meu CarmaOnde histórias criam vida. Descubra agora