Capítulo 8

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Quando a gente se diverte o tempo passa correndo, foi o que aconteceu, nossa festa na piscina estava tão boa que logo entardeceu e o pessoal teve que ir embora.
Dei uma ajuda na hora de limpar a bagunça que tinha ficado e entrei, ia subir para o quarto, estava exausto. Mas acabei ouvindo gritos estéricos vindos da cozinha.
- Não sabe como eu estou cansada disso tudo!! Você sempre me tratou como um lixo, desde a infância e por muito tempo eu aguentei! Mas tudo tem um limite e o meu já foi ultrapassado!- Dizia Rubie nervosa como nunca.
- Aguentar? Você se faz de vítima, mas eu também vivo tendo que te aguentar e tudo o que você me faz passar!!- Falou Helena brava do mesmo modo.
Me aproximei, no corredor estava Celeste escutando tudo.
- Eu não pedi para nascer! O problema não é meu se você queria uma filha perfeita e teve a mim! Sempre vou ser o oposto da sua adorada Celeste, a qual sempre fui comparada, eu também estou cansada disso! Nunca vou ser como ela, será que dá para entender isso?
- É, infelizmente você nunca será como a Celeste mesmo!
- Vocês têm que se acalmar...- Dizia vovó.
- Sabe como é ruim você ser comparada a sua vida toda? Celeste é o bem e eu o mal, todos sempre vão estar contra mim e idolatrando ela! Eu odeio tudo isso e quero mais é que vão se ferrar!
Rubie saiu da cozinha e passou pelo corredor, olhou para Celeste com um misto de mágoa e raiva, depois para mim e seguiu para o quarto.
Celeste também parecia perdida em pensamentos, elas não tinham culpa dessa comparação que faziam, mas parecia ser uma competição eterna para ver quem era a melhor e Rubie sempre perdia. O pior era que Celeste não tinha a intenção de magoar ela.
A segui até o andar de cima, quando abri a porta do nosso quarto, Rubie estava sentada na cama abraçada com suas pernas, olhando para a janela, enquanto se encontrava perdida em suas angústias. Ela podia ficar chateada e irritada ao extremo, mas nunca chorava, ou pelo menos eu nunca tinha visto ela derramar uma lágrima sequer.
- Eu quero ficar sozinha...- Disse ela.
- Não é o que parece...
Me sentei ao seu lado e ela me olhou, parecia triste. Mas eu tinha razão, ela não queria ficar sozinha.
- Ah, John... Eu passei tanto tempo longe delas, que tinha esquecido como era difícil aguentar tudo isso. Aguentar sua própria mãe te distratando...
- Sei que é difícil, hoje você estava explodindo desde cedo.
- Com a minha mãe e os outros me enchendo, é praticamente impossível eu não explodir! Queria ver você no meu lugar!
- Não estou te criticando, Rubie. Estou do seu lado... Como sempre estive!
Fiquei sentado encostado na cama, Rubie se aproximou e ficou deitada no meu ombro, nós sempre fomos unidos pelos problemas também.
Helena e Rubie nunca tiveram um bom relacionamento, me lembro delas se desentendendo já aos 5 anos de Rubie, as duas tem um gênio muito forte, quem não sabe lidar com a Rubie passa por muitas dores de cabeça.
Depois que eu e ela nos conhecemos, as nossas famílias acabaram tendo bastante amizade, elas ajudaram meu pai com a criação minha e do Justin, por isso eu e a Rubie crescemos quase como irmãos. Os pais de Celeste e Cíntia ainda eram vivos naquela época, então as coisas eram bem mais fáceis. A competição entre Rubie e Celeste já existia na infância, mas era menor e mais inocente.
Mas tudo piorou na época em que eu, Celeste e Cintia tínhamos 10 anos, estavamos brincando todos juntos quando vimos um alvoroço se formar na casa delas, sua família estava em desespero e lágrimas, vizinhos tinham acabado de avisar sobre um acidente entre um carro e um caminhão que estava sendo dirigido por um homem que dormiu ao volante, os pais delas infelizmente estavam dentro do carro e morreram na hora...
