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Nós não jogamos Scrabble. Nós não transamos também. Nós certamente nos beijamos muito. Na verdade, nós nos beijamos tanto que quando encontrei-me sozinha no elevador pela primeira vez depois de horas, olhei-me no espelho e vi que meus lábios estavam inchados e avermelhados, como a cor do pecado; e meus olhos brilhavam como nunca antes.

Naquela noite, ainda que eu estivesse mais encantada por ele do que há dois dias, não podia negar que minhas inseguranças e nossos problemas estavam finalmente vindo à tona. Hunter poderia ser um protótipo de Pharrell Williams, cuja idade ninguém poderia adivinhar olhando seu rosto, mas ele ainda tem vinte e oito anos, e não é normal que um homem dessa idade esteja envolvido com uma menina de dezessete. Ele é bonito. Ele é realmente bonito. E eu suponho que possa ter algumas mulheres aqui e ali, então por que diabos está comigo?

Este certamente não é um daqueles momentos em que eu começo a ter uma dessas crises existenciais, mas não faz sentido realmente. Não duvido da minha beleza. Não duvido que eu possa conquistar caras sendo quem eu sou. E mesmo quando estávamos em Alki Beach, e ele segurava minha mão e olhava para mim e para meu sorriso. Mesmo lá, eu podia ver todas aquelas mulheres olhando para ele como se ele fosse um pedaço de carne ou algo realmente bom que elas poderiam usar para uma noite ou duas. O que não é o que ele é. Ele é o ser humano mais bonito que já conheci, e certamente não é um objeto.

Eu não duvido de seus sentimentos. Pelo menos acho que não. Ele parece ser muito verdadeiro quando estamos juntos. Mas é tudo muito novo. É isso aí. E não estou dizendo que esta é uma coisa ruim. Assim como nem tudo o que é novo é bom, nem tudo o que é velho é ruim.

A questão é essa: receio que ele esteja apenas tentando algo novo porque se cansou da vida habitual e, uma vez que descobrir que não é o que quer, volte direto para todas aquelas mulheres mais interessantes e experientes. E eu simplesmente não quero me perder no meio disso. Apenas não quero ter o coração quebrado, porque sinto que poderia amá-lo. Estamos juntos há pouco tempo, e eu já posso sentir. Está me consumindo. É uma dessas coisas que lemos apenas nos livros. E é real.

Estou com medo, como o inferno, meu amor, e gostaria que você soubesse o que me dizer.

— Você vai mesmo se inscrever para o Jornal da WS?

Eu olhei para Maxine, minha sobrancelha esquerda arqueada mostrava quão cheia de curiosidade eu estava sobre toda aquela ironia. Max observou o olhar que eu lançava em sua direção, e rolou os olhos, abocanhando a maçã verde. O barulho das moléculas de ar do pseudofruto se rompendo ecoou pelo corredor vazio; ela deu de ombros enquanto observava alguns armários adornados com tintas, glitter, e, surpreendentemente, penas. Alguns dos alunos animavam-se tanto com a ideia de entrar no Ensino Médio que faziam coisas assim. Enfeitar os armários era um sinal de pura excitação. Eu não estaria tão animada assim, não se soubesse como Física Avançada poderia ser irritante.

Maxine e eu optamos por sair do refeitório antes que todos o fizessem, porque o corredor virava um verdadeiro caos com tantos alunos tentando descobrir qual era a próxima aula do dia, e esgueirar-se pelos cantos, entre todos, até conseguir chegar na sala de aula.

— Maxine?

Ela deu de ombros novamente, e derrubou a fruta inacabada no lixo, sugando o suco que escorria entre seus dedos enquanto recomeçava a falar.

— Eu só quero saber o motivo do ufanismo repentino. Essa escola não trouxe coisas boas para você.

Nós paramos em meu armário para que eu pudesse guardar o livro de Física Avançada, e Max encostou-se no armário vizinho. Ela mordia a ponta de uma caneta azul e olhava atentamente para os lados, encarando todos os armários enfeitados e franzindo ambas as sobrancelhas.

A Teoria do Caos.Onde histórias criam vida. Descubra agora