E assim se passou o segundo mês da nossa estadia na cidade grande. Até que os dias estavam passando bem rápido, logo daria o tempo para o término do meu curso e da Rubie se mudar. Sinceramente? Para mim não estava sendo desagradável fazer essa loucura, na verdade eu até gosto. Pode ser meio estranho, mas até mesmo a parte de fingir ser o namorado da Rubie era bom, não que eu estivesse gostando dela... Mas deixou de ser algo constrangedor.
Era domingo, estavamos eu, Rubie e Cíntia na sala. Rubie estava vendo uma revista de moda, Cíntia estava mexendo no celular e eu jogando no notebook.
A campainha tocou e nada da empregada vir, devia estar bem ocupada. Tocou uma segunda vez.
- Atende lá, John?- Falou Cíntia.
- Agora não dá- Falei bem concentrado no jogo- Atende lá, Rubie!
- Não posso! Estou ocupada...
Cíntia arrancou a revista da mão dela e jogou longe, as duas se encararam.
- Agora não está mais, querida!
- Que vontade que me dá de te bater...
- Bom, se tem tempo para me bater, também tem para abrir a porta. Vai lá, é pertinho!
Rubie mostrou o dedo do meio para ela e se levantou sem vontade para atender a porta. Foi até lá, abriu e deu um grito. Fechou a porta com tudo e se encostou de costas, como se a estivesse segurando ou trancando.
- O que foi isso, Rubie?- Eu deixei o notebook na mesinha de centro e fui até ela preocupado.
- Eu acho que vi uma assombração do passado! Vamos fazer uma oração bem forte e fingir que não tem ninguém em casa, quem sabe vai embora!
- Como assim assombração? Deixa eu abrir a porta, vai...
- Não, John! Não abre... Vai se arrepender por não me escutar!
Afastei ela da frente da porta e a abri.
- Caramba, tive uma bela recepção ao levar a porta na cara! Valeu mesmo, loira azeda!- Falou Justin. Fiquei totalmente surpreso ao vê-lo.
- Justin?! Mas o que... O que você está fazendo aqui?- Falei.
- Bom te ver também, mano!- Sorriu e veio me abraçar- Cara, a viagem foi longa! Estou cansado pra caramba...
Ele olhou para a Rubie, que estava com uma cara péssima.
- Que cara é essa, azeda? Quer um abraço também?
- Se tocar em mim morre!- Avisou ela.
- Ok... Já vi que continua a mesma chata de sempre!- Justin sorriu provocando.
- Você ainda não me falou o que está fazendo aqui!
- Posso entrar, pelo menos?
Dei espaço e Justin entrou, com ele havia uma mala de viagem.
- Caraca! Que casarão! Realmente mudaram de vida vindo para cá!- Falou ele observando a casa.
Helena, Celeste e Vovó vieram para a sala e encontraram com Justin.
- Querido, mas que surpresa! Não sabia que vinha para cá!- Falou Helena surpresa.
- Tia Helena!- Ele falou a abraçando, Justin considerava ela como tia - Nossa, que saudade que eu estava de vocês.
- E nós de você, Justin! Como você mudou, já está um rapaz!- Disse vovó sorrindo.
- Realmente não esperávamos essa surpresa!- Disse Celeste também animada.
- Cunhada! Que bom te ver!- Justin falou e a abraçou também, mas Celeste ficou sem graça. Eu e Rubie olhamos um para o outro preocupados.
- Cunhada? Acho que você está desinformado, Justin!- Cíntia disse estranhando.
- Como assim? Não acredito que meu irmão se mudou para cá e ainda não aproveitou a chance para reatar com a Celeste!
Olhei para ele meio sem graça, mas Rubie tomou a frente:
- Tenho certeza que você vai adorar a notícia, verme- Disse Rubie colocando o braço ao redor dele.- Sabe por que eles não reataram? Porque eu sou a sua mais nova cunhada! Eba!
Justin ficou sério olhando para ela e disse:
- Tá me zoando, né?
- Claro que não, a gente não brincaria com isso, não é amor?- Disse Rubie se aproximando de mim, teríamos que ser bem convincentes para ele acreditar sem suspeitar, então coloquei a mão na cintura dela e disse a puxando mais para mim:
- É verdade, amor. Acabamos não te contando lá no interior, Justin...
- Queríamos manter o segredo para esquentar as coisas, mas John e eu estamos namorando!
Disse ela me olhando com ternura, me aproximei e a beijei com vontade. Justin fez uma cara que era o misto de espanto, nojo e incrédulo.
- Ai, meu Deus! Depois dessa cena eu vou ter pesadelos a noite... John... O que aconteceu com o seu bom gosto, cara?- Falou ele todo aflito.
- Subiu para o patamar divino, por isso ele escolheu a mim!- Disse Rubie toda cheia de orgulho.
- Tá, agora chega de enrolar e explica o que você veio fazer aqui, Justin!- Cortei eles.
- Bom... Nosso velho conseguiu uma promoção no emprego, mas aceitando essa promoção ele também teria que aceitar viajar. E foi o que ele fez! Foi promovido e eu fiquei a ver navios, falou para eu me virar com um dinheiro que ele tinha deixado, que eu já tinha 18 anos e que não era mais criança... E aqui estou eu!
- Você vai ficar aqui?- Perguntei surpreso.
