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                    Hunter Hughes.

Epifania!, o mundo é uma grande piada cósmica. E nós, meros mundanos nesse grande Universo ordenado, somos a plateia. E essa é a piada. Nós andamos mundo afora, buscamos tanto, imaginamos tanto; criamos teorias e mais teorias na tentativa de conhecer todos os mistérios da vida, da morte, e do universo. A realidade é que toda busca religiosa, espiritual, em busca do imaterial, te levará onde você começou. Algumas pessoas já perceberam isso. E é como se, após uma desgastante procura por algo por um longo tempo, você encontrasse esse algo no bolso do seu casaco.

Panem et circenses.

Pão e circo. Dê-nos boa comida e diversão, e estaremos bem. Porque, afinal, quem diabos importa-se com a política do país quando o novo iPhone acabou de ser lançado? É tão sujo. No fim, somos todos dejetos de esgoto. E eu rio quando penso em como nossa sociedade pode ser tão influenciável, e por coisas tão mesquinhas e desprezíveis. Buda já dizia na Lei da Impermanência: tudo irá se modificar, e a tentativa de se apegar a qualquer coisa, situação, pessoa ou objeto é a base de todo sofrimento.

— Fala, cara?

Sculler tentava me ligar há horas. Horas essas que foram gastas dentro de algumas salas de aula, enquanto eu ensinava Química para algumas turmas de ensino médio. Mas hoje era quarta-feira, e o quarto ano não estava incluído na grade. Eu escapei da sala dos professores para vê-la mesmo assim, porque sou um masoquista de merda.

Encostei-me nas portas abertas de entrada para o refeitório, e acenei com a cabeça de um jeito masculino para o segurança em forma de cumprimento. Eu olhei de mesa em mesa até finalmente achá-la. Porra. Ela é uma maldita obra de arte. Como alguém pode sorrir daquele jeito? Quero dizer, é humanamente possível alguém ser tão perfeito?

Dentre todas as bandejas, a de Dawson era a mais saudável. Havia pão, frutas, uma caixinha de leite e um pote de plástico pequeno e transparente com nozes. A de Maxine possuía suco de maçã, batatas fritas e um muffin de chocolate. E ela parecia muito feliz enquanto selecionava as gotas de chocolate para comer antes de morder a massa fofinha.

Alexandra sorria de uma maneira contida para Quentin, e acariciava os lábios com o indicador, como se ouvisse o que ele estava falando, mas ao mesmo tempo estivesse imersa em pensamentos só seus. Ele gesticulava como se estivesse um bocado animado, e todos prestavam atenção e falavam algo vez ou outra. Havia um livro ao lado da bandeja, um livro intitulado O Apanhador no Campo de Centeio, e um caderno.

Dawson estreitou os olhos verdes sob óculos de leitura, e ergueu o rosto. Ela olhou brevemente para frente, antes de voltar-se em minha direção, e eu pude sentir adrenalina e noradrenalina sendo lançadas diretamente em minha corrente sanguínea. Eu observei Alexandra abrir o sorriso mais autêntico que já me fora direcionado, e não pude evitar um esgar de lábios. Ela realmente estava feliz em me ver. Não soube bem o que deu em mim naquele momento, mas pus-me a andar em direção àquela mesa. Ela esbugalhou os olhos verdes, mas ainda assim seus lábios sorriam, então ela ocupou a boca com a bebida em sua bandeja e olhou pra frente.

— Olá. — saudei.

Maxine olhou para Alexandra, que tomava seu leite com uma concentração desnecessária, e sorriu.

— Oi, professor Hughes.

Sculler enrugou o cenho, e disse:

— A sala dos professores tornou-se entediante demais para você? O que há?

Eu olhei ao redor, e dei de ombros.

— A vista aqui é ótima.

Alexandra engasgou-se com o leite que bebia, e começou a tossir loucamente. Maxine apoiou a mão no ombro de Quentin e tombou a cabeça para trás, gargalhando fervorosamente. Lambi os lábios, enquanto ria da escandalosa risada de minha aluna, e preparei-me para sair.

A Teoria do Caos.Onde histórias criam vida. Descubra agora