Capítulo 39

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Descemos e nos sentamos a mesa de jantar, todos já estavam lá.
- Achei que não iam descer de novo.- Falou Helena.
- Eu também achei. Até pedi para fazerem esse prato pensando em você, Rubie.- Disse vovó.
Olhei para o ensopado com legumes, estava com uma cara ótima. Começamos a comer, Celeste olhava para mim disfarçadamente mas eu não conseguia encara-la, talvez com medo dela notar alguma coisa de diferente, Celeste me conhecia muito bem.
- O que foi, Rubie?- Perguntou Helena.
Rubie estava fixa no seu prato, mas não estava com uma expressão muito boa.
- O que houve, querida? Você sempre gostou tanto dos ensopados que eu fazia.- Disse vovó
- Eu sei, vovó Bel... Mas... Esse está diferente do que a senhora fazia.
- Nem tanto, fiquei de olho enquanto a cozinheira ia fazendo para ficar bem parecida com a minha.
- Mas essa está com... muito caldo, tem pedaços de carne e o cheiro...
- O que tem o cheiro?
- O cheiro está...
Rubie soltou a colher abruptamente e se levantou do nada, saiu correndo mas quando chegou na porta do banheiro que ficava no corredor, ficou meio que "dançando" com a empregada que não sabia para que lado ia com a sobremesa.
- Ai Dolores!! Para de samba na minha frente!
Ela conseguiu entrar e se trancou no banheiro.
- Nossa, o que foi isso?- Perguntou Cíntia.
- Não faço a mínima idéia!- Disse Helena.
- Vish, a azeda parece estar mal- Falou Justin.
- Será que ela está doente?- Questionou Celeste.
- Ela parecia bem antes, a sopa está tão ruim assim?- Perguntou vovó
- Para mim está normal- Comentou Helena.
Eu fiquei quieto, sem conseguir olhar para elas. Rubie voltou do banheiro meio pálida e se sentou a mesa.
- Ai não... Não quero mais olhar para o ensopado, hoje não está descendo!
- Mas você nem tocou na comida, Rubie.
- Não estou conseguindo, acho... que estou ruim do estômago.- Deu uma desculpa.
- Parece mesmo! Acho melhor você ir no médico.- Disse vovó.
- É... se continuar eu vou.- Falou Rubie baixinho.
Eu estava pensativo. E se a Rubie passasse mal direto? E se a barriga dela crescesse antes de conseguirmos dinheiro? E se sua família descobrir meses depois e ficarem revoltados por termos escondido algo desse patamar? Precisávamos fazer algo, mesmo que isso significasse sacrificar muitas coisas... A Rubie precisava de mim.
Segurei a mão dela e disse:
- Acho que deviamos contar...
Rubie me fuzilou com os olhos e fez que não com os lábios.
- Contar o que?- Perguntou Helena.
- Que eu e o John estamos pensando de comprar um carro! É ruim ficar dependendo de táxi ou do carrinho da Cíntia para se locomover pela cidade grande, então...
Ela começou a falar sem parar para disfarçar.
- Rubie... Não vai adiantar, temos que contar a eles!- Disfarcei para ninguém ver e fiz com os lábios "menos o acordo".
Rubie entendeu o que eu quis dizer, pensou um pouco e olhou para elas com um olhar firme, ficou assim por alguns instantes mas só conseguiu soltar baixinho:
- Sapatinho...
Todos se entreolharam confusos e eu revirei os olhos.
- Como assim sapatinho?- Disse Helena.
- Rubie está grávida!- Falei em alto e bom tom, soltei o ar e me encostei na cadeira.
Teve um minuto de baque e depois Helena:
- Ela o que?!
- Oh, os céus me ouviram! Eu vou ser bisavó!- Comemorou vovó Ana fazendo uma dancinha sentada.
- Está de brincadeira, a Rubie está esperando um filho?- Perguntou Cíntia.
- Eu vou ser titio? Eu vou ser titio!- Disse Justin com cara de bobo.
Celeste foi a única que não se pronunciou, a olhei temeroso e ela estava me encarando. Ela parecia confusa e seus olhos eram um misto de várias coisas, de raiva, tristeza... Mas principalmente de mágoa.
Ela se levantou, jogou o guardanapo sobre a mesa e se dirigiu as pressas para o andar de cima.
- Oshi, o que deu na Celeste?
- Não sei... Mas essa não é a questão e sim o por que vocês decidiram ter um filho logo agora?- Disse Helena.
- Não decidimos...- Disse Rubie.
- A gravidez não foi planejada, apenas aconteceu...- Falei
- Aconteceu? E vocês não tomavam cuidado, não?
- Hã... Sim, mas acabamos nos descuidando um pouco.
- Sei! Um pouco... Se descuidaram e muito! Sabem a responsabilidade que é ter uma criança?
