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Em três dias a presença de Ciel já tinha se tornado comum e não apenas para mim, mas também para Kate que parecia extremamente interessada no meu "servo" e não durou mais de um dia inteiro antes dele começar a fugir dela.

Eu ainda usava a touca horrorosa de pelúcia preta e as pessoas começavam a me olhar estranho quando passava por aí com ela, a estação estava cada vez mais quente e aquela coisa esquentava cada vez mais.

Ah! Não é preciso dizer que cada vez que insistia com Ciel para ele me ensinar a esconder minha presença ele negava e dizia que estava ocupado e que bastava eu usar a touca. Era frustrante.

Era o quarto dia quando finalmente cansei de usar aquela coisa ridícula.

— Hey — chamei a atenção de Ciel. Estávamos na cozinha, mais uma vez ele preparando meu café da manhã antes da escola (aparentemente ele fazia todas as minhas refeições e inda limpava a casa, eu estava ficando cada vez mais mal acostumada com apenas quatro dias...) eu girava minha touca nas mãos — do que é feito isso? E extremamente quente... É algum tipo de pelo sintético?

Ele deu uma risada lupina que fez seus ombros tremerem.

— Sintético... Claro... — ele disse ironicamente enquanto se levantava.

Foi então que percebia a semelhança entre o pelo lustroso da cauda de lobo que saia da base das costas dele e o macio tecido da touca.

Quase cai da cadeira quando levantei aos tropeços e agarrei a cauda de Ciel, ele soltou um grunhido de dor quando sentiu minha puxada.

— Sua idiota, mas o que você... — ele não terminou de falar antes de ser puxado e cair sentado no chão — ah... Você descobriu.

Tanto o pelo da sua cauda quanto a pelúcia da touca eram exatamente iguais ao toque e na cor. Joguei a touca de lado, com nojo repentino.

— Isso e seu pelo! — gritei enojada.

— Isso aí gênia — ele bufou e se levantou calmamente espanando a poeira da calça e pegou a touca do chão — o que você esperava que fosse? Uma pelúcia mágica? Pelo de unicórnio? — ele disse irônico e o que mais me chocou foi a possibilidade de que unicórnios podiam não existiam... — quando eu estiver perto posso te camuflar, mas se não puder te acompanhar o melhor e você levar uma parte de mim junto.

— Mas... — fiz cara de nojo — seus pelos?

— E daí? — ele me olhou irritado — preferia algum outro animal morto? Você usa botas de couro não usa? e aqueles coletes de pele. Qual o problema com a touca?

— E tudo falso! — falei indignada e ele retraiu as orelhas ao ouvir meu tom estridente. Me arrependi como se tivesse pisado no rabo de um cãozinho.

Antes que nossa discussão pudesse se extenuar mais Kate bateu na porta anunciando sua chegada como de costume para irmos para as aulas.

— Por enquanto só use isso, droga! — Ciel praguejou, enfiou a touca felpuda em minha cabeça e me empurrou para a porta — você já está praticamente atrasada! E não tire isso! — ele brigou quando fui ajeitar.

Ele me empurrou e tudo que pude fazer foi ficar enfezada e com a boca aberta com protestos que n pude dizer.

Por muitas vezes Ciel parecia minha mãe antes da separação, dizendo para eu parar de comer porcarias ou então para ajudar na limpeza e ainda com meus horários da escola.

Já fazia três anos desde que meu pai se mudou e minha mãe começou viajar, voltando para casa apenas em datas festivas. Fora isso eu fiquei sozinha boa parte do tempo. Era estranho ter alguém cuidando de mim com tanto zelo.

Guerras dos Magos Mestiços I - PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora