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  Espero que amem ler tanto quanto
                   eu amei escrever.
                  Alexandra Dawson.

O sarcasmo é uma forma de ironia cáustica. Dizem que há uma linha tênue entre ambas as figuras de linguagem e há a sutilidade, mas eu acho que isso é apenas besteira. Sarcasmo é zombar livremente, porém educadamente daquela pessoa que parece uma obra de arte grotesca; e aí penso que há, de fato, uma sutilidade no ato. Ironia é expor suas ideias propositalmente contrárias ao que você acredita e quer dizer. Eu não fui irônica ao responder que sim, adoraria conhecer a mãe de Hughes. Ainda assim, ele pareceu um tanto aterrorizado com a resposta.

E na manhã seguinte, enquanto nos preparávamos para partir, Hughes esteve mais quieto do que jamais esteve. Ele comeu pouco, vestiu-se em silêncio, e eu já estava convivendo com ele há tempo suficiente para dizer com certeza que havia algo errado. Tentei animá-lo dizendo que sua mãe parecia com saudades no telefone, mas isso apenas o aborreceu e o deixou mais calado. Então tentei pôr uma banda de seu gosto, como Six Pistols, para ele cantarolar e fazer-me rir com suas cantorias, como faria em um dia normal, mas tudo o que ele fez foi encarar a paisagem e manter-se quieto.

Consegui fazê-lo falar quando paramos por alguns instantes no posto de gás para abastecer e comprar lanches. E como estávamos em uma greve não-oficial de silêncio, saí do carro honrando tal coisa. Eis que foi uma viagem imprevisível, eu não tinha o meu jeans folgado próprio para longas-horas-dentro-do-carro e tive que me contentar com o skinny, que realçava um bocado o meu traseiro e minhas pernas.

O cara que abastecia o carro ao lado do nosso percebeu isso também e eu pude sentir os seus olhares mesmo quando andava até a 7/11. Ignorei as notas que Hughes estendeu para mim antes de sair do Cadillac e paguei com a minha própria grana. Orgulho é um dos sete pecados capitais, o que posso dizer? O que eu podia dizer é que estava irritada com o olhar daquele homem; estava me olhando como se fosse um cão e eu, o suculento pedaço de carne que ele queria.

Hunter ficou irritado também.

Quando joguei minha mochila pequena e as sacolas no banco traseiro, ouvi a manivela sendo girada e o vidro de Hughes sendo abaixado. Os óculos escuros lhe conferiram o ar do cara durão que ele não era; e ainda havia um cigarro preso entre seus lábios, um isqueiro prata na mão e uma expressão cínica no rosto. A mesma expressão de alguém que está prestes a aprontar.

Cara! — ele chamou a atenção para ninguém específico, e quando obteve a atenção do homem que olhou-me, sorriu sem emoção e pressionou o polegar em cima das roldanas de metal, em direção ao botão vermelho do isqueiro; as chamas surgiram e Hughes inclinou o rosto para baixo, de forma que a ponta do cigarro queimou e fumaça escapou por seus lábios. — Você não sabe como fogo e gás não são uma boa combinação?

O homem enrugou o cenho, avaliando a ameaça, e após checar a mangueira de gasolina em sua mão e o isqueiro cuja tampa estava sendo aberta e fechada metodicamente por Hughes, e seu sorriso falso, ele optou por desviar o olhar e terminar o que fazia.

Observei Hunter fechar de vez a tampa do isqueiro e jogá-lo para dentro da mochila, uma vez que tomamos distância o suficiente para não sermos vistos por ninguém. O cigarro permaneceu em sua boca, e por isso fui obrigada a abrir minha janela também. E mesmo depois de ele terminar de tragar o tabaco e inalar a nicotina, mantivemos as janelas abertas; meus cabelos voavam para todos os lados e o ar era agradável.

A via estava relativamente tranquila, e não vi problema em encará-lo com um sorriso condescendente. Aparentemente ele viu, pois afundou mais no assento e olhou-me com o canto dos olhos.

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