Tristeza era o que traduzia melhor aqueles dias, era muito ruim ver Celeste daquela maneira, parecia desamparada, totalmente sem chão. Até Rubie que sempre era 24 horas de sorrisos e provocações, parou por um bom tempo, ninguém estava com cabeça para essas coisas. Com a morte da irmã de Helena, a guarda das meninas acabou passando para ela, Rubie ganhou duas irmãs de um dia para o outro.
Foi aí que as coisas começaram a complicar, com o misto de morarem juntas, carência de ambas as partes e a chegada da adolescência, Rubie e Celeste competiam para praticamente tudo e a todo instante, as vezes não era nem proposital, apenas acontecia. Com seu jeito único, Rubie acabava ficando com a pior fama.
Catherine e Brian, pais das duas, eram ótimas pessoas, a falta que eles fizeram foi imensa. Celeste acabou se apegando em Helena como se ela fosse sua segunda mãe, já Helena parecia ter muito mais carinho por ela do que pela própria filha. E isso ainda trás problemas até os dias de hoje.
- Nossa infância foi cheia de turbulências...- Disse Rubie, acho que ela estava relembrando as mesmas coisas que eu.
- Verdade... Acho que todos passam por coisas ruins em algum momento da vida.
- Sim, mas quer saber? Eu não me arrependo de nada!
- Eu também não... Principalmente das nossas loucuras!
Rubie sorriu e disse:
- Por que se arrependeria da melhor parte? Lembra quando saíamos escondidos meia noite de casa no verão só para nadar naquele lago?
- Claro que lembro! Também lembro das escapadas para você ficar com aquele meu amigo, da vez que você pintou seu cabelo de vermelho, das festas que organizavamos... Do nosso primeiro porre!
- Nossa! Desse eu não vou me arrepender nunca!- Disse ela gargalhando.
- Pensando bem, acho que dessa última eu me arrependo um pouco, você bêbada só me trás problemas!- Ri também.
- Problemas? Não me lembro dessa parte...- Disse ela cínica.
- Você tem o poder de esquecer mesmo da pior parte quando está bêbada, mas eu estava bem lúcido quando você começou a falar todos os nossos podres para a sua família! Principalmente gritando para o bairro que eu e a Celeste tínhamos perdido a virgindade juntos. Queria não estar lúcido, foi embaraçoso pra caramba!
- Para mim foi divertido ver a cara de vocês no dia seguinte! Isso foi quando? Vocês tinham 16 anos?
- Sim! Se eu soubesse que você ficaria bêbada com um copo de wiski...
- Eu também não sabia, se não tinha te avisado! Mas você também foi culpado, pouco tempo depois me ofereceu de novo!
- Porque eu achei que assim você iria aumentar sua resistência...- Falei me defendendo, mas dei risada- Fazer o que, me enganei! Deu merda também!
- Pelo menos foi uma merda menor do que a primeira!
- Ah, claro... Me fazer escorregar daquele barranco e eu quebrar o braço foi de boa... o que foi ruim mesmo, foi que você não me ajudou e ainda foi quebrar o vidro do carro daquele vizinho que te odiava!
- O que eu podia fazer? Eu odiava ele também!- Disse ela dando de ombros e nós dois rimos.
- Por isso que eu prometi a mim mesmo que nunca mais ia te deixar beber!
- Ah, mas essa parte eu não gostei! Essas foram duas das minhas melhores loucuras!
- Você já é louca sozinha, maninha! Não precisa de bebida pra fazer suas besteiras.- Falei dando um beijo em sua testa, fazendo Rubie sorrir.
Depois dessa conversa nos acalmamos e ficamos curtindo juntos, conversando e assistindo até o anoitecer.

Namorado de Mentirinha (Revisando)Onde histórias criam vida. Descubra agora