Eu acordei sem saber o que tinha acontecido, minha mente era nebulosa, acordei numa cama qualquer, onde eu não lembrava de ter ido dormir.
Ah! Eu tinha fugido da colônia... Provavelmente aquele era o lugar onde Ciel e Eliot tinham achado para que nos passássemos a noite...
Cocei meus olhos para espantar o sono, ainda estava confusa, não via ninguém conhecido e o quarto era pequeno demais para ser uma pousada... Onde diabos nós estávamos?
Ouvi passos apressados do outro lado da porta fechada e imaginei que provavelmente eram aqueles dois brigando novamente ou algo assim. Abri a porta, mas não encontrei ninguém, apenas um longo corredor que virava a poucos metros, e vi apenas a sombra da pessoa que corria.
Aquele lugar começava a me dar arrepios, o que era aquilo? Parecia... Um hospital...
Persegui a sombra que tinha visto e ouvi uma balburdia por trás das grandes portas duplas na qual terminava o corredor, eu podia ouvir várias pessoas apressadas, gemidos e outros sons que não queria saber da onde provinham.
Hesitei. O que eu estava fazendo num hospital? Minha cabeça doía e eu não conseguia lembrar de nada além de minha fuga, trinquei os dentes e empurrei as portas duplas e fiquei petrificada com a cena: tinham várias pessoas naquele lugar, todas em macas ou em finos colchoes espalhados pelo chão, muitos estavam com os corpos cobertos de bandagens sujas de sangue, outros gemiam e outros pareciam delirar, enfermeiras corriam apressadas com baldes e bandagens, haviam servos ali também, mas, talvez pelo fato que se curavam rapidamente, eles pareciam bem, porem muitos gemiam e se contorciam pela dor que era compartilhada por seus mestres e no fundo, o que mais aterrorizava eram os corpos completamente cobertos por panos. Não havia movimentos neles e ninguém parecia ligar para eles.
Senti náuseas e minha respiração ficou mais pesada, o que não ajudou, pois, o cheiro de sangue e desinfetante so agravou meu estado.
— você não devia ter saído do seu quarto — ouvi uma voz conhecida e uma mão cobriu meus olhos.
Coloquei as minhas, tremulas, acima da de Ciel, eu não queria mais ver aquilo. Eu não queria saber como aquilo tinha acontecido, mas mesmo assim eu sentia ânsia e sentia que as memorias começavam a voltar lentamente.
— vamos — Ciel começou a me guiar para trás, ainda cobrindo meus olhos.
— eu não... Enxergo... — até mesmo minha voz era fraca.
— você não deveria ver isso — disse ele, de certo modo aquilo era reconfortante.
Deixei que Ciel me levasse embora, ele me pegou no colo, ainda cobrindo meus olhos (uma façanha que eu acho que foi incrível) e senti que ele andava.
Ele me carregou até o quarto que eu tinha cordado, eu ainda estava confusa, mas eu não tinha nenhuma vontade de reclamar sobre ser carregada ou qualquer outra coisa.
— o que... O que aconteceu? — minha cabeça doía e, quando olhei para Ciel, podia jurar que ele parecia um pouco mais magro e tinha marcas recentes na pele, como cicatrizes recentes.
— você não se lembra? — ele perguntou e me ofereceu um copo de agua, eu não tinha notado o quanto estava sedenta.
— lembrar do que? — eu perguntei — Eliot se machucou enquanto fugíamos? Eu acho que dormi...
A porta se abriu ruidosamente e Natsume e Yukihime entraram, minha amiga japonesa jogou os braços no meu pescoço, me abraçando apertado. Eu estava estupefata.
— mas o que?... — o que Natsume fazia naquele lugar? Em teoria eu tinha fugido, não é?
—eu estar... Tão preocupada! — ela falou entre soluços, e então vi que ela chorava.
— Natsume... Mas o que? — olhei para Ciel confusa e acusadoramente — o que aconteceu?
Natsume falou algumas coisas rápido em japonês e eu não consegui acompanhar e nem traduzir.
— ela disse "eu estava tão preocupada! Você sumiu! E depois aquelas pessoas apareceram e começaram a matar todos! Arthur tentou me avisar, mas aquela mulher escorpião apareceu e ai o braço dele foi arrancado e..." — era incrível como Yukihime fazia as palavras tão expressivas de Natsume soarem tão frias.
— esperem, mas o que? ... — eu a interrompi em sua tradução e soltei delicadamente as mãos de Natsume — mas o que esta acontecendo? — eu já começava a rir de nervoso, claramente tinha alguma coisa ali que eu não estava lembrando... Ou será que todo mundo tinha enlouquecido?
— você não... Lembra? — Natsume me olhou com olhos chorosos.
— lembrar de que? — eu a contestei, estava preocupada, mas minha vontade de rir de nervoso era grande, ou seja, eu devia parecer uma maníaca naquele momento.
— as pessoas fazem isso de vez em quando... Principalmente para esquecer coisas ruins — Charles apareceu na porta, de braços cruzados e vários pedaços de gaze branca pelo corpo, que faziam com que sua pose de machão parecesse um pouco estupida — mas fico feliz de te ver inteira — ele jogou um sorriso charmoso — ou o mais inteira possível.
— o que veio fazer aqui? — eu perguntei irônica, apesar de minha dor de cabeça estar piorando de forma bombástica, eu não poderia evitar — veio me acorrentar para que não fuja de novo?
— mais ou menos isso — ele balançou a cabeça ponderativamente — na verdade vim ver só se a área estava livre... O chefe quer te ver.
— Dominik? — apenas pronunciar o nome me fazia querer vomitar... Mas eu ainda não tinha ideia do porque...
— até agora ele é meu único chefe — ele levantou uma sobrancelha e olhou para o corredor, saindo de sua pose para outra quase rígida — falando no diabo...
Quando vi o rosto de Dominik eu entendi o porquê eu estava com calafrios desde que acordei, senti perder o chão e a temperatura deixar meu corpo e lembrei de tudo. Lembrei-me daquele genocídio, lembrei de Arthur que tinha perdido o braço e de Natsume transformada... Lembrei de ver Eliot e Ciel matando pessoas... E lembrei que aquele homem na minha frente tinha matado minha melhor amiga... E a única pessoa que considerava minha família...
Mesmo me sentido extremamente fraca eu corri para cima de Dominik e tentei ataca-lo.
— seu maldito! — eu cuspia as palavras em pura raiva — ela estava do nosso lado! Ela era minha amiga! — eu gritava, Ciel me tinha pego pela cintura e me segurava longe do pai e Blake — ela tinha me ajudado! E você a matou! — eu gritava desesperadamente, lagrimas corriam por meu rosto, eu sabia que não conseguiria traze-la de volta, mas pelo menos eu tentaria vinga-la — eu vou matar você!
Dominik encarava minhas ameaças indiferentemente, todos me olhavam como se eu fosse louca.
— que bom que esta tão enérgica senhorita Bliss — ele ajeitou o paletó, ignorando completamente minhas ameaças e gritaria, assim como Ciel agora segurava minhas mãos, me prendendo — peço minhas desculpas por matar sua... Amiga... Eu não sabia que ela era tão estimada assim por você — eu sabia que ele apenas estava sendo simpático para que eu fosse novamente para seu lado, mas tudo que eu queria naquele momento era socar e chutar aquela cara rígida e quadrada, com o máximo de força que eu pudesse e eu ainda me debatia quando ele pensou em se aproximar de mim — mas você entende não é? Ela não estava realmente do seu lado... Ela matou muitos de nos — eu fiquei parada por um instante e ele aproveitou essa brecha para se aproximar ainda mais, eu estava ofegante mas não sabia se era de raiva ou por estar cansada de me debater... Provavelmente dos dois — mas se você faz tanta questão de sua presença, viva. Creio que só há uma maneira — ele sorriu, astuto e por um momento quase pensei que ele poderia ter planejado tudo aquilo.
— assassino! — eu gritei e o chutei, quase derrubando-o, se não fosse por Charles, que o amparou antes de cair no chão.
— creio que agora é hora de deixarmos a senhorita Bliss em paz — ele falou com Natsume e Yukihime — creio que ela precisa de alguns momentos para refletir — ele me olhou com uma mistura de raiva e presunção, que me fazia odiá-lo ainda mais.
ent-g
VOCÊ ESTÁ LENDO
Guerras dos Magos Mestiços I - Passado
FantasyElizabeth Bliss era uma garota ordinária... Até ter uma forte febre e descobrir que não era apenas uma garota normal, mas sim uma maga mestiça! Após libertar um lobo meio homem, que agora diz ser seu servo, ela é arrastada para uma guerra centenária...