Folhas de outono - Kim Namjoon

#20 - Through the night

Sair de uma sala de prova nunca é fácil, assim que seus pés passam o batente da porta e sua visão encontra o mundo exterior pela primeira vez em várias horas é como se tudo tivesse mudado, é como se aquela sala de antes fosse uma cápsula e se foi guardado lá dentro para só depois ser liberado com dez anos de atraso.

As vozes das pessoas a encheu os ouvidos, os cochichos aterrorizantes sobre o gabarito a deixavam ansiosa, as risadinhas parecendo ser dirigidas a ela, que mais velha que a maioria dos demais ali, demorou para entrar em uma faculdade. Esse não era um problema, não pra ela, ela preferia entrar com calma na faculdade do que se afogar em dívidas mais para frente e ser obrigada a sair, então, com esse pensamento e uma dor de cabeça não natural, HyoJin deixou o prédio com a bolsa esmagada embaixo do braço e a maior expressão de desamparo do mundo.

Sem surpresas, a rua estava do mesmo jeito de quando ela tinha entrado no prédio, o mesmo clima adornava as esquinas e os parques, o mesmo vento gelado cortava a pele das pessoas que não estava suficientemente preparadas para ele, as folhas em tons quentes decoravam o chão como normalmente faziam nesses três meses de outono, sua presença tornando a caminhada pelas ruas agradáveis e suportáveis, com o som dos estalos e do vento as arrastando pelo chão de concreto.

Com os fones de ouvido plugados, HyoJin se viu na rua que ela com certeza tinha passado o maior período de sua vida, a algumas quadras para frente, a fachada do café onde trabalhava até alguns dias atrás se estendia em sua grandeza e tranquilidade, o toldo sendo visto de onde ela estava, a cor escura não sendo abalada pelos dias de chuva e sol, logo abaixo dele, a mesma porta de vidro com a placa 'Open' se estendia, um sentimento de nostalgia que parecia até engraçado visto que ela nem tinha saído há tampo tempo tomou conta do seu peito, e mesmo que pretendesse passar reto, seus pés a guiaram porta a dentro, o sininho a cima da porta fazendo seu trabalho com maestria.

Se fora do café tudo estava igual, quem imaginava dentro, tudo estava no mesmo lugar, as mesas não tinham movido uma perna e todos os copos nas prateleiras atrás do balcão se dispunham do mesmo jeito, todos brilhantes e muito bem cuidados como sempre tinham sido. Reconhecendo alguns rostos de amigas que ainda trabalhavam ali, mas não tendo coragem de falar com as mesmas, HyoJin apenas abaixou a cabeça e caminhou a passos lentos em direção ao balcão de pedidos, o cardápio passando em sua mente como um flash de luz.

- Boa tarde. - Sem prestar atenção no vendedor a sua frente, a voz masculina que tomou os ouvidos de HyoJin a deixou perplexa, tirando a cabeça das nuvens, ela respondeu, analisando a figura a sua frente.

- Boa tarde... Eu quero um Mocha, por favor. - Ela observou enquanto o menino abaixava o olhar para digitar o código na máquina registradora, os cabelos castanhos claros caiam em seus olhos e davam espaço para as bochechas mais redondas que ela jurava já ter visto enquanto estava viva, a armação preta, quadrada e claramente falsa o dava um ar de juventude, e ela imaginou se ele realmente era mais novo que ela.

Depois de marcar o pedido e pegar um dos copos no refil logo ao lado, ele destampou um dos muitos canetões pretos ali presentes, pronto para marcar o nome dela, naquele momento, HyoJin se perguntou há quanto tempo ele trabalhava ali, não podia ser a mais de quatro dias, se não certamente ela teria o visto enquanto limpava as mesas ou anotava os pedidos, então isso significava que ele era muito novo ali, mas algo no jeito que ele segurava a caneta e estava pronto para escrever o nome dela, como se não fosse difícil fazer uma letra bonita naquela superfície a dizia que talvez ele não fosse tão novo naquele ramo. Talvez um transferido? Ela não sabia que cafeterias transferiam seus empregados, engraçado.

- Qual seu nome? - Ele finalmente soltou depois do que pareceram anos aos ouvidos da menina, que de prontidão deu sua resposta, a dúvida ainda vagando em seu cérebro cansado e  confuso, por um momento, ela até tinha esquecido que tinha acabado de sair de uma prova.