Hunter Hughes.
"Entregou-se tanto ao vício da luxúria que em sua lei tornou lícito aquilo que desse prazer, para cancelar a censura que merecia."
Eu sorri, amargurado, e afundei ainda mais no sofá. Eu estava com os pés em cima da mesa de centro, uma caneta na boca e A Divina Comédia aberta no braço do sofá. Meu braço esquerdo estava escorado no encosto, e os meus dedos da mão direita moviam-se sobre o touchpad do notebook.
Dante Alighieri era um bastardo tão malditamente inteligente e consciencioso que seus livros faziam não somente eu, mas todos que o liam, se sentirem um bocado estúpido. Quero dizer, reconhecer álcoois, fenóis, aminas e ácidos, e aprender Química Orgânica era moleza comparado à tentativa de compreender a interpretação doentia e distorcida de Vita Nuova.
Eu achava uma verdadeira cretinice quando diretores de cinema tentavam transformar suas obras em filmes sem significado algum. Se alguns historiadores passaram décadas tentando interpretar uma singela frase de Purgatório, eles não seriam estúpidos de pensar que telespectadores conseguiriam compreender todo o contexto do livro em duas horas. Eles eram formigas, e formigas gostam de doce.
Dinheiro é doce.
Eu distrai-me mais uma vez de meus pensamentos com o volume exagerado do videogame de meu melhor amigo jogando Call of Duty. Eu abaixei a tela do notebook com dois dedos, entretendo-me com meu anel de ursinhos dançantes por breves instantes, e arranquei os óculos de leitura do rosto. Passei a mão livre sobre os olhos e suspirei pesadamente.
— Você não tem nada melhor para fazer?
— Você não tem que terminar seu livro em silêncio? — Sculler retrucou, sem tirar os olhos da televisão.
— Tenho certeza de que seu professor de Química passou algum dever.
O ruivo riu ironicamente.
— Certo, que seja.
Eu franzi as sobrancelhas e coloquei o computador de lado, preparando-me para o que viria a seguir. Eu sabia o que viria a seguir, mas venho tentado adiar o máximo possível.
— Você está esperando que eu pergunte por que está se comportando como um adolescente rebelde ou quer tomar chocolate quente antes?
Sculler pausou o jogo e abaixou a manete do videogame, finalmente virando o rosto para mim.
— Você é um idiota. Você sabe disso, não é?
— Eu sei. — disse simplesmente. — Mas eu ainda sou seu professor. Então, cadê o respeito?
Foi uma pergunta sarcástica e retórica, mas é claro que Sculler tinha que levar à sério.
— Eu não sei. — respondeu, honesto. — Me diga você.
Eu fechei o livro e levantei-me. Arranquei o maço de cigarro do bolso do jeans apertado e debruçei-me sobre o muro da varanda. Traguei o cigarro, e senti a ansiedade evaporar junto à fumaça que assoprei.
— Isso é sobre a garota de Memphis?
Sculler encostou as costas na parede e cruzou os braços, descrente.
— Garota de Memphis? O nome dela é Alexandra.
Eu ignorei o tom sugestivo, e ergui uma das sobrancelhas, esperando.
— O que você acha? Está implicando com ela por que não pode tê-la? Por que ela é sua aluna? Nós não estamos mais no jardim de infância.
Eu o encarei de soslaio, sem realmente dar uma resposta. Mas Sculler pareceu obter uma, porque rolou os olhos em pura impaciência.
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A Teoria do Caos.
RomanceGostosa. Era isso que Alex Dawson era: gostosa demais para o próprio bem. Eu me lembro exatamente de quando a vi pela primeira vez, porque sua beleza manteve minha atenção sem esforço. É piegas, e clichê, mas eu sou clichê e você também é, e tudo qu...