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                   Hunter Hughes.

Eu quis rir. Sentir-me à vontade na casa da garota que eu queria ficar, mas não podia por motivos maiores do que nós dois, seria a tarefa mais impossível de todos os tempos. Eu apertei a toalha fortemente contra o meu peito conforme Alex ia subindo as escadas, e eu tentava arduamente olhar para todos os lugares, menos para seu traseiro balançando suavemente em uma calça extremamente justa.

Eu comecei a esfregar energicamente a toalha em meu cabelo molhado para secá-lo e avaliar o cômodo em que eu me encontrava. Uma mesa de madeira com tampo de vidro chamou-me atenção por seus inúmeros porta-retratos, entre eles, dois em especial. Aproximei-me mais e soltei um riso baixo ao observar uma Dawson de treze anos com uma careta emburrada, certamente não querendo tirar aquela fotografia. Seus cabelos estavam revoltos, e ela usava uma blusa branca de mangas enfiada dentro de um short jeans. Era tão magra naquela época quanto é agora, e tão linda quanto também. Alarguei meu sorriso ao analisar a próxima foto de uma menina de aproximadamente sete anos que reconheci como Alex. Ela sorria abertamente enquanto fazia uma pose de balé e vestia um biquíni cor-de-rosa. Seus pés estavam descalços sobre o gramado, e bem atrás de seu corpo havia um coreto.

Em Cheshire, na propriedade da Igreja que eu e meus pais frequentávamos, nós tínhamos um desses também. Não era tão grandioso quanto o da foto, mas era o máximo. Quando pequeno, eu me juntava aos meninos maiores da igreja e nós corríamos ao redor do coreto enquanto os adultos assistiam à missa. No outono, quando a temperatura baixava e as folhas amareladas caíam e deixavam apenas lembranças de dias bons e ruins, nós nos deitávamos no chão e fazíamos anjos nas folhas. Mamãe sempre sorria um sorriso cheio de alegria e tirava fotografias em sua polaroid, enquanto papai resmungava sobre minhas roupas sujas.

Stanley Hughes foi um pai decente antes de tornar-se um alcoólatra fodido. No meu aniversário de dez anos, ele me surrou de cinta pela primeira vez. Antes disso ele chutava meus brinquedos, pisava neles e os atirava contra as paredes. E a partir de um certo ponto, toda vez que chegava de madrugada embriagado, batia raivosamente em mim sem motivos. Eu nunca me importei, porque mamãe estava segura no quarto dormindo e isso era o suficiente para que eu mantivesse minha boca calada toda vez que o couro esquentava minha pele.

Eu usava sapatos gastos, mochilas velhas e comia moderadamente para que mamãe pudesse se alimentar também. Stanley gastava toda a nossa grana em bares, com bebidas e jogos, farreando com seus falsos amigos. Lembro-me bem do dia que eu estava voltando a pé para casa, porque alguns meninos de uma série avançada trancaram-me no armário e eu perdi o ônibus. E eu o vi deitado no chão da calçada. Seus cigarros estavam espalhados pelo chão, seus bolsos estavam revirados e havia uma garrafa de cachaça quebrada aos seus pés. Alguns meninos que passavam atiravam pedras e riam, zombando dele como se ele fosse um bicho.

Eu não conseguia chorar quando ele me batia, porque não fazia sentido. A dor poderia fazer sentido, mas não fazia, então eu não me importava de ficar calado. Mas eu senti que deveria chorar naquele momento, contemplando todo o declínio e decadência do homem que deveria ser o meu pai.

Quando sóbrio, Stanley não era ruim de tudo. Ele ajudava-me a colar os carrinhos e bonecos quebrados, e nós consertávamos um velho Ford 1951 que tínhamos na garagem. Por esta razão, eu pensei em erguê-lo ou balançá-lo para que ele pudesse acordar e andar comigo para casa, até perceber que eu não o queria lá. Dois meses depois da primeira vez que ele me surrou, mamãe começou a desconfiar de todos os roxos acidentais que eu ganhava tropeçando em lugares e batendo em paredes, até finalmente descobrir. E ela o socou no rosto quando Stanley chegou bêbado e preparado para me bater novamente. Ele revidou e eu não me lembro de já ter sentido tanta raiva quanto senti ao vê-la no chão, com o rosto avermelhado e nariz sangrando.

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