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   Mais de um mês tinha se passado quando finalmente pudemos sair daquele hospital, eu não sabia qual era a precedência dele e era muito suspeito, tanto o lugar estupidamente fechado, quanto aos gemidos dos sobreviventes que eu escutava de meu quarto e me davam pesadelos, ou pelo menos eu esperava que fosse por culpa deles, desde que tínhamos chegado eu não tive uma noite sequer de sossego, imagens do inferno em chamas, genocídios e outras bizarrices enchiam minhas noites de terror e como prova eu tinhas olheiras permanentes agora, vivia de mal humor e cansada, meu corpo tinha se recuperado quase por completo, mas mesmo assim eu estava estranha para mim, tinha perdido ainda mais peso e minha pele tinha se tornado uns dois tons mais clara, meu cabelo tinha crescido e eu o matinha preso a todo momento. A boa notícia era: eu tinha perdido peso e agora eu era mais próxima de meus servos.

Mas, apesar de tudo, minha vida até que estava tranquila... E essa monotonia seria quebrada em pouco tempo... Tínhamos sido mandados de volta ao lugar de início, a casa que Blake tinha nos acolhido, não podia negar que era bom rever Iana e Taú, Natsume e Yukihime pareciam mais animadas e Arthur ainda estava desolado pela perda do braço, seu sorriso era triste e podia-se ver que ele ainda não tinha se acostumado a esta posição.

O tempo estava passando rapidamente, já nãos sabia se poderia seguir em frente com meus planos para mudar o mundo (parece um pouco idiota quando eu digo, mas era exatamente o que estava tentando fazer) e eu não tinha nem mesmo visto a sombra de Dominik ou de qualquer um de seus leais seguidores.

Eu já estava ficando impaciente. Eu queria ir naquela missão, mas porque ainda não tinham me chamado? Será que tinham me descartado? Achado outra pessoa? Estavam me punindo por ter fugido? Qualquer uma das opções me irritava profundamente.

De qualquer forma, agora eu já tinha de volta a minha vida tranquila, o que me fazia lembrar de meus problemas banais e idiotas, quando eu não estava me lamentando por minhas perdas, apesar de já ter passado tanto tempo e eu ter me recuperado o melhor possível, ainda doía.

E eu estava cogitando meus problemas de adolescente em crise (como por exemplo, que eu morreria sozinha, pois se dependesse de viver naquele lugar era o meu futuro), comendo um ótimo café da tarde com minhas amigas e amigos, que se mostravam incrivelmente complacentes com a minha situação e a situação de guerra traumatizante no geral.

Eu já estava desistindo quando um raio de luz entrou pela minha janela, Charles entrou pelas portas duplas com um estrondo, fazendo uma de suas entradas como sempre, ele parecia completamente recuperado e nem mesmo mostrava um sinal de que tinha presenciado aquele inferno a pouco tempo. Ele era mesmo um cara forte. Em muitos aspectos.

— Charles! — eu sorri e o chamei — acho que essa é a primeira vez que fico feliz em te ver!

— como assim é a primeira vez? — ele falou indignado — todo mundo sempre fica feliz ao me ver!

— hãm... — não sabia se ele estava tirando com a minha cara ou não, e — bom... Considerando que praticamente todas as vezes que te vi, você me espancava... — eu sabia que não podia fazer feio com ele agora, principalmente se eu ia pedir favores ou informações — mas isso não importa! — eu o interrompi antes que ele pudesse retrucar novamente, se começássemos com isso duraria muito tempo — eu preciso falar com você.

Eu corri e o empurrei para fora com esforço, já que ele provavelmente estava se fazendo pesar de proposito, levei-o para o corredor, sem me importar o quanto isso pareceria suspeito para as pessoas que viram enquanto eu o raptava.

Depois de leva-lo me surpreendi o quão constrangedor era falar com ele sobre a missão, eu já havia dado para trás uma vez, como poderiam confiar em mim novamente? Eu estava começando a ficar nervosa.

— Charles... É que... Eu queria saber se... — ok, eu estava incrivelmente nervosa, tinha me posto tímida de forma estranha.

