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   Ter Charles como professor era um inferno. Até o momento eu tinha sido uma pessoa caseira, cujos planos incluíam fazer o mínimo possível de esforço, e eu tinha me esquecido dessa informação crucial.

Não bastando ele ser rígido com um treinamento físico que quase me matava de dores, Charles tinha me preparado um magnifico treinamento militar, incluindo corridas e flexões e aprender a se defender, possivelmente como o próprio Charles aprendeu, ou seja, apanhando.

Eu já tinha assistido a vários filmes de luta e jogado vários games de artes marciais, e cada vez que eu tentava fazer algo que eu achava incrivelmente legal eu era lembrada de duas coisas. Primeira: aquilo não era um filme ou um game, ou seja, eu não conseguia fazer nada direito ou com efeito. Segundo: eu ainda era uma humana comum, praticamente sempre acabando com contusões, ou falhando miseravelmente naquele treinamento.

Ainda por cima ele me seguia para todos os lados, me mandando fazer isso ou aquilo em horas que não tinha motivo, como me acordar as três da madrugada, me mandar correr o mais rápido possível até o local que sempre treinávamos e simplesmente me mandar voltar a dormir.

Só havia uma resposta: ele estava realmente se divertindo em me infernizar.

As aulas de em que eu aprendia alguma coisa de magia eram pelo menos para algum descanso... De corpo, porque de mente não adiantava, o esforço mental que era necessário me parecia absurdo, minha cabeça quase explodia a casa aula, que, de acordo com os professores, eram coisas simples como levitar e usar telepatia, a vantagem era que me permitiam usar os círculos para faze-las, e os círculos eram legais, pareciam círculos de transmutação de uns animes e mangas que eu tinha lido a tempos atrás e isso me fez memoriza-los rapidamente.

O que fez meus professores de magia me elogiarem. O que me deixou realmente feliz, afinal eu tinha pessoas realmente difíceis de colaborar me ensinando, como por exemplo Dominik.

O único professor fixo que eu tinha era Charles, já magia era me ensinada a cada dia por uma pessoa diferente, aparentemente alguns estavam ali apenas de passagem e aproveitaram para me ensinar, alguns eram residentes dali e tinham habilidade em determinado setor, como Arthur, que me ensinou uma espécie de "comunicação" com os animais, conseguia acalma-los e faze-los se aproximar e até mesmo dar instruções a eles... Era incrível e eu era incrivelmente ruim nisso... Aparentemente eu só servia para coisas mais brutas como criar círculos destrutivos e tacar fogo nas coisas. E, por fim, outras vezes eram servos que me ensinavam e quase sempre eles eram quem mais tinham paciência comigo.

Antes que eu percebesse, algumas semanas já tinham passado e quando pude me olhar no espelho eu vi uma garota mais magra e seria que eu no espelho, o cabelo estava mais comprido, tinha alguns hematomas e arranhões que podia-se ver onde a pele estava amostra e olheiras mais escuras que o normal, delatavam as noites mal dormidas por causa de dores de cabeça e por causa do professor infernal (Charles).

Pela primeira vez eu tinha acordado antes que alguém, vulgo Charles, viesse me arremessar da cama e me surpreendi ao encontrar minhas amigas, meus servos e meu amado professor tomando café da manhã amigavelmente.

— o que? — eu cocei os olhos, tinha quase certeza que aquilo era um sonho, em instalações militares não se tomava café da manhã amigavelmente.

— você está realmente péssima — comentou Charles entre um e outro gole de café.

— de quem você acha que é a culpa? — eu perguntei me sentando, eu já tinha desistido de tentar desobedece-lo, foi necessária uma única vez para eu aprender que ele era mais rápido, mais forte, engenhoso quando se tratava de batalhas e também muito mais sádico que eu.

Olhei para Ciel e Eliot, mal tinha falado com eles nos últimos tempos, não tinha tido tempo, e eu tinha minhas suspeitas que eles foram avisados para ficarem longe de mim, sabia que Eliot estava ajudando Carla com sabe-se lá o que, Eliot nunca resistia a uma donzela em apuros ou precisando de ajuda e Ciel tinha sido posto na coleira, pois eu não tinha ouvido um pio ou sequer uma de suas reclamações, ele apenas me olhava com uma cara estranha e desaparecia.

Agora eu percebia um pouco de preocupação dos dois, Ciel me olhava com sua cara amarrada, mas as vezes eu o pegava me olhando de rabo de olho com preocupação, o que me dava vontade de soca-lo. E eu iria fazer isso se ele falasse alguma coisa, mas para manter sua pose eu duvidava que ele fizesse.

Já Eliot a demonstrava abertamente, me tratando como se eu fosse de cristal, querendo pegar as coisas para mim e etc.

— e então? — Perguntei a Charles quando todos se acalmaram e eu finalmente tinha conseguido pôr as mãos em alguma comida — a que devemos a ilustre visita? — perguntei mal-humorada.

— tenho que ter alguma intenção para visitar algumas belas damas? — ele sorriu e piscou para Natsume, que eu jurei que corou pelo menos um pouquinho.

—... Na verdade sim — eu disse por fim, tinha acabado de perder uma chance de fazer uma piada com Ciel. Charles realmente tinha conseguido, finalmente, quebrar meu bom espirito.

— que maldade! — ele riu — eu vim aqui fazer uma proposta, uma muito boa por sinal.

— qual? — perguntei, pegando mais um sanduiche que magicamente apareceu na minha frente.

— você já treinou bastante... Acham que você está pronta — enquanto Charles disse eu não pude evitar a súbita felicidade que me invadiu — mas eu discordo — disse ele simplesmente, acabando com toda a minha felicidade e antes que eu pudesse protestar ele prosseguiu — e como muitos discordam eu vou te dar uma chance, nós vamos lutar, os dois, seriamente, ninguém pode interferir... — ele mudou o tom para uma advertência e olhou os demais na casa — se você ganhar de mim, seu treinamento acaba hoje e começaremos os preparativos para sua missão.

— e se eu perder? — perguntei com a boca seca, todo esse tempo que Charles tinha me ensinado, mas ele nunca me pareceu realmente sério, se ele fosse lutar como disse, eu realmente estaria em sérios problemas.

— Bem... — ele cruzou as pernas e sorriu — você vai treinar até eu achar que está preparada, mais arduamente, claro, afinal precisamos priorizar os resultados para que você possa estar logo na ativa — senti um calafrio em ouvir a palavra "arduamente", sabia que todo aquele treinamento podia ficar pior e isso estava na lista de meus piores pesadelos — então já sabe, não é? Nos vemos em uma hora para você se preparar, pode pedir a ajuda que quiser nesse tempo.


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Guerras dos Magos Mestiços I - PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora