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Eu levantei incrivelmente cansada.

Ou melhor, eu nem mesmo tinha dormido, não me acostumaria tão cedo com aquele lugar.

— você... Parece péssima — disse Natsume quando me encontrou no corredor do segundo andar do chalé.

A aquela casa era maior do que parecia, com 4 quartos no andar de cima e acomodações para até 6 pessoas, já a parte de baixo era um misto de cozinha com sala que deixava o lugar maior e com maior aproveitamento de espaço.

— quando eu finalmente consegui dormir tive um sonho muito estranho — contei para ela enquanto descíamos as escadas para a cozinha para o desjejum — eu estava numa corrida muito louca... E eu dirigia um daqueles carros que aparecem em filmes de corridas até a morte ou em filmes de apocalipses... Sabe? Daqueles cheios de correntes que quase servem de tanque para o exército? E eu andava na areia... Mas tinham umas pistas e tuneis... — eu olhei para ela, ainda estava meio grogue de sono, mas aparentemente Natsume estava acompanhando, pois assentiu — então... Eu só sabia que tinha uma missão: derrotar Satã... — minha língua estava grossa e vi quando a garota japonesa riu — ... Você não ouviu o pior ainda — eu olhei para ela bocejando — para chegar em Satã, primeiro, eu tinha que derrotar o Satã júnior.

— Satã... Júnior? ... — Repetiu Natsume rindo de minha imaginação fértil.

— pois é... Ele tinha uns poderes estranhos... Dá para comparar com alguns personagens de uns desenhos que vi — eu continuei falando enquanto coçava os olhos, achando o caminho para a cozinha por puro instinto... E não me surpreendi quando acertei a quina de uma bancada.

— e? Você ganhou do júnior? — uma voz masculina disse vindo da cozinha, eu praguejei quando senti o cheiro conhecido de omelete.

— não lembro — disse para Ciel, de mal humorada — o que você está fazendo?

— o que você acha que estou fazendo? — ele me mostrou ironicamente a frigideira que segurava — até onde eu sei, você ainda não é capaz de cozinhar algo decente sozinha.

— consigo sim! — senti meu rosto enrubescer — ou quase... — completei baixinho — e como você entrou aqui? — perguntei.

— pergunte para ela — Ciel apontou Yukihime que estava sentada numa cadeira próxima a uma das bancadas.

— ele disse para deixa-lo entrar, que ia fazer comida para nós — ela explicou.

— e você simplesmente o deixou entrar? — perguntei sarcástica.

— ... É — ela respondeu simplesmente — não duvido que ele arrombaria a porta se não deixasse, e além disso eu não sou boa cozinheira, se alguém se oferece... Porque não aproveitar? — ela deu de ombros, eu fuzilei-a com os olhos, mas ela apenas me deu um de seus sorrisos glaciais.

— pelo menos vamos ter comida quente — disse Natsume — sempre Yukihime faz, fica frio — elo sorriu para mim e eu suspirei, vencida. Não poderia discutir com aquelas duas, eu tinha um coração muito mole.

Sentei, com sentimento de derrota ainda me aborrecendo, mas logo se dissipando quando o prato de ovos mexidos. Não podia negar, Ciel era ótimo cozinheiro e por alguma razão aquilo me irritava profundamente, por minha própria debilidade na cozinha.

— é ótimo ver que todos estão se dando bem! — eu pulei de surpresa quando Charles se materializou atrás de mim.

— o que? ... — eu me afoguei com a comida enquanto tentava me recuperar do susto — como você entrou aqui? — perguntei com a minha voz subindo pelo menos sete oitavos.

— não sabia? Pessoas importantes tem uma chave mestra — ele piscou para mim e me mostrou um conjunto de chaves, e escondeu tão rapidamente quanto mostrou.

— ok "pessoa importante" — eu fiz aspas com os dedos — e o que você está fazendo aqui? Ou invadir casas de garotas e seu hobby?

— eu concordo — disse Ciel — não se invade casas assim.

— olha quem fala — eu falei ríspida.

— me deixaram entrar — ele respondeu — é diferente.

— eu vim para falar com você — ele me respondeu, cortando a discussão momentânea entre eu e Ciel.

— comigo? — repeti — por que?

— não é meio obvio? Você concordou em nos ajudar, precisamos te preparar logo antes que você fique velha demais para isso — Charles respondeu.

— ah... Se pelo menos vocês me dissessem o que eu vou fazer quem sabe eu estaria pronta para esperar as coisas — eu disse mal humorada.

— bem... Acho que isso sobrou para mim não é? — ele suspirou — acho melhor irmos a outro lugar — ele olhou para meus companheiros.

— porque? — perguntou Natsume, olhou para Yukihime e falou com ela rapidamente em japonês, aparentemente, apesar de ela estar melhorando, quando ficava nervosa e precisava falar rápido ela ainda apelava a serva.

— Natsume perguntou o porquê não pode ser falado na nossa frente, vocês vão manda-la em algo perigoso? — Yukihime traduziu.

Charles fez uma pausa longa demais, como se o tivessem pego na mentira.

— não! Claro que não a mandaríamos para nenhum lugar perigoso... — ele disse, mas sua voz não inspirava nenhuma confiança — só não queremos que a opinião dela seja influenciada por vocês — sua desculpa era plausível, mas como já dito não inspirava nenhuma confiança — e então? Vamos? — ele colocou uma mão em minhas costas e começou a me empurrar em direção a porta.

Num movimento surpreendente Ciel segurou o braço de Charles o detendo.

— onde você acha que vai leva-la nessas condições? — Ciel rosnou e então me dei conta que eu não tinha comido nada e ainda estava com um pijama curto e descabelada.

— qual o problema? Ela fica bem assim — disse Charles sorrindo e eu não sabia se agradecia ou lhe dava um soco.

Eu desviei das mãos de Charles e me coloquei em direção as escadas.

— Ciel está certo — eu disse — não vou a lugar nenhum assim, espere uns cinco minutos ai, sim? — eu disse a ele, mas Charles não me pareceu muito contente com a ideia.

Ignorei completamente a insatisfação de Charles e comecei a subir os degraus, atrás de mim Ciel se aprontava para me seguir.

— o que você acha que está fazendo? — eu perguntei a ele com uma sobrancelha levantada e antes que ele pudesse dizer qualquer coisa eu o interrompi — você — apontei para homem-lobo — senta — mandei — fica.

E ignorando completamente a indignação de Ciel terminei o caminho para o meu quarto. Talvez meu humor tivesse melhorado um pouco.

Guerras dos Magos Mestiços I - PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora