Namorado de Mentirinha (Revisando)

Capítulo 26

Fui tomar meu café da manhã, olhei pela janela e estava Sol, não sabia se a Rubie iria querer fazer alguma coisa hoje, então subi para o quarto.
Quando entrei, vi Rubie sentada na cama, com ela haviam várias fotos espalhadas, a cada uma que ela pegava seu sorriso se amplificava mais, mas seu olhar parecia distante.
Me aproximei e vi que ficou mais séria.
- Está vendo fotos do interior?
- Só relembrando algumas coisas.- Disse ela, querendo aparentar que não estava se importando tanto com aquilo.
- Está com saudade de lá?- Perguntei e Rubie me olhou. Eu tinha acertado, a conhecia muito bem.
- Ah, John... Eu pensei que nem iria sentir falta, que iria me tornar 100% uma garota da cidade grande... Mas sinto saudade do que tínhamos lá, da tranquilidade, da liberdade. E também estou morrendo de saudade da tia Dulce, falei com ela ontem a noite por e-mail.
- Bom, isso é porque por mais que você ame a cidade grande, seu coração sempre foi a de uma garota no campo... É normal sentir saudade!
- É... Mas parece que falta um pedacinho.- Disse ela pegando uma foto nossa em frente a árvore que dizíamos ser nossa.
Olhei para Rubie e fiquei pensando, queria poder ter um jeito de fazer ela se sentir melhor, então tive uma idéia.
- Se arruma!- Falei animado.
- Por que?
- Porque nós vamos sair!
Ela ainda ficou perguntando para onde, mas eu fiz um pouco de suspense. Rubie se arrumou e nós seguimos para um parque que eu tinha ouvido falar, lá era enorme, florido e com várias árvores, lagos e paisagens lindas. Não era o interior, mas achei que faria bem para a Rubie passar um dia ao ar livre.
- Então, nós vamos passar um dia no parque?- Perguntou ela sorrindo.
- Vamos! Não é exatamente do que você está com saudade, mas vamos poder fazer algumas coisas que fazíamos antes. Como por exemplo...
Tirei do bolso da calça aquela nossa foto na árvore, ela a pegou e sorriu.
- Acho que temos que ter a nossa árvore também na cidade grande!
- Hoje vamos caçar a árvore perfeita?
- Isso, enquanto aproveitamos o nosso dia!
Peguei a mão da Rubie e fomos, o parque realmente era bem grande, caminhamos e conhecemos vários lugares, tiramos foto em estatuetas, observamos as fontes na água. Paguei sorvete para nós e ficamos tomando, enquanto conversávamos animados.
- Então, a Bárbara adorou a surpresa do Miguel?- Perguntei.
- Sim, não para de falar nas coisas que ele faz para ela. Se brincar, logo começa a rolar sentimento!
- Bom, aí complica um pouco, não sei exatamente se é algo sério o que o Miguel quer...
- É por isso que eu sempre falo para ela ficar com ele, mas ninguém me escuta. É bem melhor do que correr o perigo de se apaixonar!
- Agora se apaixonar é errado?- Perguntei a analisando.
- Não sei se é errado, só sei que é algo muito difícil e complicado. Mas acho meio impossível aqueles dois acabarem namorando.
- Também achava impossível tudo o que estamos fazendo e mesmo assim aconteceu!
- É porque só nós dois somos loucos de inventar uma história tão doida como a de um namoro de mentira!- Disse Rubie me olhando divertida.
- E é loucamente perfeita!- Sorri para ela.
Decidimos pegar bicicletas e dar uma volta pelo parque, Rubie e eu íamos a toda velocidade desviando por pouco das pessoas e fazendo baderna, me lembrou muito o interior fazer aquilo como se fossemos dois adolescentes aprontando.
- Vai, John! Ficou enferrujado nesses meses, foi?
- Claro que não! Estou melhor que você!
- Isso é o que eu quero ver!
E íamos apostando corrida enquanto ríamos por qualquer motivo. Depois da Rubie quase bater de cara em uma árvore, paramos cansados.
- Ufa, acho que só nessa corrida perdi todas as calorias das pizzas que comi!- Falou ela ofegante.
- Eu também! Logo vou estar velho de mais para isso.- Falei sentindo minhas penas doerem de tão rápido que a gente foi.
- Vem, idoso! Eu quero algodão-doce.
- Só pensa em comer!- Falei, enquanto Rubie me puxava pela mão.
- É a melhor coisa do mundo depois de transar... Ou será que comida é melhor que sexo? Dúvida polêmica.- Falou ela colocando a mão na boca. Revirei os olhos rindo e fomos.
Depois que fizemos uma pausa para comer, fomos em uma parte do parque que estava mais vazia, Rubie ficou descalça e se aproximou do lago.
- Acho que é proibido fazer isso!- Falei.
- Ah, tudo bem! Como eu sou uma cidadã muito politicamente correta, vou me importar com isso.- Falou sarcástica, enquanto balançava seus pés na água, alguns patos se aproximavam e Rubie atacava alguns pedacinhos de pão que tinha com ela.
- Não sei como você ainda não mergulhou aí.- Eu disse, enquanto me sentava ao seu lado.
- Só porque eu não quero voltar encharcada para casa, se não eu ia!
- Tipo... Assim?- A empurrei, mas a segurei de volta.
- Seu louco! Não faz mais isso!- Gritou ela, tinha se assustado. Eu ria enquanto ela tentava me bater.
- O que? Ficou com medinho de se afogar?
- Não! Eu sei nadar, tá?
- Mesmo se não soubesse, eu faria uma respiração boca a boca e ficava tudo bem.- Falei piscando para ela.
- Muito engraçado, se eu for depender de você como salva-vidas estou lascada!- Falou rindo.
- Nada, eu sou ótimo nisso! Quer uma demonstração?- Falei enquanto olhava para a sua boca divertido.
- Depende... Esse salva-vidas beija bem?- Disse Rubie me olhando brincalhona, estava louco para beijar ela.
- Chega mais perto que eu te mostro...- Eu disse enquanto nos olhávamos com desejo, Rubie sorriu e se aproximou.
Mas ao invés do seu beijo recebi água que ela jogou na minha cara, se levantou rindo e falando:
- Isso foi pelo susto!
- Sua... Agora eu te jogo nesse lago!
- Não, John! Para, eu estava brincando!- Dizia rindo enquanto eu saia correndo atrás dela.
Depois disso saímos a procura da árvore.
- Que tal essa?- Perguntei.
- Não, muito fraca. A nossa árvore tem que ser grande e maior que as outras, igual a nossa união.
- Ai, que bonito! Nem parece que saiu da sua boca.- Falei zoando ela.
- Fica quietinho, John. E continua a procurar!
Olhei para ela e a fiquei admirando. Como conseguia ser tão encantadora? Peguei a câmera nova que ela tinha me dado e tirei uma foto assim que olhou para mim.
- Eu não estava esperando!- Falou ela surpresa.
- Essas são as mais perfeitas... Você está linda.
Rubie sorriu, mas focou em algo atrás de mim.
- Olha, John!
- Achou a árvore?
- Não, mas achei uma borboleta azul. Olha que linda, é a primeira que eu vejo aqui em São Paulo. Anda, tira uma foto!
Peguei um ângulo bom e tirei, a borboleta saiu voando em seguida.
- Azul é a minha cor favorita... Depois de vermelho, é claro!- Falou olhando para os meus olhos e sorrindo.
Olhei para frente e falei:
- Achei!
A nossa frente havia uma bela árvore, era grande e bonita, se destacava das demais.
- É perfeita!- Falou Rubie indo até ela.
Nos aproximamos e a admiramos, depois de uns minutos pegamos algo pontiagudo e fizemos o J+R igual ao que tínhamos feito em uma árvore do interior na infância, aonde sempre gostávamos de ficar. Ainda estava lá intacto e agora tínhamos uma na cidade grande.
- Pronto, igual ao do interior!- Disse Rubie alegre.
- Quase, faltou nossa foto.- Falei isso puxando ela pela cintura, nos aproximamos e sorrimos para a câmera. Ficou uma cópia perfeita da que tinhamos no interior, só que em idades diferentes.
Depois que achamos a árvore, decidimos ficar por lá. Se for mesmo igual a do interior, ali se tornaria o nosso novo lugar favorito. Rubie se sentou escorada na árvore, eu me deitei e encostei a cabeça no seu colo, costumávamos fazer muito isso. E assim ficamos aproveitando aquela tarde, com um belo pôr do Sol a vista, uma brisa leve batendo e fazendo as folhas se mexerem, com a Rubie acariciando meu cabelo. Ela gostava de fazer aquilo e eu mais ainda, seu toque suave fazia parecer que não tinha mais nada em volta, apenas nós dois.
- Você tinha razão quando falou que tinha mãos de anjo...- Falei com os olhos fechados e sentindo seu carinho.
- Nós somos o anjo um do outro, sempre lutando contra o mundo juntos. Acho que você me faz ser forte, John...- Falou ela sorrindo pensativa e entrelaçando nossos dedos. Seria burrice ter esperança sobre ela também sentir algo? Abri meus olhos e fiquei admirando os detalhes do seu rosto, seus olhos verdes eram lindos, sua boca era fascinante, tudo na Rubie me encantava e fazia eu pensar em querer ter um futuro com ela, podia ser loucura, mas eu faria qualquer coisa pela Rubie e eu sabia que ela também faria qualquer coisa por mim.
- Está ficando tarde. Vamos?- Perguntou.
Nos levantamos, mas fiquei pensativo, eu não queria ir embora. Não queria que aquele momento acabasse, na verdade, queria que aquilo se repetisse todos os dias, mas sem ser uma mentira. Eu queria a Rubie... E precisava ser agora.
- Rubie...- Falei meio sem jeito e ela se virou para mim.
- O que foi?
- Eu... precisava falar uma coisa para você.
- Pode falar.- Ela sorriu.
Respirei fundo e olhei nos fundo dos seus olhos.
- Rubie, muita coisa aconteceu nesses meses aqui, coisas incríveis! Se me falasse ano passado que tudo isso ia acontecer, eu com certeza não acreditaria... Mas desde que eu aceitei o nosso acordo, tudo se tornou uma loucura maravilhosa. Nunca pensei que seria possível eu sentir algo assim, ainda mais por nós dois nunca termos tido nenhum interesse do tipo um no outro, mas...
Senti meu coração acelerar como um louco, conforme eu tomava coragem e dizia tudo o que estava sentindo:
- Nesses últimos tempos eu me apaixonei por você, Rubie... E esse sentimento parece só aumentar a cada dia que passa...
Rubie parecia confusa e eu me sentindo nervoso como um adolescente, o medo e a ansiedade pela sua reação faziam meu coração querer sair pela boca.
- Ai, John! Para de brincar com a minha cara, por um segundo eu quase achei que você estava falando sério!- Disse Rubie rindo e revirando os olhos. Eu fiquei quieto, não sabia o que dizer.
O sorriso da Rubie foi murchando assim que ela viu que eu ainda estava sério.
- Ai meu Deus... Você está falando sério?
Concordei com a cabeça e mantive o olhar fixo no seu.
- Estou Rubie, muito sério...
Rubie parecia meio atordoada.
- Bom, eu... Caramba, não sei como reagir! Eu nunca que iria...
Continuei esperando, ela sabia que teria que me dar uma resposta.
- John... Como vou falar isso? Já sei... Isso é loucura!- Falou dando de ombros e sorrindo, totalmente sem jeito.
- Nossa vida é uma loucura, se você não percebeu.
- Sim, mas essa passou um pouquinho dos limites, não me leve a mal, mas nós somos a Rubie e o John. A gente se envolver assim seria muito estranho!
- Mas Rubie, a gente já se envolve assim!
- Só que é uma mentira, John! Um acordo. Ou você esqueceu dessa parte?
- Não me esqueci do acordo, mas pensei que poderíamos transformar a mentira em verdade. Rubie, estou completamente apaixonado por você, podemos fazer isso dar certo!- Eu insistia, ainda não conseguia aceitar a idéia dela negar.
- Ai, John... Sério que você vai me fazer falar com todas as palavras?- Falou ela parecendo um pouco aflita.
Continuamos nos olhando, eu não sabia se queria ouvir a resposta, mas acho que precisava.
- Ok... - Rubie tomou coragem e disse-Nós não podemos ter nada porque eu não quero nenhum tipo de envolvimento com ninguém, isso também inclui você! Todos os homens que chegaram perto de mim só me machucaram, cansei de colocar a minha felicidade na mão de alguém e essa pessoa jogar no lixo como se fosse um nada. Quem cuida da minha vida agora sou eu e não vou cometer a burrice de me apaixonar de novo!
- Não me compare ao William! Eu nunca faria você sofrer, sabe disso!
- Eu não quero pagar para ver... E nem irei.- Afirmou me encarando.
- Rubie...
- Desculpe, John. Mas eu realmente não quero nada com você.
- Você não sente nada, então? Quando a gente se beija ou se toca?- Perguntei confuso e meio aflito, olhando para a sua boca.
- Não... Eu estava fazendo o meu papel no acordo e achei que sabia disso! Um dos motivos para ter escolhido você para fazer isso comigo, foi justamente porque eu achei que era impossível rolar sentimento. Pelo jeito me enganei...- Rubie deu de ombros sem saber bem como agir.
Olhei para ela, já não sabia o que dizer, muito menos o que pensar. Incrível como aquilo conseguiu mexer comigo, estava arrasado e ela percebeu.
- Me perdoa, John...- Falou, parecia culpada, mas eu sabia que ela não ia voltar atrás da sua decisão. Balancei a cabeça e falei:
- Melhor irmos embora...
Rubie não sabia se falava alguma coisa ou ficava quieta, então seguimos em silêncio. Eu só queria ficar sozinho.
Incrível como um sorriso dela animava o meu dia e um não arruinava os meus planos.