31. Caos

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Foi durante o jantar que Andrew teve um colapso nervoso. Foi estranho, intenso e engraçado ao mesmo tempo. Em meio ao jantar, enquanto comíamos algum prato requintado e fino o qual eu não fazia ideia do que era exatamente, Andrew levantou-se de forma abrupta, segurando fortemente o garfo em uma das mãos.

Charlie, que estava em pé com as mãos juntas uma na outra, ao lado da mesa, lançou-me um olhar preocupado e a correspondi com um olhar parecido. Sem dizer nada, o segui pelo estreito corredor onde exatamente ficava o famoso escritório. O corredor estava vazio e todas as portas estavam fechadas, entretanto, eu sabia que ele estava ali. O escritório era seu porto seguro; sua forma sólida de escape quando as coisas não iam bem. Exatamente como estava acontecendo no momento.

Bati uma vez e esperei em silêncio por uma resposta.

— Não entre! — vociferou Andrew do outro lado.

Convicta de minha escolha, desobedeci seu mandato, fechando cautelosamente a porta às minhas costas em seguida. Olhei para Andrew e pude capturar com o olhar a personificação do caos: o cabelo preto estava completamente bagunçado, deixando vários fios cobrir-lhe as pálpebras; as sobrancelhas estavam unidas, evidenciando sua profunda carranca; seus olhos estavam injetados em sangue; as veias de seus braços e pescoço estavam saltadas de uma forma que eu jamais vira antes; sua respiração áspera era totalmente audível naquele cômodo, que no momento aparentara ter encolhido tanto, retirando de forma quase impossível o ar que antes ali havia.

O garfo ainda empunhado em sua mão transmitia uma mensagem clara e estranhamente hilária: "não se aproxime!"

— Não ouviu o que eu disse? — vociferou Andrew mais uma vez — Eu disse em alto e bom som para que não entrasse.

— É, eu ouvi, mas não costumo obedecer certas ordens de qualquer maneira. — repliquei tentando ao máximo conter um sorriso.

Andrew bufou enquanto caminhava de um lado a outro.

— Que tal largar esse garfo? — indaguei, tentando aproximar-me cautelosamente para que pudesse tirar o maldito talher de sua mão — Sabe como é, não quero ser atacada por alguém empunhando um garfo.

Antes que eu pudesse finalmente segurar sua mão, Andrew largou o garfo para que caísse em um pilha de livros no chão e, ainda claramente furioso, tornou a caminhar de um lado ao outro.

— Ok, por que você não se senta e então, podemos conversar sobre isso? Seja lá o que isso for. — eu disse, murmurando a última parte.

— Você não entende! — gritou, agarrando o cabelo como um lunático — Era para... para eu ter matado Logan. A todo momento a visão da mão dele tocando você invade meus pensamentos.

Respirei fundo, finalmente entendendo o que estava acontecendo.

— Andrew, está tudo bem, estamos aqui agora e...

— Viu?! — interrompeu-me, as sobrancelhas arqueadas, os olhos azuis brilhavam de forma estranha — Você não entende. Era para ele ter o que merecia. A morte. — riu em seguida, mesmo não havendo humor.

— Você está ouvindo o que está dizendo? — indaguei, sentindo a confusão e a irritação crescerem gradativamente em meu peito — Parece a porra de um psicopata.

— Eu preciso bater em alguém. — disse Andrew mais para si mesmo do que para mim, ignorando minha fala dita anteriormente.

Aproximando-me da enorme mesa de carvalho, procurei por algo para ser usado no momento. Algo perfeito e quebrável. Essa palavra existe, certo? Espero que sim.

Em minha pequena busca, encontrei uma taça, a qual Andrew sempre costuma tomar vinho.

— Aqui — eu disse, mostrando para ele a taça perfeita em minha mão — tente isso.

Meu CarmaOnde histórias criam vida. Descubra agora