Acabou com Ciel me carregando até uma rua mais sossegada, onde Eliot nos esperava com a bagagem e uma sacola nova ao abrigo de um toldo de uma loja qualquer.
— o que aconteceu? — ele perguntou preocupado quando viu que estava sendo carregada.
— o que acha? — disse Ciel com desgosto — você realmente achou que ela ficaria quietinha naquele lugar? Essa criatura é um chamariz de problemas.
— desculpe por isso — eu disse sarcástica enquanto me debatia para descer do colo dele — eu achei que tinha visto Charles na multidão e fugi dele, não achei que seria ruim.
— você fez bem — disse Eliot acariciando minha cabeça como se fosse uma criança pequena. Não que eu parecesse muito maior que isso perto dele.
— pelo menos alguém aqui é legal comigo — eu usava de sarcasmo quando queria esconder alguma coisa — e então? Vamos embora? — eu os incitei a mudar de assunto, pedi para ir inconscientemente, mas não sabia mais se era o que eu queria. Meus amigos corriam perigo, o que eu devia fazer?
Antes que eu pensasse já tínhamos começado a andar e andar na surdina era extremamente complicado e, para mim, exigia uma concentração quase extraordinária, afinal eu tinha ficado extremamente alerta, não apenas pelo fato que eu estava sendo seguida por magos e servos mestiços e, para ter uma experiência completa, a qualquer momento eu poderia dar de cara com magos e servos regulares, ou seja, eu estava ferrada.
Eu tropecei na rua e resfoleguei.
— além de chamariz, também é extremamente desastrada — disse Ciel entredentes segurando o meu braço.
Num gesto brusco puxei meu braço de volta, não poderia simplesmente falar sobre o que minha cabeça estava cheia e muito menos que tínhamos que voltar. Não agora.
Eu apenas podia pensar em uma solução. E não estava nada animada para isso.
A única chance seria deixar que nos encontrassem e rezar para que não fosse tarde demais.
Mas como eu poderia chamar atenção de Charles e não dos outros? Quer dizer agora eu tinha que tomar cuidado dobrado e se fosse para ser achada tinha que ser apenas pelas pessoas certas.
— espera! — eu tinha bolar alguma coisa e precisava ser agora, não tinha tempo para pensar em um plano mais elaborado e se eu fosse pensar eu simplesmente pensaria para sempre. Eu parei no meio da rua.
— o que foi? — Ciel e Eliot praticamente perguntaram juntos, ambos se refreando no meio da rua.
Esperava que se alguém estava nos perseguindo que nos olhasse no meio da rua, e que olhasse logo, afinal eu não sabia quanto tempo ia conseguir enrolar aqueles dois ali.
— eu... Hum... Esqueci uma coisa lá no café! — foi a primeira mentira que veio a minha mente, então eu tinha que bolar a próxima que eu já sabia que viria.
— o que? — Ciel parecia mais irritado do que o comum deixe para lá! Nós precisamos ir agora! Ou não vamos sair dessa cidade!
— pulguento! Não grite com ela! — Eliot interveio.
Eu não contava com essa, mas deixar os dois brigarem naquele momento me parecia uma ótima ideia.
Eliot era mais alto que Ciel, o que o tornava intimidador, e chamava muita atenção na rua, apesar de ter poucas pessoas naquele lugar, não podíamos prever quem era ou não mago, servo ou espião dos regulares, eu ainda não sabia como diferencia-los com precisão. Eu teria que bolar outra coisa mais tarde.
— Eliot! Ciel! — eu me coloquei entre os dois, parecendo diminuta entre ambos — aqui não é hora e nem lugar para isso!
Eles me olharam de relance, mas pareceu que cessariam aquela briga por hora.
— e? O que você esqueceu? — eu odiava aquela perspicácia lupina que Ciel tinha para aqueles momentos... Sua desconfiança era terrível, mas considerando que eu não era exatamente obediente, eu não podia julga-lo.
— nada importante — eu disse já começando a andar, tinham olhos demais naquele lugar, eu não poderia arriscar me expor, afinal meu objetivo aqui era ficar viva!
— o que você está escondendo? — Ciel parecia extremamente desgostoso, tinha parado no meio da rua e não parecia ter intenção de se mover dali.
— pare com isso! Não estou escondendo nada! Vamos logo daqui! — eu o peguei pelo braço e tentei puxa-lo, mas como eu já sabia, ele nem se mexeu. Eu não sabia mais o que fazer... Talvez seu eu falasse a verdade ele não me matasse... Ok... Essa ideia me parecia idiota.
— hey, acho que não é um momento para discutir agora — Eliot nos interrompeu, impressionantemente ele era a voz da razão no momento — olhem para isso — ele olhava para cima e, involuntariamente, olhamos na mesma direção.
Num telhado, a poucos metros estava um homem meio pássaro, que eu não saberia dizer se era servo ou mago, ou até mesmo que grupo pertencia e algo me dizia que eu não tinha muita vontade de descobrir.
Alguém me levantou e começamos a correr, porque afinal, correr numa velocidade humana era algo inútil, eu tinha que ser carregada!
Eles correram e eu fiquei olhando para o caminho que tínhamos percorrido, atrás de nós. Eu vi o homem pássaro ainda nos seguindo, correndo pela rua vinham mais três homens e uma mulher, mas conforme fugíamos eu ia perdendo-os de vista.
Eu mal via as casas passarem por mim além de um borrão, apenas pensava em quanta atenção nos estávamos chamando naquele momento.
E tão súbito paramos como corremos, mas eu não conseguia ver nada, afinal estava de costas para o que bloqueava nosso caminho.
— você — Ciel, que me carregava como um saco para variar, praticamente cuspiu as palavras.
Eu não sabia dizer quem estava em nossa, mas pelo ódio e a tensão que meus servos estavam eu só conseguia imaginar hipóteses ruins. Assisti enquanto os outros perseguidores se aproximaram de nós e nos rodearam, impedindo a fuga para qualquer que fosse o lado.
— desculpem ai... Mas por aqui vocês não vão passar — a voz conhecida que tinha invocando tanta tensão naqueles dois anunciou.
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Guerras dos Magos Mestiços I - Passado
FantasíaElizabeth Bliss era uma garota ordinária... Até ter uma forte febre e descobrir que não era apenas uma garota normal, mas sim uma maga mestiça! Após libertar um lobo meio homem, que agora diz ser seu servo, ela é arrastada para uma guerra centenária...