—Eu acho melhor você não ir. Robert já está a caminho, vamos eu e ele. Você fica aqui e cuida de tudo.—Repete Nate.
—Você realmente vai me privar de encontrar minha irmã?—Digo indignada com sua suposta ordem.
—Linda, presta atenção, eu vou estar te privando do trabalho que isso vai dar. Você já está com tanta coisa na cabeça, mais uma só iria te trazer mais preocupação. —Diz ele com as duas mãos no meu rosto.
—Mais preocupação? Analisa direito a situação que estamos—Tiro suas mãos do meu rosto. Vou até o balcão e pego a bandeja de comida, em seguida sigo ao porão.
Eu não paro de pensar, quais palavras usar? Eu não sei como irei me sentir ao ver, uma irmã, que nem mesmo sabia que existia...
—É um vício, ou você só gosta de me privar da minha família?—Digo a Mary, entregando-a a bandeja.
—Qual família?—Ela diz, num tom arrogante e sarcástico ao mesmo tempo.
—A qual Deus deveria estar de muito mal humor pra formar.
—É algum tipo de piada? Você não teve família menina.
—Por que você acha que família deve ser formada por uma mãe, um pai e seus filhos?—Digo cruzando os braços.
—Porque esse é o conceito de família. Não é? O que você considera como família?—Diz ela, ao me encarar.
—Uma família não é constituída por laços sanguíneos. E sim por afeto, e criação. Meu sangue é o mesmo que o seu, mas eu te considero como nada.—Respiro fundo, ao perceber que as lágrimas escorrem no meu rosto.— Família pra mim sempre foi as pessoas que me criaram, e me deram o privilégio de ser amada, e acolhida.
—Quem foram essas pessoas que te criaram? Seu pai?—Ela diz, levantando as sobrancelhas.
—Minha família é meu pai. É o Robert. É o Bobby e sua esposa, que foram como anjos na minha vida. E agora, Nate. Então não seja estúpida ao dizer que família é um conceito.
Eu tenho uma família, que é construída por amor, carinho e proteção. Ajudamos uns aos outros. Cuidado uns dos outros.—Digo ao limpar minhas lágrimas.—Ouve um erro na sua fala. Seu pai não é sua família, ele foi. Aprenda usar o verbo no passado desde já, minha querida.—Diz ela ao tentar se esticar.
Um ódio indescritível sobe em mim, e eu o solto junto com o tapa que dou em seu rosto.
—Realmente ouve um erro na minha fala. Eu esqueci de mencionar uma pessoa. Minha irmã, que diferente de você, eu a considero da família. —Digo após o tapa.—Ah, alguém já te disse o quão você é vaca?.
Me viro com a intenção de subir as escadas, quando meus passos são interrompidos por suas falas:
—Eu só sigo conceitos.
—Ah, por Deus, não seja hipócrita.
Subo as escadas atordoada. O que ela disse foi baixo demais, até pra ela...
***
Robert está conversando com Nate, mas ignoro a conversa após ver, sobre a mesa, um vaso preto, escrito "Em memória de Charlie Carter". Meu Deus, essas são as cinzas do meu pai.
Vou até a mesa, e com todo carinho do mundo, eu dou um beijo no vaso. E novamente, lágrimas vem a tona.
Falo baixinho para o vaso que contém as cinzas de meu pai.—Já fazem alguns dias desde que você se foi. A ficha não cai, muitas vezes encosto na parede fria do banheiro e me pergunto "por que?", fico a pensar e todas as vezes, não chego a conclusão alguma. Sei que não imaginamos que seria assim, dessa maneira, nós não planejamos isso, ninguém podia prever. Penso que a qualquer momento você vai voltar. Ninguém sabe como eu to me sentindo. Minha vontade é de gritar no silêncio. Ultimamente nem o silêncio me conforta. Você nunca vai voltar, e ter consciência disso dói demais que chega a transbordar.
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Prazer, Alicia Carter
De TodoAlicia é uma mulher de 21 anos que tem uma vida bem agitada. Seu pai é caçador de recompensas, sua mãe desapareceu quando ela tinha apenas 13 anos. Com 16 anos decidiu seguir os passos do pai, quando em uma dessa desventuras ela encara um caso nada...