- Ai Helena, pare de ser uma velha resmungona apenas um momento e comemore! Uma criança é uma bênção!- Falou vovó.
- Mas eles também são crianças! Como vão cuidar de um bebê?
- Eles deixaram de ser crianças a muito tempo! John é um homem responsável e com a cabeça no lugar, Rubie é... Bom, talvez essa criança tenha vindo para amadurecer ela um pouco.
- Até minha vó me chama de irresponsável nas entre linhas...
- Não foi isso que eu quis dizer... Mas parabéns, meus queridos! Não sabem como essa notícia me deixou feliz!- Disse vovó se levantando para ir abraçar a Rubie, depois vindo até mim.
- Tenho certeza que vocês vão ser uma ótima mãe e um ótimo pai!- Falou enquanto me abraçava.
Pai...
Depois de muita conversa e várias perguntas constrangedoras, conseguimos nos livrar da euforia da vovó Ana e da revolta da Helena. Estávamos subindo para o quarto quando o Justin falou:
- Parabéns, mano! No seu lugar eu nunca teria engravidado uma mina aos 21, ainda mais sendo a Rubie... Mas estou feliz por vocês!
Deu tapinhas nas minhas costas e entrou no seu quarto. Rubie entrou no nosso e perguntou:
- Você não vem?
- Eu... preciso fazer uma coisa antes.
Ela concordou com a cabeça e fechou a porta. Eu estava tenso, mas me sentia na obrigação de fazer aquilo. Respirei fundo e bati na porta do quarto da Celeste... Sem resposta, a abri devagar e a vi sentada em sua cama.
Assim que me viu, passou a mão no olho apressada e abaixou a cabeça. Entrei e fechei a porta, ela perguntou baixinho:
- O que está fazendo aqui?
- Eu... Preciso conversar com você.
- Poupe suas palavras, John. Quero ficar sozinha- Disse rápido.
- Eu sei, mas por favor... Me escute
Me aproximei dela, Celeste me olhou nos olhos.
- Me perdoe, Celeste... Eu nem sei o que te dizer, mas nunca quis que você se magoasse.
- Tarde demais... Te perdoar pelo que, John? Por ter me iludido? Por ter feito eu acreditar que você ainda tinha sentimentos por mim e que iríamos voltar? Juro que eu podia esperar isso de qualquer um, mas logo de você?- Dizia ela enquanto uma lágrima escorria pelo seu rosto.
- Celeste... Tudo o que eu disse foi verdade, se eu pudesse te explicar...
- Não tem o que explicar! Está bem claro, você engravidou a Rubie! Vão ter um filho juntos!... E você ainda dizia que não estavam tendo absolutamente nada. Não passa de um mentiroso!
- Eu não menti...
Minha voz falhou, percebi que minha vida estava sendo uma mentira sem fim. Ela me encarou muito ressentida e disse:
- Só me esquece, John. Nada disso importa mais... Eu quero e vou te esquecer também.
Senti um aperto no peito. Isso era um adeus para tudo o que vivemos e para o que iríamos viver?
- Por favor, Celeste... Me perdoa
- Sai... Ja disse que quero ficar sozinha.
Disse ela apontando para a porta, ela estava de cabeça baixa mas vi que mais lágrimas caiam. Era horrível ver ela assim, Celeste tinha todas as razões para me odiar, por mais que eu não tivesse feito nada disso, tudo indicava que tinha. Me enrolei nas minhas próprias mentiras...
Sai do quarto dela e fui para o nosso, Rubie tinha acabado de tomar banho e estava deitada, mas a expressão dela que antes era de pura alegria, agora parecia abalada.
- Você está com uma cara horrível- Disse ela.
- Igualmente...- suspirei- Fui falar com a Celeste.
- E ai?
- Eu perdi ela, Rubie. Esta magoada como nunca
- Bom... Talvez mais para frente ela esqueça e te perdoe, mesmo você não tendo feito nada de errado.
- Um filho não é uma coisa que a gente consegue esquecer. Do dia para o outro acabei me tornando um "pai de mentirinha"
Rubie olhou para baixo, talvez estivesse se sentindo culpada.
- Podemos achar um jeito de te tirar dessa, John. Eu me viro bem sozinha!
Tirei a camisa e me deitei ao seu lado.
- Não vou te deixar sozinha, estamos juntos nessa. Você não iria conseguir ser mãe solteira sem nenhum tipo de ajuda, então para todos os casos... Eu sou o pai.
Olhei para a barriga dela, nem parecia que tinha uma vida crescendo ali dentro. O fato era que eu e a Rubie iríamos continuar juntos, aconteça o que acontecer.

Namorado de Mentirinha (Revisando)Onde histórias criam vida. Descubra agora