Chapter 16

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  Tentei inutilmente covencê-lo de que eu explicaria tudo no outro dia, mas ele parecia assustado demais para aceitar qualquer proposta no momento.

- Eu...eu levantei e..você saiu de lá.. Como você entrou lá? - ele repetia frases como essa com certa frequência e achei que tudo o que eu poderia fazer agora era contar toda a verdade e torcer para que ele fosse mesmo de confiança.

- Tudo bem, tudo bem.. Eu vou ser sincero com você, mas você tem que prometer que o que eu vou falar não vai sair daqui, certo?

  Assim que ele assentiu comecei a narrar a história de como eu conheci Frank e porquê ele estava preso ali, segundo o que ele mesmo relatou. De alguma forma, Ray parecia não estar tão surpreso com o fato de a causadora disso tudo ser Jamia e entendeu rapidamente a minha curiosidade por ela e Frank no primeiro dia em que nos encontramos.

- Eu volto lá todo dia.. Prometi a Frank que o tiraria de lá, mas ainda não tenho ideia de como fazer isso.- dei a ele um tempo a mais para digerir tudo o que havia acabado de lhe contar enquanto me aproximava de onde ele estava e a rapidez com que ele aceitou aqui tudo foi, no mínimo, impressionante.

- Mas vocês estão juntos então?

- Como?

- Você e Frank.

- Ele..eu.. Não, nós..

- É porque eu tenho certeza de que quando me deitei você estava usando uma camisa..

  Os recentes arranhões em meu tronco já eram visíveis e eu me esqueci de pegar a camisa jogada no chão quando saí do quarto de Frank. Fui corando aos poucos e Ray liberou uma risadinha quase inaudível.

- Bem, eu..

- Não era o que eu tinha em mente quando Mikey disse que você estava namorando.

- Então, realmente.... Espera, Mikey falou o quê?

- Acho melhor eu tentar dormir, já está tarde..

- Não, como assim o Mi..

- Boa noite, Gerard.

  Ele se deitou de costas para mim logo em seguida e eu desisti de tentar argumentar, jogando meu corpo na cama atrás de mim.

  Uma vontade repentina de abraçar Frank surgiu um pouco antes de eu cair no sono e eu dormi com um sorriso bobo no rosto.




✳✳



  No dia seguinte, Ray ainda dormia quando eu acordei. Aproveitei a oportunidade para pegar minha camisa com Frank, mas me atrasei um pouco porque parei para observar meu tronco marcado no espelho.

  Não consegui achar minha blusa quando entrei no quarto. Na verdade, demorei um pouco para reparar que Frank havia adormecido com ela.

  O observei enquanto dormia, com aquela expressão angelical de sempre, mas não resisti e me aproximei, pousando um beijo de bom dia em seu rosto. Ele apenas sorriu com o gesto e continuou dormindo, de forma que eu decidi não atrapalhar mais e voltar para meu quarto.

  Assim que o fiz, encontrei Ray fitando o espelho. Ele abriu um sorriso largo que me fez corar mais uma vez antes de murmurar um "Bom dia" e ir até o meu banheiro.

  Ele tomou o café da manhã conosco, mas não demorou muito a ir embora depois disso, dizendo que tinha alguns assuntos para resolver e agradecendo a mim e minha mãe pela gentileza.

  Por falar na minha mãe, ela ficou elogiando meu cabelo desde que eu botei os pés dentro de casa. Minha auto estima já estaria até mais elevada se não fosse pelos olhares tortos que meu pai sempre me mandava.

  Depois do almoço, fui até meu quarto e comecei a desenhar ininterruptamente. Eu precisava arrumar alguma estratégia para a aula de amanhã se eu quisesse causar uma boa impressão para continuar com esse novo emprego.

  Eu, entretanto, não tinha a menor ideia de como apresentar meu trabalho de forma didática e isso me consumiu umas boas horas de pesquisas e vídeos na internet.

  Terminei o dia mentalmente cansado e ainda sem saber muito bem o que faria no dia seguinte.

  Novas frustrações me assolaram enquanto eu tomava banho e eu comecei a sentir muita falta das minhas bebidas.

  Meu estoque tinha acabado desde aquela noite e eu não havia comprado mais nenhuma garrafa, já que prometi a Frank que tentaria parar.

  Na verdade, o álcool não era um vício tão bom quanto Frank.

  Mesmo assim, ainda era difícil se livrar de vez de um hábito como esse.

  Felizmente eu podia contar com meu amigo. Atravessei o portal ainda meio cabisbaixo e fui recebido por um abraço esmagador que me arrancou algumas risadas.

- Que carinha é essa?- ele perguntou em um tom divertido.

- Nada, ué..só..tentando me acostumar a essa abstinência.

- Ah, é sobre as bebidas de novo..- ele revirou os olhos e pousou as mãos tatuadas delicadamente em meu rosto.- Você sabe que não tem controle sobre isso.. Eu só me preocupo com a sua saúde.. Com você.

- Eu sei, Frank. Mas tem sido difícil.

- Prometo te recompensar se você for um menino bonzinho.

- Ah é? - ergui minha sobrancelha enquanto ele sorria e descia as mãos até minha cintura.

  Logo depois seus lábios encontraram os meus e eu me perdi no misto de sensações que ele me proporcionou. Nossos corpos colados se moviam na mesma sintonia e apesar de eu amar aquilo com todas as minhas forças, não me sentia muito confortável para isso naquele momento.

  Minha cabeça ainda girava, repleta de pensamentos tortos, quando nos separei. Frank me olhou frustrado pela segunda vez em menos de dois dias e eu me senti ainda pior por isso.

- Vamos lá, Gerard. Eu sei que você quer isso tanto quanto eu..

  Ele deu alguns passos para trás e subiu na cama, ficando de pé sobre ela. Seus olhos não desgrudaram dos meus enquanto ele jogava a camisa no chão perto de mim. Me aproximei um pouco, mas travei logo depois.

  Ele, ciente do meu nervosismo, levou as mãos até o cós da calça e a desabotoou com uma calma mais que torturante. Logo restou apenas sua boxer preta cobrindo seu corpo.

  Meu olhar se perdia nele enquanto minha boca pendia entreaberta. Minhas mãos, receosas, tocaram sua pele quente e exposta e eu fazia questão de diminuir cada vez mais a distância entre nós. Ele naturalmente começou a bagunçar meu cabelo enquanto eu distribuía algumas mordidas pelas tattoos em seu corpo, mas recuei poucos minutos depois.

  Frank ainda não sabia disso, mas eu me tornava incrivelmente agressivo quando ficava tanto tempo sem uma gota de álcool. Parei antes que eu me arrependesse de algo.

  O olhar frustrado que tomou seu rosto me fez sentir bem pior. Ele desceu da cama, vestiu sua jeans novamente e jogou minha blusa em cima de mim com uma certa agressividade. Não que eu não entendesse o motivo disso, aliás.

  Ele se despediu logo em seguida, sinalizando a minha hora de ir embora. Saí cabisbaixo do espelho e não demorei muito para me deitar. Eu me sentia péssimo, no mínimo. Levei um bom tempo para pegar no sono e acordei não muito depois disso.

  Sem dúvida, foi a pior noite da minha vida.


Honey... /Frerard/Onde histórias criam vida. Descubra agora