Charter 20

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  Ele acabou adormecendo nos meus braços enquanto eu secava uma lágrima ou outra que teimava em escorrer. Passei a noite ali com ele.

  Gostaria que ele tivesse uma boa noite de sono, pelo menos, mas ele acordou umas três vezes, assustado. Minha noite se resumiu em tentar acalmá-lo. Não acho que eu tenha tido muito êxito, na verdade.

  Nós estávamos em uma situação bem complicada, aliás. Algumas recaídas por parte dele eram bem comuns e eu sentia que prometer que tudo ficaria bem só acabava piorando as coisas - mas, infelizmente, era tudo o que podia fazer no momento.

  Agora Frank se encontrava um pouco mais calmo. Ele escrevia tranquilamente em algumas folhas (não ousei perguntar o quê) enquanto minha mente vagava em uma tentativa falha de encontrar uma solução para nosso problema.

  Lembrei vagamente de Jamia comentando sobre um possível tratamento para recuperar seus poderes e isso me deu um último suspiro de esperança.

  Foi depois de muito tempo que eu percebi que Frank agora olhava para mim, com uma expressão carinhosa. Minha mão foi involuntariamente para seu rosto e ele fechou os olhos, sorrindo. Cogitei contar a ele meus planos recém formulados, mas achei que ele iria ficar bem pior caso isso também não desse certo, então decidi esperar uma outra oportunidade.

- Obrigado..- ele disse, a voz rouca.

- Pelo que?

- Por não desistir.

  Pensei em tantas respostas. Tantas formas de dizer como eu me importava com ele; como ele representava uma grande parte da minha vida; como ele era meu primeiro pensamento pela manhã e o último antes de dormir..

  Decidi que não era a hora para nenhuma delas, então apenas selei nossos lábios suave e demoradamente.

  Ele voltou sua atenção para os papéis dispostos em cima da cama e eu apenas observei a expressão engraçada que ele fazia quando se concentrava.

  O restante do dia correu normalmente e quando eu achei que ele já estava bem o suficiente me despedi com a promessa de que voltaria para passar a noite. Ele não deu muita ideia, ainda imerso na dimensão das palavras que escrevia e assentiu rapidamente.

  Tomei um bom banho e assaltei qualquer coisa na geladeira antes de ir conversar com meu irmão sobre os acontecimentos da noite anterior. O procurei em seu quarto, mas não o encontrei. Imaginei que ele pudesse ter ido procurar o Ray, mas resolvi confirmar com a minha mãe.

  Ela, entretanto, também havia saído e eu enrolei pelo que pareceram décadas até tomar coragem de falar com meu pai.

- Er... Donald? - ele apenas transferiu o olhar do livro que lia até mim por meros segundos, mostrando que estava ciente da minha presença. - Você..sabe onde Mikey foi?

- Seu irmão saiu.

-Sim, mas..

- Eu tenho cara de babá? Seu irmão é bem grandinho, sabe se cuidar sozinho. - contive um suspiro alto e pesado antes de me virar para sair quando fui interrompido por mais uma frase.- Além disso, não tenho interesse em com quem seu irmão vai sair ou não.

- Ele está saindo com alguém? - não consegui deixar o tom de surpresa de lado em minha voz.

- Uma menina qualquer. Sua mãe não parou de falar sobre ela ter vindo aqui ontem.

  Ela veio aqui ontem? Só quem esteve por aqui foi a..

- Você sabe onde eles foram?

- Não devem estar longe, ele acabou de sair.

  Pude ouvir alguns resmungos de meu pai enquanto eu corria desesperado até a porta de casa. Meu coração disparou em uma frequência inacreditável no momento em que eu cheguei até a rua e olhei angustiado por todos os lados a fim de tentar encontrar alguma pista de onde ele poderia ter ido.

  Em vão, é claro.

  Acreditei nas palavras de meu pai de que Mikey não saiu de casa há muito tempo e, admitindo que ele estivesse pelas redondezas, corri pelos quarteirões mais próximos à sua procura. Infelizmente, eu não fazia ideia de onde ele poderia ter ido com aquela mulher, fato que não ajudava muito, então tive que me contentar com a crescente frustração e inquietude que percorria meu corpo com mais intensidade a cada segundo.

  Embora, surpreendentemente, eu não estivesse com um pressentimento ruim, não pude deixar de me preocupar com meu irmão e tamanha tensão acabou sendo passada para Frank assim que eu voltei para seu quarto.

- O que houve, Gee? Você está calado desde que voltou..

-Ah, é o de sempre.. Só estou preocupado com meu irmão.

- Ele sabe se cuidar, Gee..

- Não tenho tanta certeza.


Honey... /Frerard/Onde histórias criam vida. Descubra agora