Capítulo 2

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Se nosso plano iria para frente mesmo, teríamos que planejar tudo nos mínimos detalhes. O que mais me preocupava era deixar meu pai e meu irmão sozinhos, eles nunca se deram muito bem.
Cheguei a perguntar se eu não poderia levar o Justin comigo, mas já era claro que Rubie não iria querer, ela e Justin também não aguentavam muito tempo juntos sem sentir vontade de matar um ao outro. Na minha opinião era puro ciúmes!
Dulce também teria que ficar sozinha, Rubie se fazia de durona mas eu sabia que seu coração estava apertado, sua tia foi a que mais lhe deu carinho quando sua mãe dava as costas à ela.
Ficamos uma semana ajeitando tudo o que precisávamos para partir sem problemas, conseguimos convencer todo mundo de que estávamos fazendo a coisa certa, só não contamos a parte da mentira.
Meu pai não queria que eu fosse, por ele eu seria mecânico até virar um velho caquético, mas eu não queria ter o mesmo fim que ele.
Fui até a floricultura para nos despedirmos da tia Dulce, eu também gostava bastante dela.
- Ai, John! Como eu vou sentir falta de vocês.- Falou ela me abraçando, olhou para mim preocupada- Por favor, toma conta dela! Se ela já dá trabalho aqui no interior, imagina na cidade grande!
- Pode ficar tranquila, não vou deixar ela fazer nenhuma estupidez!
- Hello?- Cantarolou Rubie- Quem tem 21 anos aqui sou eu! Por que será que ainda me tratam como uma criança?
- Porque você age como uma. É mimada!- Disse Dulce.
- Irresponsável!- Completei.
- Impulsiva!
- Arrogante!
- Ok, já entendi! Isso é uma despedida ou a descrição das minhas qualidades menos favoráveis?
- Garota, você é impossível... Mas eu vou sentir muito a sua falta!- Dulce a trouxe para um abraço apertado e Rubie se entregou.
- Também vou, tia...
Eu e ela partimos para a estação onde iríamos pegar o ônibus de viagem, ele nos levaria para a cidade grande e de lá vamos para a casa da família da Rubie. Dentro do ônibus, quando nos sentamos, ela parecia que ia explodir de tanta empolgação, como uma criança quando ganha um brinquedo novo.
Já fazia tanto tempo que eu conhecia a Rubie, desde os meus 3 anos de idade, lembro como se fosse ontem daquela menina chata, de cabelos loiros esvoaçantes, que assim que me conheceu já saiu roubando um brinquedo meu e me colocando medo para não falar para ninguém. "Acho que vamos nos dar muito bem, maninho", falava ela. Rubie é um ano mais velha que eu e sempre foi esperta, aprontava suas loucuras e ninguém via. Acabava me colocando no meio, no fundo eu me pegava gostando das loucuras dela e de fazer parte delas, só espero que essa que acabamos de nos meter também seja uma das que eu não me arrependa no final.
A viagem foi demorada e cansativa, chegamos lá já estava dando 10 horas da manhã, assim que descemos procuramos um táxi e seguimos para o endereço que Rubie tinha marcado, eu estava preocupado e ela estava muito tensa, tinha prometido nunca mais olhar para a cara da sua mãe e agora teria que enfrentar toda a sua família, já tinha 4 anos que eles não se viam.
- Preparada?- Perguntei assim que estávamos de frente de uma bela casa, parecia ser bem grande e moderna.
- Claro que não, mas eu sou a Rubie, me dou bem em qualquer situação.- Ela olhou para mim e sorriu, tendo certeza do que estava dizendo.
Rubie segurou minha mão e nos dirigimos até a entrada, uma empregada veio nos atender.
Entramos na casa, comparada a que morávamos no interior aqui é o paraíso, não era uma mansão, mas é uma casa bem espaçosa e com móveis caros.
Enquanto eu e Rubie estávamos admirados com a casa, Helena veio até nós descendo as escadas, ela era uma mulher bonita e não aparentava ter seus 45 anos, ficar um tempo aqui na cidade grande fez bem a ela.
- John! Então é mesmo verdade? Juro que pensei que a Rubie estava mentindo.
- Dona Helena!- Falei e a abracei.
- É sério, querido! Você não sabe aonde está se metendo, aproveita que ainda dá tempo de correr!- Falou ela segurando meus ombros e me olhando bem séria como se eu estivesse enfrentando algum tipo de perigo eminente.
- É ótimo te ver também, mamãe! Para que passou um quilo de maquiagem na cara? Está escondendo as novas rugas?
Helena e Rubie se encararam, elas até que estavam sendo carinhosas uma com a outra comparado com as outras vezes que ficaram juntas, mas eu não queria estar ali quando uma das duas explodisse. Vovó Anabel apareceu do corredor, estava do mesmo jeitinho, com aquele belo sorriso e com a felicidade estampada no rosto.
- Oh, achei que não viveria para ver vocês dois de novo. Meu Deus, como cresceram!
- Vovó Ana!- Eu disse
- Vovó Bel!- Disse Rubie, e fomos de encontro à ela para abraçá-la, que riu.
- Vocês ainda lembram desse cumprimento que inventaram quando criança?
- Claro, vovó! Fiquei com saudade de você!- Rubie falou.
- Eu também, querida! Pena que Alfred não pôde estar conosco nesse momento.
- Sinto muito por ele, vovó Ana...- Falei.
- Está tudo bem, querido! A vida é assim mesmo, depois de mais de um mês a dor se anestesia, apenas a saudade fica.- Falou ela sorrindo de leve.
- Mais de um mês?- Perguntei surpreso e olhamos para a Rubie, pensei que tinha poucos dias.
- Foi mal! Como eu iria saber que aquelas trezentas mensagens eram sobre isso?
- Talvez lendo, não acha?- Disse Helena sarcástica.
- Está tudo bem, agora tudo isso já passou! Ah, as garotas também estavam ansiosas para verem vocês! Dolores, chame elas, por favor?- Vovó Anabel pediu para a empregada, que subiu as escadas. Quando voltou, estava acompanhada de Celeste e Cíntia.
Estremeci e apertei a mão de Rubie.
- Ai, está me machucando!- Rubie disse baixinho.
- Que merda! Você não falou que a Celeste iria estar aqui.- Cochichei para ela.
- Eu não sabia, também! Que foi, "amor"? O coração acelerou?
Rubie ironizou, enquanto encarava Celeste.
Puts, sério que eu teria que encarar a minha ex enquanto finjo estar namorando a prima dela? E ainda por cima ela estava mais linda do que nunca naquele vestido azul, que combinava com seus olhos.
- Rubie, há quanto tempo!- Celeste a abraçou, Rubie ficou incomodada, mas disfarçou sorrindo meio forçada e dizendo:
- Celeste! Que bom te ver!
- Se cansou de pisar no barro ou de ser corna, Rubie?- Perguntou Cíntia, dando dois beijinhos nela.
- Cíntia! Que lindo, continua sendo a mesma naja de sempre! Mas guarde seu veneno para mais tarde, querida. Vamos ter muito tempo para nos odiar!- Rubie sorriu a encarando.
- Era verdade mesmo, então? John Miller está namorando a Rubie?- Cíntia perguntou se voltando a mim.
- Estou...- Eu disse sem muita convicção.
- Bom, as coisas mudam, não é? E como mudam...- Disse Cíntia me olhando de cima a baixo com um sorriso de lado.
- Verdade! Você também mudou bastante, Cíntia.- Mentira, só tinha mudado de aparência, continuava a mesma de sempre.
- John!- Disse Celeste vindo até mim sorrindo meiga, incrível como meu nome parecia mais bonito quando ela falava com sua voz doce. Nos abraçamos um pouco sem jeito. Por mim continuaria naquele abraço, mas ela se afastou rápido.
- É muito bom ver vocês dois de novo... E agora juntos! Fiquei impressionada quando minha tia contou a novidade!
- Verdade...- Disse Rubie se agarrando no meu braço- Acho que nem a gente esperava por isso. Não é, amor?
- Não, juro que eu não esperava!- Disse entre os dentes, sorrindo nervoso.
- Isso foi uma surpresa que chocou a todos!- Disse Helena.
- Vocês sempre disseram que se viam como irmãos. Como foi que surgiu sentimento?- Perguntou vovó Anabel interessada.
- Bom, John foi o que sempre esteve ao meu lado, principalmente quando passei por momentos difíceis...
- Levou chifres. Diga o português claro, querida!- Disse Helena com os braços cruzados, sorrindo. Rubie respirou fundo e continuou com um sorriso inabalável. Eu estava me segurando para não rir.
- Sim... Então quem me apoiou quando eu já não podia contar com mais ninguém, foi ele. Saíamos tanto juntos pelo por do Sol, a cavalo ou com os amigos, que em uma tarde dessas John declarou que estava perdidamente apaixonado por mim e que queria me fazer feliz como nenhum outro conseguiu fazer. E é lógico que minha resposta foi sim! Como iria negar essa paixão verdadeira?- Disse Rubie sorrindo como se estivesse toda apaixonada, enquanto passava a mão de leve no meu rosto. Ela era uma boa atriz, eu apenas conseguia sorrir e balançar a cabeça, concordando.
- Uau! Quer ver uma imagem que eu nunca imaginei foi a de vocês se beijando. Deve ser bizarro!- Disse Cíntia.
- Um beijo para selar esse momento seria perfeito!- Falou vovó, toda empolgada.
- Quem sabe depois...- Falei meio sem jeito, eu não queria beijar a Rubie, ainda mais na frente da Celeste.
- É... estamos cansados, a viagem foi longa!- Disse Rubie.
- Um beijinho não mata ninguém, beija logo ela, John!- Insistiu vovó.
Estava contrariado e Rubie também pela cara dela, nos aproximamos e demos um selinho um pouco mais demorado. O que já foi estranho, mas não mais do que a expressão das pessoas ao nosso redor por um beijo tão sem sal.
- Aff, mas que merda foi essa? Rubie, você tem cara que beija mal, mas aí já é demais!- Falou Cíntia, dizendo as palavras que traduziam a cara de todos.
Rubie encarou a Cíntia com os olhos semi cerrados, a cara de quando alguém a está desafiando.
- Ok, chega de vergonha, querido!- Rubie disse isso já me agarrando e me puxando bem mais para si, me beijou com toda a vontade, enquanto eu arregalava os olhos espantado com aquilo que me pegou de surpresa. Meu Deus, tudo com a Rubie era uma loucura! Depois de um bom tempo naquele beijo selvagem de puxões, ela se afastou e sussurrou me olhando maliciosa, alto o bastante para os outros ouvirem:
- Calma aí, amor... Vamos deixar o resto para mais tarde.- E piscou para mim.
- Isso sim é um beijo de verdade!- Disse vovó Anabel, rindo.
- Bom, é melhor mesmo vocês subirem e descansarem.- Falou Helena não querendo mais participar daquilo - Dolores, mostre a eles o quarto de hóspedes.
Eu ainda me encontrava meio em choque. Rubie pegou minha mão e seguimos a caminho do quarto, não antes dela sorrir orgulhosa para Cíntia.

Namorado de Mentirinha (Revisando)Onde histórias criam vida. Descubra agora