Guerras dos Magos Mestiços I - Passado

21

   Charles me levou a uma área mais arborizada e com menos pessoas, uma pequena clareira de mato rareado e parecia ser bastante utilizada para sabe-se lá o que. Mas parecia algo sinistro, pois as arvores envolta estavam dispostas quase em círculo e todas tinham marcas de arranhões, golpes, chamuscados e etc. No tronco, não saberia dizer se algum deles era recente, mas haviam muitas marcas.

— acho melhor você se sentar — disse Charles se pondo a minha frente, estávamos a sós, ele não tinha permitido que ninguém nos acompanhasse, mesmo quando Ciel insistiu — eu sei que não sou muito bom em explicar as coisas, mas vou fazer o melhor possível, e espero que você fique consciente dos riscos... Você só terá uma chance de desistir... E é agora, pense bem... Te trouxe aqui para que você pudesse pensar por si mesma, sem ter a influência dos seus amigos e...

— só diga logo — minha ansiosidade superou o suspense que Charles tentava fazer.

— você é direta — Charles riu, já era a primeira vez que me falavam aquilo — pois bem, o que queremos o que faça é o seguinte: queremos que entre num dos centros dos bruxos regulares e roube a informação de onde Mefistófeles está.

Passei alguns segundos embasbaca, primeiro pensei que era uma piada, pedir para mim, uma novata sedentária, dar uma de espia? Só podia ser brincadeira.

Comecei a rir, mas Charles me olhava seriamente, o que fez olhar para o chão, senti o rosto perder a cor.

- você... Não está brincando está? — eu perguntei com um bolo na garganta.

— não... — disse Charles sério, até agora eu tinha pensado que ele apenas um fanfarrão, mas seu rosto era sério — sabemos que o que estamos pedindo a você é de mais, você pode até morrer se te descobrirem... Por isso esperamos trazer você até aqui para contar, esse lugar é onde está a maior concentração de bruxos mestiços no mundo, mas você viu como somos poucos? — eu assenti, se aquilo era onde tinha mais pessoas eu não queria ver onde tinha menos, ali deviam ser no máximo algumas dezenas de bruxos juntos — não podemos nos dar o luxo de perder uma oportunidade como deixar você desistir...

— eu sou nova aqui, porque não pedir para alguém com mais experiência? — agora que me tinha caído a ficha só me restava ser logica e minha mente funcionava a mil.

— são poucos os que tem idade certa para entender isso, temos alguns candidatos, mas vai levar pelo menos mais alguns anos para eles terem maturidade, queremos que você vá a um centro que funciona como um centro de estudos... Só aceitam adolescentes acima dos 15 anos, mas lá é um grande centro tecnológico e temos certeza que se pudermos haquear as informações podemos achar Mefistófeles — explicou Charles.

— achei que era impossível acha-lo, ou capturá-lo — disse me meu fio de voz, minha cabeça começava a querer girar.

— nós realmente não temos nenhuma tecnologia para isso, somos novos aqui e não temos muitos aliados nem informações... — o homem a minha frente era totalmente logico e plausível, mas ao mesmo tempo podia sentir um certo desconforto — mas os regulares tem o monitorado a anos, se conseguimos acha-lo... — ele passou uma mão pela barba.

— eu... — continuei cabisbaixa, sem saber ao certo o que dizer, aquela era a segunda vez que eu estava sem saber o que fazer, mas eu não podia simplesmente recuar, era possivelmente uma missão suicida, mas se eu fosse talvez eu conseguisse voltar a minha vida normal, talvez eu pudesse concertar tudo. Minha mente estava contraditória, uma parte me dizia para correr o mais longe possível, mas minha parte logica me impelia a ir adiante na missão, possivelmente eu era a única pessoa que poderia fazê-lo, se não eles não me mandariam, não é? Era algo que apenas eu poderia fazer, ou pelo menos era assim que eu queria pensar — eu... Vou... — olhei para Charles e dei um sorriso vacilante — é algo que só eu posso fazer, não é? Então não tem jeito.

Charles se aproximou e tirou o cabelo do meu rosto, não tinha notado, mas eu tinha começado a suar levemente.

— idiota — ele me disse — não tente dar uma de forte enquanto você está suando frio e tremendo.

— não estou tremendo! — eu disse indignada, graças a Charles comecei a sentir meu sangue fluindo novamente.

— então sua resposta é positiva, não é? — ele disse se levantando e ficando de costas para mim e assoviou aliviado — por que sempre jogam as coisas complicadas para mim fazer?

— e porque você não vai? — perguntei para ele — você não parece muito mais velho que eu.

— é a agua — ele respondeu em seu tom brincalhão usual — eu tenho 23, também acho que poderia me passar por mais novo, mas não posso, é... Arriscado demais... Pode ter muitas informações sobre mim por aí... — ele disse misterioso.

— ficha criminal extensa é? — perguntei brincando.

— como você descobriu? — ele disse sério, e depois riu, provavelmente da cara atônita que fiz — nem todo mundo é comportado como você — ele piscou para mim, aparentemente ele tinha a mania de piscar para as pessoas, não sabia se era um tique nervoso ou se estava tentado jogar charme... Mas se estava aquilo definitivamente não funcionava em mim — eu vou ser um de seus professores — anunciou ele mudando de assunto.

— você? Professor? — disse para ele descrente — vai me ensinar o que? Como roubar carros? Sr. Tenho ficha criminal.

— mais ou menos isso... Na verdade acho que está incluso no pacote... — ele disse analisando o terreno a sua volta — mas por hora vamos começar com defesa pessoal.

— espera — eu disse me levantando — defesa pessoal? — eu não era uma garota violenta, mas acho que sabia me defender bem.

— na verdade defesa pessoal e utilidades — ele esclareceu.

— utilidades? — senti um certo tom de alarme quando ele disse essa palavra, não me parecia coisa boa.

— sim, sim... Utilidades sabe... Como roubar um carro... Desativar um alarme... Se livrar de cães... O que for necessário para uma fuga — dito isso senti um arrepio descer pela minha espinha — nunca se sabe o que pode acontecer... Você vai pelo menos mais uma pessoa para te ensinar o básico sobre magia e etc. Isso não é algo que nos interesse...

— espera! Me interessa sim — eu protestei.

— não, não interessa — ele repetiu — no momento você é minha aluna e vamos aprender a se defender, eu vou te ensinar uns truques que vai te ajudar a derrubar pessoas pelo menos três vezes maiores que você — ele sorriu para mim — agora você já não pode mais voltar atrás lembra?

Eu assenti, relutante.

— então primeiro: vamos te comprar lentes de contato novas, quatro olhos — ele comandou e eu ajeitei meus óculos atrás das orelhas meio ofendida.