Meu Carma

3. Charlotte

Lucy pediu para que eu fosse à feira e comprasse algumas batatas para o almoço. Apesar de que Lucy não cozinhe tão bem assim, seu purê de batatas é considerado o melhor purê da família. Isso se claro, a família fizesse algum tipo de competição para descobrir quem faz o melhor purê.

O ruim de ir à feira é sempre o fato de que os vendedores não são um exemplo de simpatia. Sem contar que os fregueses são obrigados a andarem por entre espaços minúsculos, esbarrando uns nos outros.

E também há quem venda qualquer tipo de coisa além de verduras e legumes.

"Celular por apenas 15 libras! Isso mesmo, caro freguês!"
"Roupas e acessórios por 25 libras!"
"Comprem suas próprias pinturas! Por apenas 20 libras!"

Mas também há o maravilhoso cheiro de curry por toda a extensão da feira. Uma forma convidativa de conhecer quase todas as barracas de comidas estrangeiras.

Poderia ficar o dia todo na feira se possível, porém hoje minha missão é apenas comprar as batatas.

***

Enquanto paro em uma barraca qualquer e fico encarando alguma das batatas - uma forma de quem sabe, familiarizar-me com as batatas estranhas à minha frente - ouço alguém cantarolar uma música animadinha ao meu lado. Viro o rosto e dou de cara com uma garota, aparentemente com a idade próxima da minha: 17 ou quem sabe, 18 anos.

Sorria enquanto colocava alguns tomates em uma sacola pequena e transparente.

Antes que pudesse perceber, já estava cantando em voz alta a música a qual a mesma cantarolava de uma forma animada.

- Close your eyes and I'll kiss you.

- Tomorrow I'll miss you. - completou enquanto sorria para mim.

Logo senti minhas bochechas arderem devido a vergonha. Percebi que a senhorinha da barraca nos encarava com atenção, sem alguma expressão em seu rosto um tanto rosado.

Gostaria de ter escondido meu rosto atrás de uma folha de couve qualquer e tentar sair dali, o mais rápido possível.

- Oh, desculpe. - tentei dizer, não sabendo exatamente para quem desculpar-me.

A garota à minha frente pareceu divertir-se e fiquei confusa, imaginando o porquê do sorriso estampado em seu rosto fino e levemente rosado nas bochechas, um tiquinho alvas demais. Poderia dizer que a mesma era apenas uma bonequinha de porcelana. Parecia tão frágil, ao ponto de quebrar-se apenas por um movimento brusco ou rápido demais.

- Meu nome é Charlotte, e o seu é...? - perguntou com a voz travessa, fazendo-me desejar que pudéssemos conversar o dia todo e possivelmente, nunca poderia cansar-me em ouvi-la.

- Sou Amy. - consegui dizer sem que pudesse gaguejar. Com certeza sou péssima em fazer contato com as pessoas. Não que eu seja anti-social. É só que pessoas bonitas deixam-me sem saber o que falar, pois qualquer coisa que sai de minha boca parece ser apenas várias besteiras sem nexo algum.

- Gosta de Beatles, Amy? - perguntou.

Assenti concordando. Estava com medo de abrir a boca e falar asneiras, como o de costume.

- Apesar de morarmos em Londres, é um tanto raro encontrarmos alguém que goste de Beatles. - disse enquanto amarrava sua sacola com todos os tomates já postos lá dentro - além de alguns moradores antigos. Já foi em Liverpool?

O que ela estava pensando? Só porque moro em Londres e que gosto de Beatles, não significa de que já fui à cidade Natal da banda.

Mas na verdade, já fui sim. Certa vez em minhas férias com mamãe. Lucy havia ficado na casa de minha tia, pois estava doente demais para sair de casa.