Charles riu. Uma risada barulhenta que me irritou profundamente, não era legal quando alguém tenta dizer algo importante e difícil e a pessoa rir da sua cara.

— não precisa dizer mais nada... — ele sorriu de maneira estranha — mas desculpe... eu não posso pertencer a uma mulher só...

Ele piscou para mim e eu estava descrente demais para ter qualquer reação, além de ficar encarando ele boquiaberta. Quanta autoconfiança uma pessoa tinha que ter para chegar a uma conclusão daquelas?!

— você está tirando com minha cara, não é? — eu não consegui me conter e perguntei de maneira rude — você é idiota? Eu só queria saber se aquela missão ainda está de pé! Eu nunca que iria atrás de alguém como você! Idiota! — o lado bom era que eu havia superado minha timidez, o lado ruim era que havia acabado de chamar de idiota o cara para quem eu ia pedir ajuda... duas vezes!

— ah... — ele pareceu um pouco desanimado — pois bem, de qualquer forma o chefe me pediu para chamar você — ele se virou e começou a caminha pelo corredor.

Imediatamente meus dois stalkers surgiram a meu lado, por que será que eu não me surpreendia que eles estavam escutando?

Eliot me cutucou de leve e levantou o polegar para mim, olhei para ele enojada.

— eu vou torcer por vocês — ele sussurrou com sorriso.

—há? Do que diabos você está falando? — eu me lembrei do equívoco de Charles, obviamente que Eliot o entenderia errado também — idiota! — eu sibilei atônita — eu já disse que isso está completamente errado! Quem poderia gosta de alguém como... como ele?! — eu apontei para Charles.

— já entendi, você não gosta de mim — Charles acenou de costas, sem se virar para nós, obviamente ele estava ouvindo, apesar de estarmos falando baixo — você também não é meu tipo, mas também não precisa ofender.

Nas últimas palavras ele se virou e abriu as portas da biblioteca para nós, não pude o olhar nos olhos enquanto passava, ter dito aquilo era realmente mal.

Nos três entramos, chalés fechou a porta atrás de nós e foi embora, a mesa estava Dominik e Carla, não presos com trabalho como se supunha, mas ele me olhava e parecia me esperar.

— e então senhorita Bliss? — ele realmente estava me esperando, não era a minha imaginação, e pior, ele sabia exatamente por que tinha me trazido ali tanto quanto eu sabia, provavelmente sabia de minha nova determinação e com certeza tinha planejado tudo aquilo, ou com quase certeza.

— e então o que? — tentei me fazer de inocente, não queria que ele achasse que eu estava ansiosa para aquele momento.

— podemos parar com quaisquer joguinhos senhorita Bliss — ele me encarou fixamente e eu senti um arrepio subir pela minha espinha — você e eu sabemos pelo que você está aqui, preciso saber sua resposta. Você está pronta para a missão? Ou vai desistir novamente? — ele pronunciou a parte de desistência como se maldissesse algo e, ao seu lado, Carla riu, um risinho de escarnio que me fez trincar os dentes, eu realmente não era uma pessoa muito paciente para esse tipo de situação.

Trinquei os dentes e engoli em seco, sabia que a partir daquele momento eu estaria à mercê daquele homem, mas eu já tinha me decidido e dito a mim mesma que não teria mais volta, aquelas pessoas podiam ser horríveis e as da onde eu ia, piores ainda, mas era do meu futuro que estávamos falando, sempre dizem que para conseguir algo na vida se deve engolir alguns sapos e cair algumas vezes, não é? Tudo aquilo era para o bem do meu futuro. Meu futuro egoísta onde eu queria todas as pessoas que eu amo bem e perto de mim e, principalmente, vivas. Eu não deixaria ninguém ficar no caminho de meu ideal.

— sim — eu disse firmemente, eu não ia mais fugir. Nunca mais.

— ótimo — Dominik sorriu, ele parecia um demônio que acabou de conseguir comprar mais uma alma. No caso a minha alma! Eu até podia imagina-lo com uma plaquinha escrito "bem-vinda ao inferno"... — já temos tudo pronto, a partir de agora você será Nora Welsh.

GMzg

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Guerras dos Magos Mestiços I - PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora