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       Peço desculpas pela demora. Eu
       não vou parar de escrever 'A
       Teoria do Caos', apenas preciso
       organizar o meu tempo.
                 Espero que gostem.
                 Alexandra Dawson.

— OK. Mais uma vez: você tem certeza absoluta de que seu pai não possui uma espingarda?

Eu rolei os meus olhos pela terceira vez desde que pusemos os pés dentro do Cadillac. Hunter estava explicando-me desde que saímos do hospital — trinta e dois minutos atrás —, que sua vida passara a ser mais valiosa desde que ele me conheceu, e que gostaria de ter mais algum tempo comigo antes que meu pai explodisse sua cabeça com a suposta espingarda que tinha, espingarda essa que nunca nem ouvi falar. E ele estava falando sério. Suas mãos abriram um paralelo invisível diante de mim, o que fez-me rir, para validar sua hipótese de como nos reencontraríamos num espaço agradável após a morte, e como ele esperaria por mim.

Hunter era potencialmente infantil, apesar de ter vinte e oito anos.

Eu repeti para ele, pela segunda vez, que papai não estaria em casa, e que sua sorte o limitaria a Tyler. Ele abriu um sorrisinho, aparentemente mais contente do que antes, e encostou as costas no banco do carro, relaxando pela primeira vez. Suas costelas quebradas estavam sarando; após quatro dias hospitalizado Hunter foi autorizado a ir embora; com quatro receitas para quatro remédios diferentes, devo acrescentar. Eu não saí de perto dele nem por um segundo. E com isso quero dizer que faltei mais três dias de aula, sendo repreendida por mamãe sete vezes em setenta e duas horas.

Ela compreendeu, apesar de não aprovar a mancha negra que ficaria em meu histórico escolar. E para papai eu estava na casa de Maxine, porque estávamos em uma semana de exames de matérias avançadas realmente difíceis e toda ajuda era bem vinda. Maxine sequer frequentava uma matéria avançada, e eu não me sentia bem em mentir para ele, mas às vezes merdas acontecem, e nós temos que acobertar essas merdas por um bem maior.

Sculler, Maxine, Quentin e até mesmo Riley iam até o hospital todos os dias depois das aulas; eles permaneciam lá por tempo o suficiente para Max e Riles atualizarem-me com toda a matéria perdida, e para Sculler e Quentin rirem do desconforto de Hughes e atualizá-lo sobre partidas de futebol, e sobre como o professor substituto era um tonto. Nessa parte Maxine acrescentou que agora podia dormir em mais uma aula, e Hunter não pareceu tão contente assim.

Para todos os alunos e para a direção não suspeitarem do sumiço repentino de Hughes e eu, mamãe havia ligado e explicado sobre uma suposta viagem de família.

Eu ficaria na casa de Hughes para cuidar dele e do que ele precisasse por mais algum tempo, e então voltaria a dormir em casa; ele alegou que não importava nem um pouco onde eu dormiria, desde que voltasse no dia seguinte, e soube que não era só dos cuidados que ele temia ficar sem.

A senhora Medsker havia contratado um professor substituto pelo período de um mês, e, não que os alunos tivessem gostado disso, mas ela realmente não teve escolha. Um mês era o tempo mínimo para a recuperação de costelas fraturadas, e nós apenas torcíamos para que Hughes sarasse nesse tempo. Ele já não sentia tanta dor graças aos analgésicos que lhe foram dados por Maggie, a enfermeira, o que era esplêndido, posto que suas primeiras noites de sono foram uma mistura de gemidos sôfregos e muita dor.

Nós não conversamos mais sobre nós, mas a tensão esteve ali todo o tempo. Queria poder dizer que não conversamos porque não tivemos tempo, mas não seria verdade. Todo o tempo que matamos jogando cartas em cima da cama e debatendo sobre como os Tennessee Titans eram melhores que os Seahawks, ou como ambos os times estavam com jogadores medianos nessa temporada, poderia ter sido gasto de maneira diferente, mas nenhum de nós atreveu-se a falar; então estagnamos naquela zona de amizade retorcida que nos era estranha, mas segura, e certamente melhor do que nada.

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