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Já tinham se passado dias os suficiente para que eu me esquecesse de minha promessa fútil e inútil.

Eu tinha me adaptado maravilhosamente a minha nova vida e me dava brilhantemente bem com todo mundo daquele lugar. Ou quase todo mundo.

Natsume, Yukihime e Iana se revelaram presenças reconfortante e constantes, ela garotas legais e simples, Ciel e Eliot pareciam um pouco menos com criancinhas carentes a procura de atenção da mãe, Arthur ainda era resguardado, mas isso não me impedia de fazê-lo conversar comigo e até mesmo de força-lo a interagir com as outras pessoas, Taú era, assim como Iana, também uma alma gentil, mas tinha um senso de lealdade que eu nunca tinha visto antes... Pelo menos em uma pessoa comum.

As únicas pessoas com quem minha relação era estranha era o trio Blake, Sasha e Toru.

Blake era da gentileza forçada e cavalheiresca de sempre e agora isso começava a me parecer medonho. Ele era o garoto bonito, popular e bom em tudo na escola, mas aqui era ele quem administrava aquele lugar, ele agora tinha um ar adulto que me parecia forçado e não quis mais topar com ele novamente, possivelmente aquela pose se salvador que eu esculpira antes, era apenas fruto de minha imaginação fértil, confusa e emocionada.

Sasha parecia me odiar, talvez fosse porque eu amacei seus papeis a dias atrás, mas ela agora sua amabilidade era gélida e ao mesmo tempo que parecia querer ajudar eu me sentia enxotada.

Já Toru... Ele era um babaca por natureza... Ele era o mais novo dos servos que existiam naquele lugar, ele era convencido e era orgulhoso de mais, ele odiava todo mundo a não ser ele mesmo e Blake, que por acaso só o mantinha em controle por conseguir inflar seu ego a um ponto que eu achava irritante, de todas as formas, podia-se dizer simplesmente que ele estava na puberdade.

Eu já não odiava aquele lugar, de certa forma era divertido e tranquilo e eu quase esqueci que queria ir para casa.

Quase.

Estávamos todos juntos quando o primeiro deles apareceu, um homem de estatura média, moreno e de olhos verdes e com uma barba aparada impecavelmente, vestia uma calça jeans surrada e uma camiseta com um colete de couro por cima.

— crianças! Cheguei! — ele se anunciou.

Todos ficaram calados quando aquele homem entrou, provavelmente eu a mais atônita.

Blake se levantou num salto.

— Charles! O que você está fazendo aqui? — Blake parecia estranhamente sobressaltado — achei que não viriam antes da semana que vem.

— viemos um pouquinho antes — o homem chamado Charles disse — queríamos fazer uma surpresa — ele sorriu.

Blake pareceu preocupado, olhou para Arthur que apenas deu de ombros, Sasha se levantou prontamente também e ambos saíram.

— hum — eu me aproximei de Yukihime que estava sentada ao meu lado e sussurrei — desculpe a ignorância... Mas quem é esse cara?

— Charles o'maley, ele ser o guarda costas do pai de Blake — ela me respondeu.

— então ele é um servo? — perguntei novamente.

— não... É um bruxo, mas é bem forte fisicamente... Ele ser... Acho que é setímano, mas só tem mais um par de braços a mais, não cem, mas é forte o suficiente como se tivesse cem — ela respondeu vagarosamente.

— garotas! — ele se aproximou de nós, e eu pude notar que ele era bem jovem — é feio ficar falando dos outros pelas costas.

— quem disse que falávamos de você? — perguntei a ele petulantemente, Ciel que se sentava na minha frente quase se engasgou rindo quando foi tomar sua bebida.

Charles coçou a barba num gesto pensativo e depois sorriu.

— corajosa... Gostei de você — ele disse — mas você é a garota nova não é? Precisa aprender um pouco mais sobre quem é perigoso aqui.

— Charles — alguém chamou o homem que parecia querer puxar briga — pare de tentar puxar briga com os novos integrantes da casa.

Mais duas pessoas entraram na sala, o homem que tinha falado, um homem que parecia estar começando a virar um senhor, cabelos castanhos que começavam a se tornar brancos nas laterais e olhos que me pareciam familiares. Ele vestia um terno preto risca giz, como um executivo, mas por cima usava um sobretudo escuro de aparência cara, tinha o rosto perfeitamente barbeado e exibia o queixo quadrado com imponência, assim como sua presença era forte.

Ao seu lado estava um mulher. Ela tinha cabelos negros e olhos azuis gelo, e uma pele pálida que parecia ter sombras mais escuras que marrom, ela vestia-se quase de forma simples, uma camisa de seda marrom e calças sociais e os cabelos impecavelmente presos aos lados da cabeça, ela pareceria apenas a secretaria de um magnata se não fosse pelas pontas dos chifres que saiam do enrolado de cabelo. Se bem que ela ainda parecia uma secretaria... Uma secretaria exótica de gostos estranhos... Provavelmente de uma empresa alternativa, mas ainda uma secretaria.

— sim, chefe! — Charles falou e se afastou de nós, em suas costas eu pude ver que ele carregava quatro bastões de metal, mais curtos que os bastões de basebol que se viam por ai e também mais arrojados.

Se Charles o chamava de chefe, aquele que eu tinha julgado como um magnata era o pai de Blake, por isso os olhos me pareciam familiares, eram iguais aos do filho, mas sua postura era diferente, minha opinião tinha mudado sobre o Blake-filho, sua amabilidade agora eu achava falsa, mas o Blake-pai parecia apenas rígido aos meus olhos.

— Carla e Charles, vejam se todas as medidas de segurança foram tomadas sim? Não temos muito tempo para revisar tudo... Ficaremos apenas alguns dias, então conto com vocês — ambos acenaram e saíram pela porta de entrada, notei que todos, e não apenas

eu, olhavam embasbacados para aquele senhor que começava a andar em direção a nossa mesa — você deve ser a garota nova não e? — ele me perguntou, e tudo que pude fazer foi confirmar com a cabeça, por algum motivo, quando ele se aproximava podia-se sentir uma impressionante e poderosa força esmagadora vindo dele — seja bem vinda — ele quase sorriu — sou Dominik, pai de Blake, e supervisor desta casa, qualquer coisa você pode falar comigo se algo a incomodar — ele começou a se retirar mas se deteve — ah! E me desculpe pelo meu guarda-costas, ele não teve uma criação muito oportuna.

Dito isso Dominik saiu e deixou um silencio meio atônito para trás, todos do recinto finalmente pareceram poder respirar.

— o que...? — eu nem mesmo precisei perguntar, Taú já balançava a cabeça em aprovação por aquele homem.

— é um homem forte — ele cruzou os braços e percebi que ele e referia, não apenas a condição física e mental daquele homem, mas também a aquela estranha pressão que tinha sentido a pouco tempo — impressionante a forma como ele pode facilmente esconder e revelar sua presença.

Eu estava perplexa, aquilo era realmente o que significava "sentir" a presença magica de alguém?

Eu realmente estava começando a ficar acomodada demais. Eu realmente não sabia nada sobre aquele novo mundo e nos últimos dias eu nem mesmo tinha procurado saber.

Eu odiava. Odiava a impotência que eu sentia naquele momento, odiava ser inútil e só pode aceitar tudo que estava me sendo imposto e odiava não poder mais viver tranquilamente como antes.

Guerras dos Magos Mestiços I - PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora