06.

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Sculler levou-me para casa naquele dia, e no dia seguinte, e no próximo dia também. Ficar ao seu redor era algo fácil e agradável ao sentidos, não seria difícil de se acostumar. E quando dei-me conta, já era sexta-feira, o dia da fogueira de boas vindas não somente às aulas, mas  aos alunos novos. E por ser um dia festivo, é claro que a escola estava um caos. Nós tivemos apenas dois tempos sérios: Física e Matemática. Porque mesmo que seja um dia de diversão, ninguém no último ano ousa dispersar a atenção em alguma dessas aulas.

Mas eis que algo aconteceu no dia anterior, e minha concentração era nula, assim como a aceleração no Movimento Retilíneo Uniforme. Está bem, talvez não fosse tão nula assim.

Antes de ir para casa, eu avisei que iria ao banheiro. Maxine e os meninos disseram que me esperariam do lado de fora. Veja bem, eu nunca tive o senso de olhar para frente enquanto ando. E por esta razão, eu esbarrei com meu professor de Química e foi um desastre. Eu estava com uma garrafa de água aberta em mãos e, pasmem, eu o encharquei e derrubei todos os seus livros. Meus olhos arregalaram-se tanto. É claro que minha primeira reação — uma reação muito errada em todos os malditos sentidos —, foi tentar secá-lo. Joguei minha mochila para o chão, junto ao meu livro de Economia, e arranquei meu casaco.

A ação foi lamentavelmente inútil, porque além da ação de secá-lo ser constrangedora por si só, ele usava uma blusa social branca, que tornou-se transparente, com as mangas enrugadas até o cotovelo. Céus, eu tive uma visão extraordinária. Eu comecei por seu pescoço, e sequei o início de seu peitoral por dois segundos até vê-las. Seu torso era coberto de histórias contadas em formas de desenhos. E era tão lindo. Eu quis tocá-las com minha boca, e com minhas mãos curiosas. O que fez-me perder o fôlego, no entanto, foi ver uma borboleta desenhada em tinta preta bem entre seus mamilos. Uma borboleta.

Eu ainda olhava para seu peitoral efetivamente à mostra quando ouvi sua respiração ficar pesada, logo após suas mãos se fecharem como se ele tentasse contê-las. E eu soube que era hora de correr o mais rápido possível. E fugir não somente do local, mas de minha mente ociosa e de seus olhos cinzentos. Eles mostravam o quanto a vida o ferrara nos últimos anos. Hunter praticamente tinha "problema" tatuado na testa.

Era isso que ele era: um problema. Um problema ambulante. Um lindo problema ambulante.

Então, eu corri. Para longe, para minha doce liberdade que durou pouco mais que trinta segundos. E aqui estou eu, rabiscando as linhas que formarão a asa esquerda de uma lepidóptera e tentando arduamente esquecer o tanquinho do meu professor de Química.

Fiz um borrão na tela ao ter minha concentração interrompida pela campainha. Limpei minhas mãos sujas de grafite em um pedaço de pano transformado em um combinado de cores e atravessei a porta do quarto. Tyler saiu ao mesmo tempo que eu, e ao ver que eu atenderia, encostou-se relaxado à batente.

— Espero que seja algum dos vizinhos com uma torta de boas  vindas.

Sem respondê-lo, encostei o traseiro no corrimão da escada e escorreguei até chegar no primeiro andar. Girei a maçaneta e encarei com curiosidade a garota de cabelos roxos que me encarava com as sobrancelhas franzidas.

— E aí, estranha?

— Max. — saudei, surpresa. — O que faz aqui?

Ela sorriu e apertou minhas bochechas.

— Se eu soubesse que você seria tão receptiva, teria vindo antes.

Eu rolei as orbes esverdeadas e sorri ao vê-la tomar a liberdade de entrar na minha casa. Fechei a porta novamente e encostei-me à ela. Ela parou de olhar ao redor e torceu o nariz ao focar em minha blusa manchada.

A Teoria do Caos.Onde histórias criam vida. Descubra agora