- Sim! Eu até tentei perguntar para a Dulce se eu podia ficar lá, mas ela disse que já passou muito tempo sendo babá de uma louca e que não queria mais uma experiência dessas.
- Ainda bem que minha tia é esperta! Agora vem cá, verme... Você achou mesmo que era só chegar aqui e ir se instalando? Ninguém quer você nessa casa!- Disse Rubie sorrindo.
- Posso ficar, tia Helena?
- Claro, querido!
- Viu?
Rubie ficou nervosa e esperneando como uma criança.
Ótimo, a casa tinha um novo morador!
Ajudei ele com a mala e fomos para o andar de cima, ainda bem que a casa era grande e tinha quartos a mais.
- É... Acho que eu vou me dar muito bem com a vida na cidade grande!- Disse Justin se sentando na sua cama.
- Sim, mas não vai pensando que aqui vai ser só moleza! Nosso pai estava certo, você já tem 18 anos, não acha que passou da hora de resolver sua vida?
- Não... Por mim esperava mais um tempinho!- Falou dando de ombros.
Olhei para a cara dele sério.
- Ah, qual é John? Você não vai ficar pegando no meu pé também, vai?
- Lógico que vou, sou seu irmão mais velho, por mais que eu não queira tenho que te colocar na linha.
- Por que você simplesmente não faz como o nosso pai? Finge que eu não existo e me deixa em paz...
Justin abriu sua mala e começou a ajeitar as coisas, eu só não conseguia ser mais duro com ele porque sabia que ele não fazia isso por mal. Justin nunca sentiu aquele carinho paterno e nem o materno, nosso pai o ignorava como se ele nem existisse.
Meu pai me contou que quando eu nasci, ele e minha mãe ficaram muito felizes como nunca haviam ficado, contou que ela adorava cuidar de mim com muito carinho e zelo, aproveitando cada momento. Mas que um imprevisto acabou mudando totalmente as coisas. Minha mãe engravidou de novo...
Na sua primeira gravidez ela já teve riscos de perder, mas decidiu seguir até o final e deu certo. Já na do Justin o médico deixou bem claro que os riscos eram bem maiores, que se ela seguisse com a gravidez tanto o bebê quanto ela estariam correndo risco de morte. "Mas sua mãe era tão teimosa" dizia meu pai, ela decidiu seguir de novo até o final da gravidez, sempre passando muito mal e correndo para o hospital ao desespero do pior acontecer. Seus esforços tiveram resultado, ao final da gestação nasceu um pequeno menino dos olhos azuis que chorava bem alto, Justin estava saudável... Mas nossa mãe não, ela estáva cheia de dores e teve hemorragia interna na hora do parto. Os médicos tentaram de tudo, mas não tiveram sucesso...
Meu pai ficou sem chão, havia perdido a mulher da sua vida e ainda tinha duas crianças para cuidar. "Olhei para o Justin e não consegui sentir a mesma coisa que senti assim que você nasceu. Na verdade, o que eu senti foi um tipo de mágoa, quase uma raiva... Se Elizabeth não tivesse sido tão teimosa, se não tivesse se sacrificado para ter esse filho... ela ainda estaria conosco."
Meu pai sabia que tinha sido a escolha dela, mas decidiu deixar sua dor ser mais forte e culpar o Justin pela morte da nossa mãe.
Na verdade, acho que até o meu irmão já chegou a se culpar algumas vezes, é difícil saber que alguém morreu por você.
Sei que ele se sente desamparado, meio perdido no mundo, a única maneira que ele acha para se sentir melhor é tentar achar um pouco de alegria e carinho fora de casa, seja com os amigos ou ficando com várias garotas, sempre vivendo sua vida de liberdade e sem responsabilidades, mas isso está errado e eu espero que ele consiga amadurecer.
- Você sabe que sempre vai poder contar comigo... É por gostar tanto de você que eu só quero o seu melhor, maninho.- Baguncei o cabelo dele, Justin me olhou bravo por ter bagunçado o cabelo dele, mas acabou sorrindo pelo que eu disse.
Sorri de volta e falei pouco depois:
- Bom, vou te deixar descansar.- Me dirigi até a porta.
- Perai, cara... Me explica essa loucura aí com a Rubie.
- Como assim?
- Por que você está com ela? Sei que a Rubie não faz seu tipo!
O ruim de ser muito próximo do seu irmão é que ele te conhece muito bem.
- Faz sim... É bonita, divertida, a gente tem bastante química...- Falei olhando para o lado e tentando mostrar convicção.
Ele me olhou confuso, pensou e disse:
- Ah, agora eu entendi! Química... Então ela é boa de cama?
Fiquei meio sem graça.
Talvez essa mesma pergunta já tivesse passado pela minha cabeça... Mas foi só uma mera curiosidade!
- Tchau, Justin! Vai dormir!- Falei para não ter de responder.
- Qual é? Não vai nem me contar os detalhes?
Saí e fechei a porta, deixando ele falando sozinho.
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Namorado de Mentirinha (Revisando)
Ficção AdolescenteHistória registrada, plágio é crime! John é um cara maduro, centrado, companheiro e sempre preocupado em fazer o correto. Já Rubie é a garota que faz o que der na telha, é direta, sem papas na língua, adora zoar tudo ao seu redor e correr atrás dos...