21. Resquícios de Memória

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Senti a mão de Andrew em minha coxa, subindo um pouco enquanto afastava o tecido do vestido, mas parando em seguida, ficando apenas ali, apertando levemente.

Envolvi minhas pernas em volta de seu corpo, juntamente com meus braços em sua nuca, aprofundando o beijo. Puxei de leve seus cabelos, fazendo Andrew arfar em resposta.

Em algum ponto do castelo, o relógio de pêndulo soou quebrando o silêncio, indicando assim que já eram meia-noite. Paramos o beijo desmachando-o em selinhos. Abri os olhos lentamente, desejando que o beijo não tivesse terminado tão rápido.

Andrew encostou lentamente a testa na minha, os olhos ainda fechados e os lábios entreabertos, respirando pesadamente. Eu sei o que ele havia sentido. Um breve choque percorreu meu corpo durante o beijo, esquentando cada lugar. Sabia que ele havia sentido o mesmo, devido aos pelos de seus braços que encontravam-se eriçados, assim como os meus.

— Feliz aniversário. — Andrew sussurrou.

Respirei fundo e procurei seus olhos, que já estavam abertos fitando-me seriamente.

— Como você...

— Apenas sei. — interrompeu-me.

Não pude evitar sorrir.

— Obrigada. — consegui dizer.

Ficamos em silêncio. Um silêncio acolhedor que durou segundos, resumidos em carinhos contínuos nas bochechas um do outro. E pela primeira vez em muito tempo, me senti em paz.

Fechei os olhos, permitindo-me a aproveitar o toque calmo da mão de Andrew em meu rosto. Minhas mãos desceram e firmaram-se em sua cintura. Não queria sair dali. Queria senti-lo por perto. Queria ter suas mãos nas minhas e perceber o quanto se encaixam perfeitamente. Queria dizer dos sentimentos confusos que floram em mim toda vez que o vejo, e queria que ele dissesse o mesmo.

Queria ficar ali mais do que qualquer outro lugar no mundo.

Busquei seus lábios quando levantei a cabeça um pouco. Encontrei-os e depositei mais um beijo. Dois. Três. Nossos lábios alternavam-se entre os pescoços de ambos e as nossas bocas, onde depositávamos beijos ternos, calmos e quentes. E lentos, como deviam ser. Quando acabavámos, puxava seu lábio inferior entre meus dentes, desejando que de forma alguma os beijos acabassem. Era isso que eu precisava depois de tantos... anos.

Paramos com o que parecia ser a centésima vez e eu ainda não estava satisfeita. Queria mais. Queria mais dele. Queria ele todo, para ser sincera. Mas minha vergonha era maior para dizer tal coisa em voz alta.

— Bom, agora você cumpriu o desafio. — Andrew disse, retirando com as mãos meus braços ainda envoltos em sua nuca, afastando-se abruptamente em seguida.

— O quê? — minha voz saiu falha e a confusão tomou-me por completa.

— Você entendeu. O seu desafio está cumprido. — respondeu, voltando a cortar mais limões em rodelas, jogando-os calmamente na jarra um a um.

— Você só me beijou pelo desafio? — eu estava lutando contra minhas emoções, caso contrário, meus gritos estariam ecoando por cada cômodo do castelo.

— E haveria outro motivo?

Minha boca estava aberta, sem sair som algum, sem dizer nada. Se é que no momento eu deveria dizer alguma coisa. Talvez um "vai se foder" fosse o certo.

— Você só pode estar brincando! — disparei, saindo de cima da bancada em seguida, arrumando o vestido que Andrew havia levantado um pouco, sentindo-me uma idiota.

Pensei em jogar aquela maldita jarra com limonada em cima dele, mas fazer uma cena em uma cozinha vitoriana no meio da madrugada não combina muito comigo.

Meu CarmaOnde histórias criam vida. Descubra agora