Chapter 17

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  A tarde estava fria, mas agradável.

  Eu já estava sentado no banco da praça com Janice há algumas horas e passamos a maior parte do tempo falando apenas o que era extremamente necessário.

  Ela era uma mulher bem misteriosa, para dizer o mínimo. De poucas palavras. Algo nela, no entanto, me fazia sentir meio desconfiado e até curioso. Eu queria saber mais sobre ele. Na verdade, eu precisava.

- Acho que já estou acabando..- ela comentou casualmente. Eu assenti, olhando para a folha que eu segurava, ainda em branco.

  Assim que nos encontramos na praça, decidimos que ela desenharia qualquer coisa ali apenas para que eu pudesse entender qual o nível de suas habilidades. Eu, entretanto, não havia nem começado o meu até agora. Guardei os objetos que eu trouxe, incluindo a folha em branco e esperei até que ela me entregasse seu material.

  Me surpreendi ao ver a cópia quase perfeita de uma das flores que enfeitavam a praça. Os detalhes eram impressionantes e se tratava de um desenho quase profissional.

- Uau... Você tem certeza que precisa de aulas de desenho? - ela riu, discretamente.

- Estou acostumada a desenhar plantas assim desde pequena.. Mas fora isso nem me arrisco a encostar o lápis no papel.

- Por que tanto interesse em plantas?

- Ah..não sei. Acho que porque minha casa era repleta delas.- sua voz soou falsa, de alguma forma.

- Bom, de qualquer maneira, isso vai te ajudar muito a progredir..

- Quando será nossa próxima aula?

- Bem..você tem algum compromisso no sábado?

- Não, não. Por mim tudo bem.

- Então nos encontramos no mesmo horário aqui, combinado? - eu disse, já me levantando.

- Aqui? Por que não na sua casa?

- Como?

- Não me entenda mal. É só que..

- Arte demanda inspiração. Isso não é possível preso em um ambiente fechado.

- Sim, claro.. Eu só.. Enfim. Até sábado então.- ela estendeu a mão em minha direção e assim que a cumprimentei ela saiu, apressada.

  Voltei para casa com os pensamentos à mil.

  Por que tanto interesse em vir à minha casa?

  Será que ela....

  Bem, isso tudo não podia ser um simples interesse em mim. Certo?

  Havia algo a mais..

  Mas o quê?

  Eu estava tão distraído naquele momento que esqueci do pequeno degrau na entrada da minha casa. Tropecei nele e caí com força no chão. Os papéis que eu trazia se espalharam e eu suspirei alto enquanto me ajeitava e recolhia a bagunça de folhas e lápis caídos.

  Foi só nesse momento, entretanto, que eu reparei que havia trazido o desenho de Janice comigo. O peguei, um pouco mais delicado, e notei uma pequena frase na borda do papel. As palavras haviam sido apagadas, mas ainda era visível que alguma coisa tinha sido escrita ali, embora não fosse possível identificar exatamente o que.

  Resolvi apenas tentar ignorar a curiosidade que crescia cada vez mais dentro de mim. Me levantei e limpei a roupa que usava, devido a queda. Entrei em casa decidido a tomar um banho.

  Quanto mais a água morna caía, mais eu pensava na mensagem oculta daquele desenho. Eu sabia que não iria sossegar enquanto não descobrisse o significado disso tudo, mas também sabia que poderia me desapontar se aquilo tudo não representasse algo maior, e, para mim, não há nada pior que o sentimento de frustração.

  O pior de tudo era que a única coisa - ou pessoa - que poderia me distrair agora não estava muito bem comigo desde o dia anterior.

  Não que a culpa fosse totalmente dele,é claro.

  Eu entendo pelo que ele está passando e também entendo que isso tudo é muito novo para ele (assim como é para mim ), mas não é por isso que eu tenho que fazer suas vontades na hora que ele quer.

  Certo?

  Resolvi arriscar e tentar resolver a situação estranha que estava se estabelecendo. Coloquei uma roupa qualquer quando saí do banheiro e fui direto para o espelho. O que eu não esperava, na verdade, é que ele viesse na minha direção com uma cara de arrependimento.

- Oi, Gee..

- Hm..olá?

- Bem, eu...queria me desculpar pelo meu comportamento de ontem.. Eu só..fiquei meio frustrado, sei lá.

- Não se preocupe com isso, Frank. - abri meus braços de forma convidativa e ele logo se aconchegou em um abraço bem apertado.

- Você está meio tenso..o que aconteceu? - ele disse com o rosto enterrado em meu peito.

- Nada demais.. Só algumas ideias na minha cabeça, eu acho.

- Tipo o que?

  Contei a ele sobre a primeira aula com Janice e como ela tinha se mostrado estranha nesse pouco tempo de convivência.

  Mencionei a insistência em ter aulas aqui em casa (desconfio que Frank tenha ficado com ciúmes, aliás, devido a sua mudança de expressão) e a mensagem que não saía da minha cabeça de forma alguma.

- Você ainda tem o papel do desenho?

- Sim, ela deixou comigo..

- Pega ele no seu quarto. Eu tenho uma ideia.

  Ainda sem entender, voltei até onde deixei os papéis e os levei para Frank. Ele me esperava sentado em sua cama com um caderno e lápis em mãos. Lhe estendi o desenho de Janice e ele prontamente o apoio sobre o caderno e fez leves sombreados na borda da folha. Observei enquanto o sombreado destacava as letras do pepel, mas não era forte o bastante para que eu conseguisse distinguir muita coisa.

  Felizmente era para Frank.

  Logo ele começou a transcrever as letras para o outro canto da folha.

- Isso foi brilhante..- comentei, impressionado.

-Eu não sou só um rostinho bonito.- ele piscou para mim e logo soltou uma gargalhada adorável.

  Olhei ansioso para a mensagem que havia sido transcrita e o sentimento de frustração que eu temia acabou se tornando real.

  Gentiana lutea.

  Frank logo compartilhou da mesma sensação.

- O que isso quer dizer?

Honey... /Frerard/Onde histórias criam vida. Descubra agora