Capítulo 48

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Um tempinho se passou desde então e tudo estava correndo com "normalidade".
Eu e Rubie estávamos a caminho de um evento que iríamos com nossos amigos, estava esperando ela terminar de se arrumar enquanto deixava algumas papelada no escritório de Helena.
- Ah! Oi, John. Esses são os papéis que o Enzo se referiu?- Perguntou dona Helena entrando no escritório.
- Sim, esses são os últimos.
Fiquei olhando para ela enquanto pensava.
- Tem mais alguma coisa?- Helena perguntou.
- Não, eu só... estava pensando.
- Em que?
- Por que você e a Rubie se tratam assim? Sei que não é da minha conta, mas não consigo entender. Vocês são mãe e filha...
Helena me olhou e também ficou pensativa, aquele assunto parecia encomodar ela.
- A vida nem sempre é como a gente quer, John. Minha relação com a Rubie é uma dessas coisas que não são como eu queria... ou como imaginava que seria.
Fiquei esperando para ver se ela falava mais, Helena suspirou e começou:
- Eu nunca contei para ninguém como foi ter a Rubie, as únicas pessoas que souberam foram os meus pais... Eu tinha um pouco mais da idade que a Rubie tem hoje, estava prestes a me casar e o que eu mais desejava era engravidar. Minha vontade era tanta de ser mãe, que acabei me descuidando sem a permissão do meu noivo, já que ele era muito relutante nessa parte, o pai da Rubie não queria de jeito nenhum uma gravidez...
Me sentei para poder escutar e compreender melhor a história.
- Achei que quando acontecesse ele iria entender, talvez até ficar feliz com a idéia- Helena sorriu sem vontade - Me enganei... Engravidei e foi aí que minha vida começou a mudar, meu noivo ficou diferente, irado!... Pode se dizer que até violento. Dizia para mim fazer o aborto porque ele não seria o pai daquela criança. Eu não conseguia entender o porquê, mas ele me fez escolher entre ele ou ao filho que eu decidi ter sozinha.
- Escolheu continuar com a gravidez?
- Sim... Então ele foi embora, me abandonou mesmo eu estando grávida e desempregada na época, tive que voltar humilhada para a casa dos meus pais a qual eu tinha saído sem permissão... Passamos por muitas dificuldades financeiras e muitas brigas familiares, a única coisa que me mantia forte era saber que minha filha estava crescendo bem... Mas isso mudou quando ela nasceu.
- Por que?
- Nem eu sei explicar, mas não senti nada do que pensei que iria sentir quando segurei Rubie em meus braços pela primeira vez, me sentia contrariada, com raiva e sem saber o que fazer... Os médicos chamaram isso de depressão pós parto.
Helena engoliu em seco e continuou:
- Aqueles tempos foram os piores da minha vida, piorou mais quando Rubie foi crescendo, além dela ser uma criança bem diferente do que eu esperava, era idêntica ao pai só que muito pior, era como se ela fosse uma lembrança dos meus erros, sempre que me olhava com os mesmos olhos desafiadores que ele tinha, me sentia cada vez mais incapaz de ser mãe dela. Depois continuei a ter perdas em minha vida, minha irmã se foi... e de um dia para o outro ganhei mais duas filhas, mas diferentes da Rubie. Com elas experimentei mais sobre o que eu pensava ser esse amor materno do que com minha própria filha... Por muito tempo me culpei, depois culpei a Rubie. Simplesmente nunca conseguimos ser mãe e filha.
Passei a mão no queixo pensando.
- Dona Helena... Não tenho como saber o que passou nem o que sentiu, mas culpar a Rubie por tudo? Ela é uma pessoa difícil, quase impossível de se lidar... Mas a única coisa que ela quer é ser amada e compreendida pelo que é, não por como você queria que ela fosse. Muitas vezes vi Rubie ansiando pelo que Celeste e Cíntia tinham, um carinho que vocês duas nunca conseguiram desenvolver. Mas a senhora estava ocupada demais olhando para as suas feridas para notar que ela sempre esteve ali, esperando pelo dia em que vocês duas se resolveriam... Pode ser um dos maiores desafios viver com a Rubie, mas eu não trocaria nem mudaria nada na minha vida com ela, Rubie é perfeita do jeito que é.
- Você diz isso porque está apaixonado por ela...
- Talvez, o sentimento que tenho pela Rubie é um dos mais fortes que já senti... Talvez se tentasse conhecer sua filha de verdade, poderia entender e até sentir algo parecido...
Me levantei e sai do escritório, deixando Helena pensar. Realmente são casos muito complicados. Assim que sai de lá dei de cara com a Rubie, que estava escutando tudo. Sua feição não era das melhores.
- Rubie?
Ela me olhou sem dizer nada
- Você está bem?- Perguntei passando a mão nos seus cabelos.
- Não sei... Me sinto confusa.- Ela passou a mão na barriga e disse com um sorriso falso- Então o meu próprio pai não me queria já desde a época da barriga? Ele não sabe o que perdeu.
Ela estava se fazendo de durona, a história tinha mexido com ela.
- Não se preocupe com isso.
- Não vou... E minha mãe está enganada, eu não sou idêntica à ele. Nem um pouco...
Ela acariciava sua barriga como se estivesse com seus filhos já no colo, a puxei para mim e a abracei com carinho. Não, ela não era uma má pessoa, nem culpada de nada... Rubie é perfeita com suas imperfeições.
Fomos todos para o evento e aproveitamos bastante, nos divertindo sem se importar com nada. Quando chegamos de noite, já me deitei na cama e pedi um favor para a Rubie.
Ela bateu na porta do Justin.
- Que é?
- O John pediu para mim pegar o notebook dele- Disse ela já tentando entrar no quarto.
- Opa! Perai!... Espere aqui que eu pego.
Rubie cruzou os braços e perguntou:
- Está escondendo o que aí dentro, Justin?
- Não estou escondendo nada!- Falou rápido, ele coçou o nariz e continuou- Só não quero nenhuma loira azeda invadindo minha privacidade.
- Que privacidade? Só tem bagunça aí dentro... A não ser que tenha mais alguma coisa.
Eles se encararam mas Justin não disse mais nada, entrou e fechou a porta, só a abrindo quando já tinha o notebook nas mãos.
- Pronto.- Falou ele enquanto Rubie tentava olhar para dentro do quarto.
- Seu irmão sabe o que você está escondendo?
- Já falei que não estou escondendo nada, agora se me der licença...
E fechou a porta antes que ela pudesse contestar.
Rubie voltou para o nosso quarto e me entregou o notebook, já falando:
- O verme está mais estranho que o normal!
- Estranho?- Sorri- Ele está mudado mesmo, mas estou preferindo o Justin atual.
- Como assim?
- A Megan não te contou as novidades? Ele prestou uma prova para a faculdade de engenharia e ganhou uma bolsa pela metade do preço, eu e a Helena vamos ajudar ele com o resto.
- Faculdade?!- Perguntou Rubie muito surpresa.
- Sim! E ainda de engenharia, eu sabia que ele era inteligente pra caramba, só que antes ele preferia fingir que nada disso era importante.
- Mas o Justin? Certeza que alienígenas não abduziram ele e botaram outro no lugar?... Ou vai ver fizeram alguma lavagem cerebral!
- Voto mais pela versão da lavagem cerebral, que se chama Megan.
Rubie me olhou pensativa e ainda confusa.
- Mas não é possível! Justin, o engenheiro... Esse mundo está ficando doido mesmo, eu já desisti de entender.- E entrou no banheiro balançando a cabeça, para tomar banho.
Alguns dias se passaram, Rubie estava conversando com suas amigas pelo celular.
Megan: Viu, Rubie? Até o Justin pode mudar, engenharia é para poucos!
Rubie: Eu ainda não sei o que deu nele para tomar rumo na vida, mas para mim pau que nasce torto, morre torto!
Bárbara: Nem todo mundo é como você, amiga. Algumas pessoas ficam maduras com o tempo
Rubie: Vou fingir que não li isso. Sou uma pessoa muito madura para a informação de vocês!
Megan: Ah, claro!
Rubie: Mas algum podre ele ainda tem, está muito diferente e estranho esses dias
Bárbara: Diferente como?
Rubie: Anda muito calado, chega e já se tranca no quarto. Ah, sem contar que está escondendo alguma coisa lá dentro!
Megan: Como assim?
Rubie: Não sei o que é, já tentei bisbilhotar e entrar lá mas ele vira o bicho e não deixa de jeito nenhum.
Barbara: Ai, isso está estranho.
Megan: Vai ver não é nada...
Rubie: Querida, você já teve a idade dele. Por que ele não deixaria ninguém entrar no quarto? Eu só faria isso caso estivesse escondendo algo que me daria problemas, tipo drogas!
Megan: Drogas? Acho que você está viajando, Rubie. Agora que ele está tomando jeito, você acha mesmo que ele se envolveria com isso?
Rubie: Acho!
Rubie: Aqui na cidade grande é muito fácil ser influenciado pelas más companhias, Justin conheceu muita gente nova. Sei que ele está muito diferente e escondendo algo!
Bárbara: É... Meu ex também não deixava ninguém entrar no quarto dele.
Megan: Ai, Bárbara! Não está ajudando.
Bárbara: Só estou comentando.
Megan: Mas pode ser outra coisa! Sei lá, revistas ou filmes inapropriados...
Rubie: Justin nem se importaria caso eu achasse algo assim, ele é do tipo que não esconde que é safado.
Megan: Não! Deve ter outra explicação! O Justin não viraria um drogado.
Bárbara: Tomara que seja outra coisa mesmo.
Rubie: Pois eu tenho quase certeza! Precisamos descobrir.
Megan: Precisamos e rápido, não podemos deixar o Justin cometer um erro desse.
As garotas ficaram bem preocupadas com esse assunto, mas não queriam sair interrogando ele sem antes ter certeza. Rubie tentava de tudo para conseguir entrar escondida no quarto de Justin mas ele já estava desconfiado e ficava em alerta o tempo todo.
Se quisessem mesmo saber, precisariam pensar em algo

Namorado de Mentirinha (Revisando)Onde histórias criam vida. Descubra agora